Eletromobilidade

Transunião, na zona Leste, tem mais da metade da frota com mais de 10 anos em uma das garagens porque ENEL não conclui ligação para ônibus elétricos – ENTREVISTA EM VÍDEO 4xa60

Oficina vive lotada, diz diretor. Demanda total é de cerca de quase 300 mil ageiros por dia. São dois pátios com 33 carregadores instalados desde agosto de 2024 que custaram R$ 14 milhões, mas estão sem serventia porque a energia necessária não chega às garagens

ADAMO BAZANI

Colaboraram Arthur Ferrari, Luiz Romagnoli e Alexandre Pelegi

Em mais regiões da cidade de São Paulo, além das já mostradas pelo Diário do Transporte, os ageiros de ônibus são transportados em veículos velhos, com idades entre 10 anos e 13 anos de produção, que quebram bem mais e não têm quase nenhum conforto, porque a ENEL não conclui as adaptações necessárias para as garagens receberem os modelos elétricos novos.

A reportagem já havia mostrado a realidade de cerca de 570 mil ageiros que dependem dos serviços da Mobibrasil e da A2, na zona Sul. Desta vez, retrata a rotina de quase 300 mil usuários que embarcam todos os dias nas cerca de 50 linhas operadas pela Transunião, na zona Leste, em regiões de bairros como Sapopemba, Itaim Paulista, Guaianases, Itaquera e São Mateus.

A empresa possui duas garagens, que somadas, abrigam mais de 600 ônibus.

Somente em uma delas, a do chamado lote D7, do extremo da Zona Leste, mais da metade da frota já deveria ter sido trocada. De 132 veículos, 70 rodam com idades entre 10 anos e 13 anos, dentro da permissão estendida pela SPTrans (São Paulo Transporte), gerenciadora da prefeitura.

No lote D3, segundo a empresa, são 482 veículos, dos quais 158 com mais de 10 anos.

A companhia garante que falta de investimento próprio para a eletrificação não é: as duas garagens já estão com 33 carregadores de baterias instalados que custaram ao todo cerca de R$ 14 milhões. Transformadores e outros equipamentos já foram colocados também. Ao todo, são 228 ônibus elétricos novos que não podem ser entregues. Desde 17 de outubro de 2022, as empresas de transportes da cidade estão proibidas de comprar modelos movidos a óleo diesel, mas, sem infraestrutura de rede de distribuição dos bairros, não estão podendo também operar os novos.

No caso da Transunião, o presidente da empresa, Lourival de França Monário, disse ao Diário do Transporte que a idade média da frota atual está em oito anos, considerada bastante alta, já que originalmente, os contratos previam entre cinco e seis anos.

Segundo Monário, o primeiro pedido para a ENEL foi feito em março de 2024, mas desde então, somente promessas. Para se ter uma ideia, ainda de acordo com o responsável pela viação, os contratos com a distribuidora de energia somente foram assinados em 20 de dezembro de 2024 no caso do lote D7 e, com relação ao D3, a somente ocorreu em 20 de fevereiro de 2025.

*“Nossa primeira requisição junto a ENEL se deu em 19 de março de 2024, onde protocolamos solicitação de análise da viabilidade técnica do projeto para os lotes D3 e D7. Sendo está respondia em 04 de junho de 2024, nos informando a viabilidade total do projeto, estimada em aproximadamente 2,9 MW com custo inicial de R$ 274.440,00 para execução de obras no interior da subestação Bartira para o Lote D3 e em 26 de abril 2024, informando sobre a viabilidade total do projeto para o Lote D7, estimado em aproximadamente 3,0 MW sem custos com obras externas”*.

O diretor operacional da empresa, Edgard Paiva da Rocha, contou ao Diário do Transporte que pelo fato de serem bem mais antigos, os ônibus atuais estão quebrando muito e a oficina vive lotada.

Rocha classificou, na entrevista ao Diário do Transporte, a situação como “temerária”.

É uma situação bastante complexa, a dificuldade de se manter uma operação nesse regime é extremamente temerária, uma vez que esses veículos impactam diretamente não só a nossa operação na rua, uma vez que eles já extrapolaram tecnicamente a vida útil deles, como impactam também a nossa situação de manutenção no âmbito geral da empresa. Uma vez que nossa oficina está sempre super lotada com esses veículos, e a gente não têm as devidas condições de manter uma manutenção correta e adequada conforme pede o nosso contrato”

Como sempre tem feito, o Diário do Transporte questionou a ENEL, a SPTrans (São Paulo Transporte) e a prefeitura.

Em nota, a SPTrans diz que há reuniões com a ENEL e que as empresas só são remuneradas pelos ônibus que operam. São cerca de 80 coletivos parados por falta de infraestrutura.

