Eletromobilidade

EXCLUSIVO: Um ano depois de apresentação de 50 ônibus elétricos da nova geração, cidade de São Paulo só alcança 8% da meta de eletrificação da frota. São 207 de 2,6 mil prometidos 2s146x

Ricardo Nunes em 18 de setembro de 2023 durante apresentação de 50 ônibus elétricos

Principal entrave é falta de infraestrutura na rede de distribuição e para recarga de baterias. Segundo SPTrans, ônibus elétrico poupa a atmosfera de 37 mil toneladas de CO2 (dióxido de carbono) por ano, o que seria vantajoso em época de poluição extrema

ADAMO BAZANI

MATÉRIA ORIGINALMENTE PUBLICADA ÀS 06H09 DE SEXTA-FEIRA, 13 DE SETEMBRO DE 2024 

No dia 18 de setembro de 2023, sob um sol quente e uma manhã poluída, em frente ao estádio municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, na zona Oeste da capital paulista, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, participava da cerimônia de apresentação de 50 ônibus 100% elétricos a bateria para o sistema de linhas municipais, gerenciado pela SPTrans (São Paulo Transporte).

Como mostrou o Diário do Transporte, na ocasião, Nunes reafirmou a meta de 2021 de que até o fim de 2024, a cidade teria 2,6 mil ônibus elétricos em operação, o que corresponde a aproximadamente 20% de toda a frota de cerca de 13 mil coletivos. No dia, o prefeito havia dito que já até o fim de 2023, seriam 600 elétricos. Nunes também criticou o sistema de trólebus (ônibus elétricos que dependem da fiação aérea para circular) e disse que estes veículos atrapalham os projetos de aterramento da fiação e que a manutenção da rede aérea custa R$ 30 milhões por ano.

Relembre:

/2023/09/19/ouca-subsidios-vao-aumentar-com-onibus-eletricos-e-nunes-confirma-que-quer-fim-gradativo-de-trolebus/

ando praticamente um ano da cerimônia, tudo avançou muito abaixo do que anunciado.

De acordo com balanço da SPTrans, enviado ao Diário do Transporte após pedido da reportagem nesta quinta-feira, 12 de setembro de 2024, estão cadastrados para operar na cidade apenas 207 ônibus elétricos a bateria, o que corresponde a 7,96% dos 2,6 mil coletivos não poluentes prometidos. Se for contabilizada a frota dos 201 trólebus, que também não emitem poluição nas operações, são 408 veículos, o que significa 15,69% da meta de 2,6 mil ônibus não poluentes.

Uma frota maior de ônibus elétricos poderia contribuir para a redução da poluição, um dos principais problemas vividos pelo paulistano nesta onda de calor e tempo seco.

De acordo com dados da própria SPTrans, ainda em resposta ao Diário do Transporte, cada ônibus elétrico poupa a atmosfera, por ano, em média, de 88 toneladas de NOx (óxidos de nitrogênio); 1 tonelada de MP (material particulado) e 37 mil toneladas de CO2 (dióxido de carbono).

O principal, porém não o único, entrave para a expansão da frota é falta de infraestrutura na rede de distribuição e para recarga de baterias.

Estudos da ANTP (Associação Nacional de Transporte Público) mostram que, se a rede de distribuição for de baixa tensão, a recarga simultânea de 50 ônibus elétricos pode derrubar a energia de casas, comércios e hospitais dos bairros das garagens. O levantamento indica que são necessárias redes de média e alta tensão e com subestações nas garagens iguais as que têm no Metrô.

Mas o problema não é apenas a infraestrutura insuficiente.

Faltam modelos de ônibus homologados. Estão aprovados pela SPTrans para rodar em São Paulo, veículos do tipo padron de 12,1m a 15m. Mas não há articulados e superarticulados, de 18m a 23m liberados ainda, bem como também não estão ainda credenciados modelos de micro-ônibus e de mídis (micrões) de 6m a 11,5m.

O problema é que desde 17 de outubro de 2022, as empresas não podem comprar ônibus a diesel. A frota está envelhecendo e a SPTrans autorizou que os atuais ônibus tivessem a idade máxima prorrogada em dois anos sob a condição de as empresas encomendarem modelos elétricos na mesma quantidade que os que tiverem tempo de uso estendido.

