Prefeitura de Guarujá faz graves acusações contra a City Transporte em relatório oficial; confira na íntegra 1am61

Segundo poder público, além de violar lacres de catracas e desligar GPS, empresa de ônibus apresenta custos operacionais que são o dobro da média do mercado

ADAMO BAZANI

Colaborou Vinícius de Oliveira

A Prefeitura de Guarujá, no litoral de São Paulo, divulgou relatório pelo qual relaciona as supostas irregularidades cometidas pela City Transporte, operadora das linhas municipais de ônibus.

Como mostrou o Diário do Transporte, a companhia está sob intervenção do poder público desde o último dia 28 de março de 2025.

A istração do prefeito Farid Madid (Podemos) diz que há indícios de que a companhia inflou custos operacionais, aumentou a quantidade de funcionários e combustível consumido acima do necessário para justificar recebimentos de subsídios acima do que teria direito de fato.

De acordo com o documento, ao qual o Diário do Transporte teve o, a prefeitura alega que a City Transporte diz que tem um custo operacional mensal de R$ 16,1 milhões, o que seria o dobro que a média de mercado para empresas de ônibus deste porte e em sistemas de transportes semelhantes aos de Guarujá.

Além disso, ainda de acordo com o relatório, há indícios de que a City Transporte manipulou o número de ageiros, gerando uma diferença de quase 180 mil usuários. Em um único período, houve duas quantidades diferentes de ageiros transportados.

“Dois números distintos para o mesmo período, com uma diferença de 179.338 ageiros, o que indica possível manipulação de dados”. – diz trecho do relatório ao qual o Diário do Transporte teve o (veja na íntegra mais abaixo).

A City também foi acusada pela prefeitura de desligar de propósito o sistema de monitoramento dos ônibus (GPS) e descaracterizar a frota para dificultar as fiscalizações.

Ainda de acordo com a gestão municipal, a empresa de ônibus não realizou todos os investimentos previstos até agora em contrato.

A intervenção é por 90 dias, podendo ser renovada por outros 90 dias.

RELATÓRIO DE INCONSISTÊNCIAS E POSSÍVEIS IRREGULARIDADES FINANCEIRAS:

Até o mês de janeiro de 2025, a concessionária considerou para fins de cálculos o quantitativo de ageiros transportados do ano de 2017, sem as devidas atualizações.

Assim dada a ausência de informações fidedignas para quantificar de maneira justa e adequada os valores a serem reados pela municipalidade, foram pagas notas fiscais parciais para garantir o pagamento das verbas trabalhistas.

IRREGULARIDADES OPERACIONAIS

Indícios de desvio de funcionários utilizados

Com a divergência de 221 empregados a mais gerando um custo operacional excessivo, o que indica possível desperdício de recursos humanos.

Folha de Pagamento

A concessionária alega que a folha de pagamento gira em torno de R$ 5.500.000,00 e R$ 6.000.000,00. Enquanto a média do setor é de R$ 2.700.000,00.

Adiantamento Salarial

Foram informados valores divergentes de adiantamento salarial, variando entre R$ 880.000,00 e R$ 1.600.000,00, comprometendo a transparência financeira.

Abastecimento da Frota

Foi constatado abastecimento de cerca de 200 veículos, acima da frota contratual de 148 veículos, indicando possível desvio de combustível

Custo Operacional Elevado

Os custos mensais alegados de até R$ 16.169.064,00 superam em mais de 100% a média do mercado, demonstrando descontrole financeiro.

Terceirização da Portaria

Os custos com serviços de portaria chegam a R$ 359.000,00, valor superior ao aluguel da garagem, sugerindo superfaturamento.

Falta de Transparência na Bilhetagem Eletrônica

A concessionária não fornece relatórios detalhados da bilhetagem eletrônica, comprometendo a verificação da arrecadação.

Violação de Lacres das Catracas

A fiscalização constatou violação dos lacres das catracas, indicando risco de fraudes na bilhetagem.

GPS’s desligados

Durante as fiscalizações, a equipe da SEMOB constatou que vários ônibus da empresa circulavam com os aparelhos de GPS sem comunicação, impossibilitando tanto o georreferenciamento dos trajetos das linhas operadas quanto a quilometragem efetivamente rodada pelos ônibus.

