ANIVERSÁRIO DE SÃO PAULO: O cruzamento da Ipiranga com a São João é bem Brasileiro 2h2e1g
Publicado em: 25 de janeiro de 2016 3a423t

O cruzamento da Ipiranga com São João mostra que os transportes sempre fizeram parte da paisagem da cidade. Bondes, ônibus urbanos e ônibus rodoviários se encontravam e ajudavam São Paulo crescer. Comunidade faz descrição de modelos – veja no texto
Na charmosa São Paulo dos anos de 1950, agência do Expresso Brasileiro, perto do encontro das avenidas, chegou a ser um dos pontos mais bem frequentados do centro da cidade
ADAMO BAZANI
A cidade de São Paulo, maior metrópole da América Latina, completa nesta segunda-feira, 25 de janeiro de 2016, 462 anos de fundação com muitas histórias de desbravadores, famosos ou não, verdadeiros guerreiros sem armas, que fizeram com que a cidade, apesar de todos os seus problemas, se tornasse este grande exemplo de luta, desenvolvimento e de acolhimento.
E é claro que entre estes soldados do crescimento estavam aqueles que atuaram no segmento de transportes de ageiros, seja como fundadores de empresas de ônibus, motoristas cobradores, funcionários de agências, maquinistas e foguistas de trem ou mesmo os usuários que pegavam o transporte público na cidade em busca de sonhos e realizações.
Um dos símbolos da cidade de São Paulo certamente é o cruzamento da Avenida Ipiranga com a São João, muito mais que pela música, que na verdade apenas tentou representar o lado ao mesmo tempo apaixonante e cinzento já da metrópole.
E este cruzamento é um dos pontos de encontro das histórias de São Paulo e dos transportes. Foi justamente na Avenida Ipiranga, número 885, bem perto da Avenida São João que funcionou nos anos de 1950, antes mesmo da rodoviária na Júlio Prestes, a agência da Expresso Brasileiro, empresa de ônibus marcante na história da capital, região metropolitana, interior do Estado, litoral e da rota Rio -São Paulo. O local era considerado um dos pontos mais bem frequentados da cidade na época.
Na época, outras empresas de ônibus rodoviários também paravam seus charmosos veículos ao longo da avenida Ipiranga.
A Comunidade do Facebook Expresso Brasileiro Histórico e o pesquisador Alberto Gomes do Valer compartilharam uma imagem que pode ser considerada um presente para a cidade, trazido agora pelo Blog Ponto de Ônibus.
A foto aérea mostra o cruzamento da Ipiranga com a São João e a descrição na comunidade cita os modelos dos ônibus e os trilhos dos bondes
“Centro de São Paulo nos anos 50. Esquina das avenidas São João (notam-se os trilhos dos bondes), com a Ipiranga onde se situava no número 885 a principal agência do Expresso Brasileiro. À esquerda pode ser visto um GM PDA-4101 (conhecido como “lagartão”), à direita 2 GM’s PD-2903 (faixinhas) e, na avenida São João, 1 GM PD-4102. E ainda, completando a lista pode ser observado 1 Mack-Caio da CMTC, bem ao lado do GM PDA-4101.”
Uma imagem divulgada pelo site “Quando a cidade era mais Gentil”, também aérea e colorida, a região, onde aparece perto da agência um GM PD 4102 da Expresso Brasileiro. Não se sabe o autor das fotos, mas segundo a publicação, provavelmente foi um turista norte-americano hospedado no famoso Hotel Excelsior que fez o registro. A suspeita é pelo fato de a foto, adquirida em um site de leilões, ter estado em Tulsa, no estado americano de Oklahoma.

Do charmoso Hotel Excelsior, era possível contemplar a cidade que crescia. Ônibus do Expresso Brasileiro coloriam de Verde e Amarelo a Avenida Ipiranga desde os anos de 1950. Empresa foi fundada em 1941
AVENIDA IPIRANGA – UM PONTO PARA O BRASIL:
Apesar de o Expresso Brasileiro ser um dos destaques de serviços nos anos 1950, outras empresas importantes também tinham agências na região central da capital paulista em especial na Avenida Ipiranga.
É o caso da Viação Cometa que, de acordo com anúncio de 1953, tinha um posto de venda de agens nas proximidades da avenida Campos Elíseos.