Vale ressaltar que, mesmo depois de 2023, quando entrou em vigor uma nova tecnologia de coletivos a combustão, conhecida como Euro 6, foram inseridas centenas de veículos a óleo diesel no sistema. A SPTrans diz que isso se deve a entregas de encomendas que ocorreram antes de 17 de outubro de 2022. Mas a nova tecnologia só começou a vigorar em 2023.

Os ônibus a diesel Euro 6 poluem 75% menos que os de tecnologia Euro 5 (a maior parte que roda na cidade), o que faz especialistas questionarem se a proibição total da compra de veículos a diesel sem a infraestrutura adequada e sem todos os tipos de ônibus a bateria produzidos em larga escala foi mesmo a melhor medida ou se seria mais prudente ir restringindo o diesel na medida em que a infraestrutura avançasse e os modelos elétricos fossem aprovados.

Sobre o avanço da quantidade de ônibus e das condições para a operação, ainda ao Diário do Transporte, a SPTrans diz que segue cobrando de “todos os envolvidos a conclusão da implantação da infraestrutura necessária para a eletrificação da frota”

Ainda de acordo com a gerenciadora dos transportes da cidade, as empresas de ônibus “estão firmando contratos para as entregas de veículos movidos à energia limpa bem como para a implantação de infraestrutura de carregamento nas suas respectivas garagens”.

Veja a resposta na íntegra:

São Paulo é a cidade com a maior frota elétrica de coletivos do país. Atualmente, 408 veículos movidos a energia elétrica compõem a frota do sistema de transporte coletivo, dos quais 201 são trólebus e 207 a bateria. A meta da gestão é ter 20% dos modelos movidos à energia limpa.

Desde setembro de 2023, foram incluídos 190 veículos movidos a bateria. Os veículos são cadastrados junto à SPTrans caso a garagem esteja apta a operar aquela frota. Assim, não há impedimento ou limite para a frota existente e os 207 estão aptos a operar na cidade de São Paulo.

As concessionárias estão firmando contratos para as entregas de veículos movidos à energia limpa bem como para a implantação de infraestrutura de carregamento nas suas respectivas garagens, uma vez que são responsáveis por fazer os investimentos necessários.

Os fornecedores de infraestrutura são escolhidos diretamente pelas concessionárias, e a SPTrans segue cobrando de todos os envolvidos a conclusão da implantação da infraestrutura necessária para a eletrificação da frota, que trará importantes benefícios à população, contribuindo para a redução de poluentes e de gases causadores do efeito estufa.

Os veículos movidos a tração elétrica deixam de emitir, anualmente, em média, 88 toneladas de NOx (óxidos de nitrogênio); 1 tonelada de MP (material particulado) e 37 mil toneladas de CO2 (dióxido de carbono).

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários 72495v

  1. Gimmy disse:

    Parabéns Diário do Transporte pela matéria, vocês mencionam pela primeira vez algo que já sabemos no tocante ao atraso em cumprir a meta, a Prefeitura justifica a falta de infraestrutura da rede elétrica, mas nunca foi isso, tão somente, a questão principal é muito mais profunda, é sim o fato de não ter ônibus elétrico disponível das empresas que fornecem pra São Paulo por décadas…
    A SPTrans impõe restrições a novas fabricantes. Ela protege as de sempre, como a Eletra, a Mercedes, a Caio e não permiti as que efetivemente tem capacidade de entrega e com tecnologia de ponta adentrarem o mercado de São Paulo de forma alguma, só não se sabe por quê né? #sqn#
    O mercado fica fechado para empresas novas, com tecnologia avançada em seus veículos que rodam o mundo, enquanto isso a cidade aqui não evolui por conta de interesses escusos.
    Quem sofre é o povo!

  2. L. Francis disse:

    Eu entendi que o entrevistado foi o prefeito e que a matéria traz críticas bem fundamentadas, Melhor que só colocar um ônibus elétrico na capa
    (seria um sonho de leitor )

  3. Rodrigo Zika disse:

    Resumindo, não vai cumprir nada e se outro for eleito a vagareza não mudará.