Descaracterização da Frota

A retirada de adesivos oficiais e a alteração da identidade visual da frota comprometem a fiscalização e podem indicar uso indevido da frota.

Inconsistência nos Relatórios de ageiros Transportados

Foram informados dois números distintos para o mesmo período, com uma diferença de 179.338 ageiros, o que indica possível manipulação de dados.

OUTRO LADO

A City sustenta que uma intervenção desta maneira, apenas levando em conta indícios e sem provas, é “absolutamente ilegal” e que a apuração dos fatos alegados pela prefeitura vai demostrar “de forma inequívoca, o descabimento e o despropósito da medida”.

Ainda de acordo com a empresa de ônibus, grande parte dos rees de R$ 84 milhões feitos pelo poder público em 2024 é formada de débitos antigos de valores que não foram depositados pela prefeitura em anos anteriores referentes à prestação de serviços desde 2018, cujos percentuais não foram corrigidos, assim como as projeções de demanda que não se concretizaram ou que não levaram em conta a queda do número de ageiros na pandemia de covid-19, entre 2020 e 2023. A City também rebate as alegações da prefeitura sobre o abastecimento de mais ônibus que a frota em operação, o que, ainda para a gestão municipal indica suposto desvio de combustível e uma forma de “inflar” os custos operacionais e a aumentar a remuneração. Segundo a empresa, os apontamentos do poder público não são verdadeiros, uma vez que esta remuneração é feita com base em ageiros transportados e não pelos custos de operação, independentemente, assim, de quantidade de combustível ou outros insumos consumidos. A companhia ainda diz que não procede a alegação da prefeitura de que está dificultando o o aos dados de bilhetagem eletrônica e arrecadação uma vez que os técnicos da istração municipal recebem mensalmente as planilhas e relatórios de toda a movimentação e ainda têm o e senha do sistema de bilhetagem.

HISTÓRICO DA CITY EM GUARUJÁ:

A City Transporte Urbano Intermodal Ltda é da família Abreu, uma das maiores que atuam no sistema da capital paulista, controlando companhias como a Viação Metrópole Paulista, que reúne a frota mais numerosa do sistema de transportes paulistano com cerca de 1,5 mil coletivos.
Com o nome City Transporte, o Grupo atua em sistemas importantes como de Sorocaba, Bertioga e Votorantim, todos no Estado de São Paulo.

Em 26 de outubro de 2018, o Diário do Transporte noticiava que a Prefeitura havia assinado um contrato de 15 anos com a empresa City Transporte Urbano Intermodal, que, na ocasião, tinha de assumir inteiramente o sistema em até seis meses. Havia previsão ainda de renovação por mais 15 anos.

Portanto, o contrato estaria longe de acabar se não houvesse a intervenção. Relembre:

Prefeitura do Guarujá assina contrato com a City Transporte e prevê investimentos de R$ 127 milhões

A previsão do contrato, na data da , era de investimentos ao longo da concessão de R$ 127 milhões em frota e infraestrutura. Seriam 120 ônibus:

– 25 ônibus articulados modelo BRT;
– 40 ônibus modelo Padron;
– 55 micro-ônibus e do tipo convencional;
– 1 ônibus modelo Double Deck;
– 3 micro-ônibus para serviço executivo;
– 2 vans adaptadas para transportar pessoas com mobilidade reduzida.

VEJA UMA LINHA DO TEMPO DA EMPRESA NA CIDADE DE GUARUJÁ

O INÍCIO:

26 de outubro de 2018: A Prefeitura do Guarujá informa a de um contrato de 15 anos com a City Transporte Urbano Intermodal, com previsão para a empresa assumir integralmente o sistema em até seis meses. O contrato prevê um investimento de ao menos R$ 127 milhões em frota e infraestrutura. A City substituiria a antiga operadora Translitoral. A empresa se compromete a adquirir 120 ônibus, incluindo um de dois andares para rotas turísticas e 25 articulados, além de instalar estações de compartilhamento de bicicletas e reformar terminais. (LINK)

8 de abril de 2019: A City Transporte Urbano Intermodal anuncia investimentos de mais de R$ 127 milhões no transporte coletivo de Guarujá, incluindo obras em corredores, pontos de ônibus e terminais. O diretor da empresa, Marcelo Pepe, afirma aos vereadores que a empresa garantirá a entrega de 125 novos ônibus com ar-condicionado e Wi-Fi até julho. Ele também menciona reformas em pontos e terminais já realizadas e medidas para resolver atrasos e superlotação. Pepe informa que a City está seguindo as ordens de serviço da Prefeitura para atender Perequê e Santa Cruz dos Navegantes, mas que novas rotas podem ser estudadas. (LINK)