Quando os ônibus chegavam ou partiam, as calçadas da Avenida Ipiranga ficavam lotadas, já mostrando a necessidade de um terminal rodoviário como mostra a foto do Jornal Estado de São Paulo de 1959.
A Pássaro Marron, que, até os anos de 1950 também operava para o Rio de Janeiro, anunciava a agência no número 1129 da Avenida Ipiranga.
A localização na região central de São Paulo era estratégica para as empresas de ônibus, já que facilitava a vinda de ageiros oriundos de diversas partes da cidade, que depois iriam seguir viagem dentro do Estado de São Paulo ou para outros Estados.
De uma maneira geral, havia uma espécie de divisão informal entre as companhias. Os veículos com destino ao Vale do Paraíba saíam, em sua maioria até o final dos anos de 1950, da Avenida Rio Branco. Para o Litoral Paulista, alguns ageiros embarcaram na praça Clóvis Bevilacqua e para cidades do Nordeste, partiam ônibus de linhas regulares do Largo da Concórdia.

A facilidade de o para região central de São Paulo atraía as empresas de ônibus para instalar suas agências na região da Avenida Ipiranga e entorno. É o que mostram estes dois anúncios veiculados no jornal O Estado de São Paulo, da Pássaro Marron, em 20/04/1952, e da Cometa em 10/06/1953
Em 2012, o Blog Ponto de Ônibus exibiu uma matéria sobre a agência da Expresso Brasileiro na Avenida Ipiranga, que reapresentamos nesta edição especial de aniversário.
Muito mais que uma Sala Vip

Agência do Expresso Brasileiro na Avenida Ipiranga, no centro da cidade, na São Paulo elegante dos anos de 1950, oferecia muito mais que venda de agens. Com bares, restaurante, tabacaria, sala de cinema e até com uma inovadora TV, virou ponto de encontro e de eio. Foto/Acervo: Dalton Costa
Na elegante São Paulo dos anos de 1950, agência do Expresso Brasileiro na Avenida Ipiranga tinha até sala de cinema
ADAMO BAZANI
Hoje as “Salas Vip” das empresas de ônibus são uma tendência nos principais terminais rodoviários do País e uma forma encontrada pelas viações de atrair mais ageiros, muitos que haviam migrado para o setor aéreo.
Algumas salas são vip mesmo, com bebidas, internet grátis, totem de autoatendimento, TVs e painéis de informação. Outras não am na verdade de espaços delimitados por divisórias dentro das rodoviárias, quentes, com poltronas pouco confortáveis e cafezinho ou capuccino em pó e pagos à parte na máquina.
Mas antes mesmo de se tornarem moda, não exatamente com o nome Sala Vip, havia espaços de bem estar e convivência para ageiros de grandes empresas de ônibus.
E na elegante São Paulo dos anos de 1950, quando até o mais simples trabalhador se trajava de forma alinhada, um destes espaços chamava a atenção.
Era a agência do Expresso Brasileiro Viação Ltda, na Avenida Ipiranga, no centro da cidade. Criado em outubro de 1941 pelo empresário espanhol Manoel Diegues para fazer a ligação entre São Paulo e Santos, o Expresso Brasileiro, nos anos de 1950, começou a atender as linhas São Paulo – Ribeirão Preto, São Paulo – Lindoia, São Paulo – Poços de Caldas e São Paulo – Sorocaba, além de ter sido convidado, e aceito, para operar a disputada e rentável linha Rio – São Paulo.
Mas antes mesmo desta expansão, a agência esbanjava luxo e refletia uma época que o belo da cidade não necessariamente contrariava o seu crescimento e vice e versa. Infelizmente, com o ar do tempo, sinal de crescimento se tornou sinônimo de imagens como casas e prédios precários, favelas, lixo, ruas esburacadas, comércio ambulante descontrolado, prédios invadidos, etc.
O espaço foi inaugurado em 1º de agosto de 1951, no número 885 da Avenida Ipiranga, perto da Avenida São João.
O local tinha de tudo e não se limitava a vender agens de ônibus e ser uma área onde os ageiros embarcavam e desembarcaram. Os ônibus paravam ali e, mesmo com a frota de veículos de São Paulo já sendo uma das maiores do país, não atrapalhavam o trânsito. Não havia ainda a Rodoviária Júlio Prestes, inaugurada oficialmente em 25 de janeiro de 1961.
Na agência do Expresso Brasileiro era possível comprar agens ferroviárias, marítimas e aéreas.
Havia também tabacarias, lojas de doces, bar, restaurante, bares, barbeiro, salão de cabeleireiro, banca de jornal e revista, área de bem-estar e convivência e até exposição de materiais artísticos. Na parte de baixo, no subsolo, também havia uma TV, aparelho raro no Brasil, e uma sala de cinema com exibições gratuitas.

