Eletromobilidade

Brasil poderá ter VLTs e ônibus a hidrogênio operando ainda nesta década 3s5m6e

CCR estuda trens leves e, em São Paulo, EMTU e USP fazem estudo com hidrogênio obtido por meio do etanol; Especialistas acreditam que os ônibus e carros elétricos com a tecnologia que hoje se vê nas ruas, não são o futuro da mobilidade limpa

ADAMO BAZANI

Considerado o real futuro da mobilidade mais amigável ao meio ambiente, o hidrogênio poderá ser visto ainda nesta década movimentando trens e ônibus no Brasil, mesmo que de forma experimental, mas já com ageiros.

Os estudos estão sendo realizados tanto por órgãos públicos como pela iniciativa privada.

Recentemente, o Grupo CCR, gigante de concessões, anunciou que já estuda a implantação no Brasil de um sistema de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), conhecido como bonde moderno, movido a hidrogênio verde.

Em comunicado à imprensa, o presidente do Grupo CCR, Marcio Hannas, disse que a intenção é utilizar a fonte de energia produzida no Brasil.

“Nossa intenção é usar um hidrogênio verde feito no Brasil. Aqui temos as condições propícias para essa produção” – afirmou.

A concessionária conversa com produtores de trens na Ásia e na Europa para cooperações técnicas.

Uma destas companhias é a Hyundai Rotem, na Coréia do Sul.

O hidrogênio é considerado verde se sua fonte for renovável.

A convite da Mercedes-Benz, o Diário do Transporte esteve em outubro de 2023 na BusWorld, em Bruxelas, na Bélgica, considerada a maior feira de ônibus do mundo.

Foi possível perceber que a Europa está levando a sério o hidrogênio como alternativa aos atuais veículos elétricos que apresentam problemas como a baixa autonomia das baterias, o longo tempo de recarga (crucial em grandes frotas de ônibus) e o tamanho dos bancos de baterias que deixam carros, caminhões e ônibus pesados e caros demais.

A questão esbarra no alto custo da tecnologia e produção dos veículos.

Na feira, entretanto, o discurso foi quase unânime: os ônibus e carros elétricos com a tecnologia que hoje se vê nas ruas, não são o futuro da mobilidade limpa.

Relembre:

/2023/10/12/diario-do-transporte-na-busworld-brasil-ainda-sofre-de-carencia-de-micro-onibus-eletricos-e-hidrogenio-como-alternativa-para-ampliar-a-autonomia-de-baterias/

No Brasil, os estudos para empregar hidrogênio em ônibus não são de agora.

Em 2009, por exemplo, começou a circular o primeiro coletivo a hidrogênio de forma experimental no Corredor ABD, que liga municípios do ABC Paulista à cidade de São Paulo.

Em 2015, vieram mais três ônibus. Todos foram encostados por questões técnicas, financeiras e empresariais.

Mas os mesmos três ônibus de 2015 estão sendo revitalizados.

A proposta agora é que o hidrogênio seja obtido por meio do etanol.

Um destes ônibus dos testes de 2015 já está com a revitalização concluída e faz parte de um projeto anunciado em 10 de agosto de 2023, numa parceria entre a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), que gerencia o sistema intermunicipal e pertence ao Governo do Estado de São Paulo, a USP (Universidade de São Paulo) e empresas privadas.

Ao custo de R$ 182 milhões, a promessa é que seja concluída ainda neste ano de 2024, a construção de uma estação que terá a capacidade de produzir em torno de 5 kg por hora do hidrogênio a partir do etanol.

Além dos ônibus a hidrogênio que devem circular pelo Campus da USP, na região do Butantã, zona Oeste da capital paulista, o projeto conta com um carro da Toyota que também participa do projeto, juntamente com a Shell, Raízen, Senai e Hytron.

A certeza dos especialistas é que, sem desprezar outras formas de combustíveis limpos, se o Brasil quer pensar em mobilidade com menos impactos ambientais, deve considerar seriamente ampliar os estudos sobre hidrogênio.

HISTÓRICO – O HIDROGÊNIO EM ÔNIBUS NO BRASIL:

Foram apresentados em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, entre 2009 e 2015, quatro ônibus a hidrogênio, que chegaram a circular pelo Corredor Metropolitano ABD, entre a região do ABC e a capital.

O programa de ônibus a hidrogênio foi criado ainda em 1993, com participação do Ministério das Minas e Energia e recursos do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).

Os veículos estão parados na garagem da concessionária NEXT Mobilidade, na área correspondente ao projeto de hidrogênio da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), gerenciadora, sem continuidade dos estudos.

O projeto Ônibus movido a Célula de Hidrogênio tinha vigência inicial até 31 de março de 2016 e os três veículos mais novos circularam no Corredor ABD até início de junho de 2016.

Na ocasião, a EMTU foi designada para ser a Coordenadora Nacional do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, que entrou com o apoio financeiro do Global Environmental Facility (GEF), além de recursos provenientes da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), por intermédio do MME. Para o desenvolvimento de todo o projeto foram destinados US$ 16 milhões.

Relembre:

/2017/02/23/emtu-diz-que-projeto-de-onibus-a-hidrogenio-e-vitorioso-e-fala-do-gas-natural/

O primeiro ônibus foi apresentado em 2009 e chegou a transportar ageiros em 2010, como também mostrou o Diário do Transporte na ocasião.

Relembre:

/2010/12/20/onibus-a-hidrogenio-comeca-a-rodar-com-ageiros/

O Diário do Transporte cobriu também a apresentação dos outros três ônibus.

Os veículos foram mostrados em uma cerimônia no dia 15 de junho de 2015, às 10 horas, na época da gestão de Geraldo Alckmin frente ao Governo de São Paulo.