  4. Santiago disse:

    A questão não é somente a infraestrutura de recarga. A própria rede elétrica de São Paulo não a o “trânsito” extra da energia necessária pra se abastecer diariamente uma imensa frota de ônibus elétricos. Sendo que uma eventual readequacao da rede seria demorada e a custos proibitivos (a serem cobrados em nossas contas de luz).
    É muita eletricidade que um veículo desses precisa armazenar em suas baterias, pra rodar o dia inteiro – são pelo menos 15 toneladas de PBT (2/3 disso sendo peso vazio, por conta dos pesados packs de baterias) – não estamos falando de chuveiros elétricos e nem de torradeiras.
    E não é só! De onde e como vamos gerar energia elétrica extra, e limpa, pra se abastecer tantos veiculos elétricos à bateria??? O nosso parque hidroelétrico já está no limite, e com baixo potencial de expansão devido à crise climática (sim, ela existe e está acontecendo)!. Energia eólica e solar??? Ambas já se aproximam da demanda plena, e começam a enfrentar limites na expansão das suas infraestruturas!
    Daí ser muito mais inteligente investir principalmente nas Tecnolgias Híbridas, que já existem e são comercialmente e plenamente viáveis. Podendo operar com diferentes tipos de combustíveis, na geração da eletricidade pelo proprio veiculo. Alem de contar com um grande potencial de aperfeiçoamento tecnológico futuro. É a melhor e a mais inteligente tecnologia pra se iniciar uma verdadeira transição energética.

    1. laurindojunqueira disse:

      Enfim, um comentário interessante do Santiago! Ouçamo-lo mais vezes!

  5. Paulo disse:

    Um dos principais fatores é a empresa ENEL, que não atende os clientes com a devida atenção. Hoje temos ônibus parados infraestrutura pronta e a ENEL, por questões burocráticas não libera a energia. Ninguém consegue falar com os órgãos da empresa.

  6. Mario Aquino disse:

    Prioridade é dar lucro a empresários, bom atendimento a população é só um detalhe.

  7. Roberto Zulkiewicz disse:

    O ônibus elétrico a baterias é muito melhor do que os trolleybus, que só atravancam a cidade quando cai a rede e as alavancas.
    O problema atual, é a falta de estrutura nas garagens para a recarga e a disponibilização de energia suficiente para recarregar uma frota de centenas de ônibus. Esse processo envolve empresários, Enel, fabricantes de baterias, fabricantes de chassis e fabricantes de carrocerias. Alinhar tudo isso não é rapido simples.
    Um abraço ao amigo Adamo Bazani.
    Roberto Zulkiewicz

  8. Sergio Casagrande disse:

    Não estão se esquecendo de nada. De onde vão tirar energia para carregar tanto ônibus e carros elétrico. O governo já vai voltar com o horário verão e vam ligar as usinas termaeletrica isto é queimar petróleo para gerar energia suja

    1. Santiago disse:

      É que os ônibus elétricos à bateria são mais “bonitinhos” como vitrine eleitoreira, além de fazerem a festa dos fabricantes que os vendem a um preço exorbitante (e a Prefeitura lhes paga alegremente, com o nosso dinheiro).
      Um ralo por onde escorre bilhões de Reais, que poderiam estar sendo aplicados em soluções verdadeiras e muito mais inteligentes.
      Triste capítulo!

  9. J K disse:

    A solução está em trazer uns caras de olhos horizontais provenientes de uma nação que quase foi aniquilada por conta de um grupinho que só queria enviar ópio para a Asia mas encontrou pela frente um governante que ao invés de se associar à destruição protegeu seu povo do desastre ao perceber quanto nocivo o vicio e a dependência estavam sendo para a economia da nação. 1860 marcou o fim da guerra do opio. Hoje, 164 anos depois, vemos novamente a China em posiçao de destaque em varias áreas, sendo a eletrificação dos equipamentos industriais e a automatização das operações o segmento mais avançado.
    Tem que ser Chines pra conseguir atualizar as estruturas na velocidade das invenções. Nao foi fumand0 makonia na porta dos escritórios que eles chegaram a tal ponto.

  10. Reginaldo disse:

    Bom dia,
    Esses dados de poluição estão corretos?
    Cada ônibus gera 37 milhões de kg de CO2 por ano ?

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