As agências das empresas de ônibus estimulavam o setor hoteleiro na região central. Site São Paulo Antiga relembra os Hotéis Britânia e Central, na Avenida São João. Destaque para o Bonde e um ônibus da CMTC com destino ao bairro da Pompéia.
O local, apesar de ser destinado às operações do Expresso Brasileiro, servia com o ponto de encontro e até eio na cidade, inclusive por quem não ia viajar. Muitos dizem que iam tomar um cafezinho na agência para ver o movimento de ida e chegada dos ageiros nos ônibus GM Coach que o EBVL possuía.
A iniciativa não poderia vir de outro empresário que não tivesse o empreendedorismo e visão de negócios do fundador da companhia, Manoel Diegues.
Ele sempre dizia que não queria apenas transportar pessoas, mas sim transportar bem.
E sabia que ônibus bons e horários cumpridos é o essencial que todo o ageiro quer, ainda hone. Mas, antes mesmo da moda de chamar ageiro de cliente, Manoel Diegues já tinha esse conceito e a noção de que para se destacar tinha de oferecer além do básico.
Também sabia que a empresa tem de se comunicar com o usuário. Hoje em dia, em plena era da internet, muitas companhias sequer têm sites ou quando possuem, servem apenas para vender agens, não apresentando sequer um conteúdo interessante. Nos anos de 1950, Diegues mandou o Expresso editar sua própria revista de bordo, “Viajando”, com circulação bimestral e tiragem de 20 mil unidades por edição. Os assuntos eram os mais variados e prendiam a atenção do ageiro.
Há quem diga que no afã de oferecer serviços diferenciados e de destacar o nome do Expresso, Manoel Diegues acabou exagerando em algumas decisões, como, por exemplo, patrocinar espetáculos artísticos e transportar gratuitamente para os shows das “Estrelas do Rádio”, em especial das Rádios Record, Gazeta e São Paulo.
No entanto, não foi isso que acabou prejudicando os planos de Manoel Diegues de crescer com sua empresa. As dificuldades de liberação na Alfândega dos ônibus importados dos Estados Unidos em 1956, para fazer frente à principal concorrente na linha Rio-São Paulo , Viação Cometa, que em 1954 havia recebido os Morubixaba – ônibus da GM, também dos Estados Unidos, acabaram sendo os fatores mais determinantes, entre outros, que impediram a manutenção do ritmo de crescimento do Expresso. Desanimado e em dificuldades financeiras, no início dos anos de 1960, Manoel Diegues vendera a empresa que foi, em sua época, reconhecida por ter sido a maior organização rodoviária da América Latina.
Mas deixou um legado e marcou uma nova fase de relacionamento entre empresas de ônibus e ageiros.
Este artigo teve como base dados da Junta Comercial de São Paulo, de sites especializados e no livro “Sonhos sobre Rodas”, de Antônio Rúbio de Barros Gômara e Nélio Lima, editado pela Abrati e “leitura obrigatória” de quem se interessa não só pela história dos transportes, mas do desenvolvimento de várias regiões do País.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
Amigos, bom dia.
Nao sou o aniversariante mas ganhei um presente.
Sensacionais as fotos e a materia, parabens.
Muito obrigado pelo compartilhamento das fotos.
Att,
Paulo Gil
Parabéns caro Adamo, sempre com bons textos que, complementado pelas fotos, nos fazem viajar pelo tempo e conhecer detalhes importantes da história.
Parabéns e obrigada por compartilhar