Relembre:

/2015/06/15/emtu-apresenta-mais-tres-onibus-a-hidrogenio-no-abc-paulista/

A reportagem acompanhou as fases de testes.

Relembre:

/2016/03/07/testes-com-ageiros-nos-onibus-a-hidrogenio-do-corredor-abd-vao-ate-o-dia-31-de-marco/

No dia 10 de agosto de 2023, a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) e a USP (Universidade de São Paulo) anunciaram o início de um projeto com ônibus movidos à hidrogênio e a construção de uma estação para ter capacidade de produzir em torno de 5 kg do combustível por hora.

O hidrogênio é obtido a partir do etanol.

O projeto custou em torno de R$ 182 milhões. A estação conta com edifício, instalações e equipamentos.

As células a combustível produzidas pela estação geram eletricidade internamente a partir do hidrogênio.

Os testes envolveram três ônibus, que circularão pelo Campus da USP, na região do Butantã, zona Oeste da capital paulista, e um carro da Toyota que também participa do projeto, juntamente com a Shell, Raízen, Senai e Hytron.

Os ônibus já circularam pelo Corredor Metropolitano ABD, num projeto que não avançou, e foram reformados pela encarroçadora Marcopolo, por meio de um contrato de R$ 671 mil (R$ 671.624,79), como mostrou o Diário do Transporte no dia 11 de abril de 2023.

Relembre:

/2023/04/11/marcopolo-assina-convenio-com-a-usp-e-vai-atualizar-carroceria-em-projeto-de-onibus-a-hidrogenio-obtido-do-etanol/

O governador Tarcísio de Freitas disse, em nota, que devem ser criadas leis e alterada a legislação atual para incentivar a produção de hidrogênio como combustível.

“Vamos estruturar a legislação, marcos regulatórios e fomentar essa produção para que a gente ganhe escala e São Paulo, de fato, seja líder na transição energética que vai diminuir nossa pegada de carbono e dar exemplo de sustentabilidade e economia circular. Estou muito feliz de ser testemunha do esforço, do talento e da criatividade do nosso pesquisador brasileiro, do nosso pesquisador paulista”

Etanol e Hidrogênio:

A USP, o Senai e as empresas Shell Brasil, Raízen e Hytron am em 1º de setembro de 2022, um acordo de cooperação para o desenvolvimento de duas plantas de produção de hidrogênio renovável a partir do etanol.

Serão construídas duas plantas dedicadas à tecnologia de produção de hidrogênio a partir do etanol, uma com capacidade para produzir 5 kg/h de hidrogênio e a outra quase 10 vezes maior, com capacidade de 44,5 kg/h.

Segundo a Universidade, o acordo também contempla a construção de uma estação de abastecimento veicular para os ônibus que circulam pela Cidade Universitária, em São Paulo. Com início da operação previsto para o segundo semestre 2023, a estação será um dos primeiros postos a hidrogênio do mundo, diz a USP.

O modelo utilizar hidrogênio produzido a partir do etanol e motores equipados com células a combustível (fuell cell). A iniciativa surge como uma solução de baixo carbono para o transporte pesado, incluindo caminhões e ônibus.

A tecnologia será desenvolvida e fabricada pela Hytron, do grupo alemão Neuman & Esser (NEA), com e do Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras do Senai Cetiqt.

A Marcopolo foi escolhida para atualizar a carroceria do ônibus movido a hidrogênio obtido do etanol no projeto entre a USP, Raízen e Shell.

Convênio no valor de R$ 671 mil (R$ 671.624,79) entre a encarroçadora e a USP – Universidade de São Paulo (USP/EP, Unidade EMBRAPII Poli USP Powertrain) foi publicado em Diário Oficial do Estado de São Paulo de 11 de abril de 2023.

A ocorreu um dia antes com validade por 12 meses.

O documento prevê a reforma de inicialmente um dos três ônibus modelo Viale a hidrogênio apresentados em 2015 em um projeto entre EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) e o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Se der certo, os outros dois ônibus devem ser reformados.

No projeto apresentado anteriormente no Corredor ABD, os veículos dependiam do hidrogênio obtido pelo processo denominado eletrólise que separa o hidrogênio da água.

Estudos iniciais da USP mostram que este procedimento, para a obtenção do combustível pode ser mais caro e mais poluente do que o hidrogênio a partir do etanol.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários 72495v

  1. D disse:

    Existe uma imprecisão na matéria. O Hidrogênio é considerado verde se for de uma fonte renovável e NÃO POLUENTE, como Hidrelétricas, Solar e Eólica. O H2 obtido pela QUEIMA de etanol NÃO é considerado Hidrogênio Verde, pois é responsável pela liberação de gases do efeito estufa.
    Se não me engano, este leva o nome de Hidrogênio Marrom.

    1. Jackson disse:

      O H2V de Etanol não é obtido através da queima dele, e sim por uma reação química chamada de reforma-vapor. Nesse processo, H2 é liberado.
      Não faz sentido queimar o etanol para obter H2: fosse por isso, seria melhor queimá-lo no motor de combustão mesmo, evitando assim uma etapa adicional de perda de eficiência.
      Dessa forma, o H2 de etanol é considerado verde sim, junto com o H2 obtido pela eletrólise da água. Mas tem prós e contras, como:

      – Prós: H2V de etanol, teoricamente é “mais verde” que o H2V de água, pois no ciclo de produção do etanol o dióxido de carbono é CAPTURADO da atmosfera (como, por exemplo, durante o crescimento da cana-de-açucar).
      – Contras: ao contrário da água, amplamente disponível nos oceanos, a produção do etanol usa grandes terrenos férteis, que poderiam ser utilizados para fins mais nobres (como plantações de alimentos para reduzir o déficit nutricional mundial).

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