A Prefeitura de São Paulo, por meio da SMT e da SPTrans, acompanha semanalmente as reuniões de tratativas entre a Enel e as concessionárias operadoras, visando a disponibilização de energia elétrica para o carregamento da frota de ônibus.

As concessionárias são remuneradas pelo serviço prestado pelos ônibus devidamente cadastrados junto à SPTrans. Os veículos que ainda não iniciaram sua operação não estão nesta situação. Atualmente há 80 veículos esperando a disponibilidade de energia.

A frota de veículos elétricos de transporte público da cidade de São Paulo é a maior do país, com 429 ônibus a bateria e 201 trólebus, totalizando 630 coletivos disponíveis para operação.

Para a inclusão de novos ônibus elétricos no Sistema de Transporte Municipal, é necessário que o veículo e toda a infraestrutura elétrica de recarga estejam em conformidade com as exigências técnicas e contratuais.

A renovação da frota com ônibus elétricos contribui com a melhora na qualidade do ar da cidade, além de trazer benefícios de conforto aos ageiros que contam com Wi-Fi, conexão USB e ar-condicionado. Cada veículo movido com tração elétrica deixa de emitir anualmente, em média, 87 toneladas CO2 (dióxido de carbono), 0,21 toneladas de NOx (óxidos de nitrogênio) e 0,002 toneladas de MP (material particulado).

Em nota, a ENEL diz que todos os contratos com as operadoras que solicitaram soluções de energia estão dentro do prazo para execução da obra.

“A Enel Distribuição São Paulo esclarece que, em 2024, entregou obras de infraestrutura para abastecimento de energia para seis operadoras de ônibus, numa demanda total de quase 9 MW. Nos dois primeiros meses de 2025, a distribuidora concluiu obras para outras 8 operadoras, somando cerca de 17 MW, quase o dobro da demanda de energia entregue no ano ado. Para este ano, a Enel está trabalhando para entregar um total de 45.7 MW de energia para operadoras de ônibus.
A concessionária reforça que todos os contratos com as operadoras que solicitaram soluções de energia à Enel estão dentro do prazo para execução da obra, a contar da data de entre as partes.
Em relação à operadora A2, a Enel esclarece que a obra será concluída ao longo do mês de março.”

FROTA VELHA 2w2760

O Diário do Transporte mostrou que São Paulo tem 2.711 ônibus com idades entre 10 anos e 13 anos operando. A ampliação da idade máxima da frota da cidade, de 10 anos para até 13 anos, foi uma medida emergencial da SPTrans para suprir a falta de infraestrutura que impede mais elétricos e, ao mesmo tempo, manter a proibição dos novos veículos a diesel.

/2025/01/23/cidade-de-sao-paulo-possui-2-711-onibus-com-dez-anos-ou-mais-em-circulacao/

O Diário do Transporte tem mostrado que muitas garagens estão prontas dos muros para dentro e que algumas delas possuem dezenas de ônibus elétricos parados porque solicitaram ligações e adaptações das redes de distribuição, mas a ENEL não fez ainda. É o caso da empresa Mobibrasil, da zona sul, que tem 33 ônibus parados em uma das garagens, apesar de ter pedido a ligação em julho de 2024. A A2 Transportes, outra empresa da zona Sul, pediu a ligação para a ENEL em fevereiro de 2024, e não foi atendida ainda. A viação diz que não consegue concluir as compras e já têm mais de 130 ônibus a diesel com mais de 10 anos rodando, sendo que deveriam ter sido trocados.  A Transunião, na zona Leste, tem mais da metade da frota com mais de 10 anos em uma das garagens porque ENEL não conclui ligação para ônibus elétricos. Oficina vive lotada, disse o diretor operacional da empresa, Edgard Paiva da Rocha. Demanda total é de cerca de quase 300 mil ageiros por dia. São dois pátios com 33 carregadores instalados desde agosto de 2024 que custaram R$ 14 milhões, mas estão sem serventia porque a energia necessária não chega às garagens.

– ENTREVISTAS EM VÍDEO 6t5q6v

Relembre:

/2025/03/10/video-mobibrasil-na-zona-sul-de-sao-paulo-esta-repleta-de-onibus-eletricos-que-nao-rodam-porque-enel-nao-faz-a-ligacao-solicitada-ha-quase-um-ano/

 

Há viações que já estão com equipamentos carregadores e transformadores internos já instalados nas garagens, mas não podem renovar frota porque o financiamento depende de aval que só ocorre se a rede de energia estiver adequada.

Mais uma vez, o Diário do Transporte entrou em contato com a ENEL.