A CRISE:

18 de dezembro de 2024: A empresa City Transporte Urbano Intermodal estuda paralisar a operação do transporte coletivo no Guarujá devido a possíveis atrasos de sete meses nos rees de subsídios pela prefeitura, totalizando cerca de R$ 40 milhões. A empresa cogita demitir funcionários caso os subsídios não sejam transferidos até 19 de dezembro de 2024. (LINK)

21 de dezembro de 2024: Funcionários da City realizam uma paralisação relâmpago em protesto contra o não pagamento do décimo terceiro salário. Os ônibus voltam a circular após as 6h, e uma reunião entre sindicato, prefeitura e empresa é marcada para discutir o pagamento. Os trabalhadores prometem entrar em greve caso o ime não seja resolvido. A notícia do Diário do Transporte relembra que a empresa já estava estudando paralisar as atividades devido aos atrasos nos subsídios… (LINK)

16 de janeiro de 2025: Três linhas da City Transporte Urbano Intermodal (61, 28 e 93) têm o atendimento paralisado devido a uma possível dívida da prefeitura que ultraa R$ 50 milhões. As vans para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida também têm a circulação suspensa. A empresa prevê a paralisação de todas as linhas na segunda-feira seguinte (20 de janeiro) caso não receba o subsídio. (LINK)

18 de janeiro de 2025: A Prefeitura do Guarujá entra com uma ação judicial contra a City Transporte Urbano Intermodal pela suspensão de serviços essenciais, buscando garantir a continuidade da operação da frota com uma multa de R$ 200 mil por hora em caso de paralisação. A prefeitura reconhece dificuldades no ree de subsídios pela istração anterior, mas argumenta que isso não justifica a suspensão dos serviços. A prefeitura informa que pagou mais de R$ 89 milhões em 2024, além dos R$ 160 milhões arrecadados pela empresa com tarifas. A prefeitura também criou um Grupo Técnico de Trabalho (GTT) para investigar os rees financeiros. (LINK)

21 de janeiro de 2025: A Justiça determina que a City Transporte Urbano Intermodal retome imediatamente a operação das linhas municipais, após liminar ser aceita pela Prefeitura do Guarujá. O descumprimento da decisão acarreta multa diária de R$ 500 mil. No dia anterior, a empresa havia informado que a circulação ocorria normalmente. (LINK)

28 de janeiro de 2025: Trabalhadores da City entram em greve reivindicando o pagamento da metade dos 40% do adiantamento mensal atrasado. A empresa já havia atrasado o décimo terceiro salário e o vale-refeição. O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª região (TRT-2) determina que 80% da frota circule nos horários de pico e 60% no restante do dia, com multa de R$ 20 mil por descumprimento. A Prefeitura do Guarujá consegue outra decisão judicial obrigando a City a colocar todos os veículos para atendimento, sob pena de multa diária de R$ 500 mil. (LINK)

8 de fevereiro de 2025: A Prefeitura de Guarujá anuncia uma redução de quase 60% nos custos do contrato com a City Transportes. Em dezembro, a istração anterior pagou quase R$ 7 milhões, enquanto em janeiro, sob a nova istração, o valor caiu para pouco mais de R$ 4 milhões. Um estudo comparativo apontou discrepâncias nos gastos da City em folha de pagamento, combustível e peças e pneus em relação a outras empresas do setor. A prefeitura informa que, graças à redução, o município está pagando o mesmo que em 2019, e que entre 2021 e 2024 a City recebeu quase R$ 380 milhões em subsídios. Dez dias antes, a prefeitura havia aberto uma ação judicial contra a City após a suspensão de serviços essenciais. (LINK)

28 de março de 2025: A prefeitura decreta intervenção de 90 dias podendo ser renovados por outros 90 dias alegando descumprimento de contrato, dificuldades se o às contas do sistema de transportes e irregularidades operacionais e istrativas por parte da companhia.

01º de abril de 2025: A empresa City Transporte Intermodal notificou na terça-feira (1°) a prefeitura de Guarujá, no litoral paulista, para que o poder público dê explicações sobre intervenção de 90 dias, podendo ser renovada por mais 90, sobre a viação.

O procedimento se chama notificação de responsabilidade e pede para que as supostas causas da intervenção sejam apuradas.

A City sustenta que uma intervenção desta maneira, apenas levando em conta indícios e sem provas, é “absolutamente ilegal”  e que a apuração dos fatos alegados pela prefeitura vai demostrar “de forma inequívoca, o descabimento e o despropósito da medida”.

Ainda de acordo com a empresa de ônibus, grande parte dos rees de R$ 84 milhões feitos pelo poder público em 2024 é formada de débitos antigos de valores que não foram depositados pela prefeitura em anos anteriores referentes à prestação de serviços desde 2018, cujos percentuais não foram corrigidos, assim como as projeções de demanda que não se concretizaram ou que não levaram em conta a queda do número de ageiros na pandemia de covid-19, entre 2020 e 2023. A City também rebate as alegações da prefeitura sobre o abastecimento de mais ônibus que a frota em operação, o que, ainda para a gestão municipal indica suposto desvio de combustível e uma forma de “inflar” os custos operacionais e a aumentar a remuneração. Segundo a empresa, os apontamentos do poder público não são verdadeiros, uma vez que esta remuneração é feita com base em ageiros transportados e não pelos custos de operação, independentemente, assim, de quantidade de combustível ou outros insumos consumidos. A companhia ainda diz que não procede a alegação da prefeitura de que está dificultando o o aos dados de bilhetagem eletrônica e arrecadação uma vez que os técnicos da istração municipal recebem mensalmente as planilhas e relatórios de toda a movimentação e ainda têm o e senha do sistema de bilhetagem.

29 de março de 2025: A Prefeitura de Guarujá, no litoral de São Paulo, divulgou relatório pelo qual relaciona as supostas irregularidades cometidas pela City Transporte, operadora das linhas municipais de ônibus.

Como mostrou o Diário do Transporte, a companhia está sob intervenção do poder público desde o último dia 28 de março de 2025.

A istração do prefeito Farid Madid (Podemos) diz que há indícios de que a companhia inflou custos operacionais, aumentou a quantidade de funcionários e combustível consumido acima do necessário para justificar recebimentos de subsídios acima do que teria direito de fato.

Relembre a reportagem e veja na íntegra: /2025/04/05/prefeitura-de-guaruja-faz-graves-acusacoes-contra-a-city-transporte-em-relatorio-oficial-confira-na-integra/

30 de abril de 2025:A prefeitura de Guarujá, no litoral de São Paulo, suspendeu por meio de um novo decreto publicado nesta quarta-feira, 30 de abril de 2025, a intervenção que havia iniciado em 28 de março de 2025, na empresa de ônibus concessionária das linhas urbanas, City Transporte Intermodal. A intervenção duraria 90 dias podendo ser renovados por outros 90.

Com isso, a gestão da concessão do serviço de transporte urbano de ageiros é devolvida à companhia.

Como havia mostrado o Diário do Transporte, a istração do prefeito Farid Madid (Podemos), para justificar a intervenção, alegou que havia indícios de que a companhia inflou custos operacionais, aumentou a quantidade de funcionários e combustível consumido acima do necessário para justificar recebimentos de subsídios acima do que teria direito de fato.

A istração municipal, por meio de um relatório, chegou a fazer graves acusações contra a City, como mostrou o Diário do Transporte.

Relembre:

/2025/04/05/prefeitura-de-guaruja-faz-graves-acusacoes-contra-a-city-transporte-em-relatorio-oficial-confira-na-integra/

No decreto que suspendeu a intervenção, a prefeitura diz que houve “constatação de irregularidades na condução da concessão conforme oficiado pela autoridade interventiva, cuja a prova
cabal dependerá de instrução, perícia e oportunização da ampla defesa e contraditório em processo próprio, nos termos da Lei”;
e que o objetivo do procedimento foi alcançado: ar dados, informações e documentos, em poder da companhia de ônibus.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Colaborou Vinícius de Oliveira

Comentários

Comentários 72495v

  1. Nena Moraes Ferreira disse:

    A ganância de algumas pessoas ,chega a ser desumana.

Deixe uma respostaCancelar resposta 2p5c4z

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