METAS DA CIDADE:

As metas da prefeitura de São Paulo de 2,6 mil ônibus elétricos entre todas as empresas da cidade rodando até o fim de 2024 não foram alcançadas, principalmente pela falta de infraestrutura de recarga e distribuição de energia da ENEL para dar conta da demanda. Em toda a cidade, são atualmente, em fevereiro de 2025, menos de 500 unidades não poluentes a bateria e 201 trólebus, que precisam estar conectados à fiação aérea para rodarem.

Em 23 de janeiro de 2025, durante a entrega de um lote de 100 coletivos com baterias, o prefeito Ricardo Nunes disse que a cidade deve receber cerca de 600 ônibus totalmente elétricos com bateria ainda neste ano. Isso elevaria a frota para cerca de 1.200 unidades, contando com os trólebus, mas ainda assim seria bem inferior aos 2.600 coletivos anunciados para até o final de 2024. Na ocasião, Nunes disse, em resposta ao Diário do Transporte que esteve no evento, que é preferível ampliar a idade dos ônibus atuais em até três anos a itir a volta da compra de veículos a diesel, já que caso fossem comprados, poderiam operar por mais dez anos no sistema.

Relembre:

/2025/01/23/video-nunes-estima-600-onibus-eletricos-para-2025-na-cidade-de-sao-paulo-e-defende-que-compra-de-diesel-nao-volte-nunca-mais/

No fim de 2024, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou um projeto de lei, de autoria do ex-presidente da Casa, Milton Leite, que permitiria a volta da compra de 50% da frota a diesel Euro 6. Por causa da falta de infraestrutura para elétricos, a frota geral de ônibus da cidade tem envelhecido, uma vez que as viações estão proibidas de comprar modelos a diesel desde 17 de outubro de 2022. A SPTrans ampliou a idade máxima permitida dos ônibus de 10 anos para 13 anos.

O prefeito Ricardo Nunes aprovou apenas parcialmente o projeto de lei, vetando a possibilidade da volta de compra de modelos a diesel, mas sancionou outros pontos, como um que abre mais segurança para a busca de outras alternativas menos poluentes, como GNV (Gás Natural Veicular) e biometano (gás obtido pela decomposição de resíduos). As empresas de ônibus devem apresentar em 90 dias as necessidades de infraestrutura para a ENEL, no caso dos elétricos, ou para a COMGÁS, no caso do GNV. Estas distribuidoras têm 90 dias para concluir os projetos, mas não há prazo para execução e entrega das obras.

As metas intermediárias foram ajustadas, mas as finais, como zerar as emissões de CO2 até 2038 foram mantidas. Com isso, as alternativas que não sejam eletricidade ou hidrogênio são encaradas como para o momento de transição.

GÁS NATURAL PARA ÔNIBUS:

Empresas como a Sambaíba, na zona Norte, estudam aderir projetos de GNV para ônibus e, como mostrou o Diário do Transporte, preparou um modelo a diesel para ser convertido.

O prefeito Ricardo Nunes disse em 11 de fevereiro de 2025, que determinou estudos para verificar a viabilidade da implantação de ônibus a gás natural na cidade.

Os trabalhos estão sob responsabilidade do Secretário Executivo de Mudanças Climáticas, José Renato Nalini, e as discussões serão no âmbito do Comfrota (Comitê Gestor do Programa de Acompanhamento da Substituição de Frotas por Alternativas Mais Limpas).

O Comitê é vinculado à Seclima (Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas).

Relembre:

/2025/02/11/ouca-nunes-determina-estudos-para-onibus-a-gas-natural-gnv-em-sao-paulo-e-vai-recorrer-de-decisao-que-atendeu-psol-e-suspendeu-nova-lei-de-troca-de-frota/

LEI BARRADA POR AÇÃO DO PSOL:

A nova lei sobre descarbonização da frota, Lei Municipal nº 18.225, de 15 de janeiro de 2025, oriunda do projeto de Milton Leite de dezembro de 2024 e aprovada parcialmente por Nunes em janeiro de 2025, no entanto, teve seus efeitos temporariamente suspensos por determinação do desembargador Mário Devienne Ferraz do Órgão e Câmara Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo, que atendeu parcialmente Ação Direta de Inconstitucionalidade movida pelo PSOL.

A lei não está anulada. A decisão, publicada em 10 de fevereiro de 2025, suspende a aplicação da lei até o julgamento final da ação.

Relembre:

/2025/02/10/justica-atende-psol-e-suspende-lei-que-altera-normas-para-onibus-menos-poluentes-na-capital-paulista-veja-a-decisao-na-integra/

Entre outras alegações, o partido alega que o Projeto de Lei 825/2024, de autoria do ex-presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, não apresentou estudo de impacto ambiental e que flexibiliza regras, reduzindo a obrigatoriedade da compra de modelos de ônibus menos poluentes.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

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  1. ED disse:

    Agora virou moda colocar a culpa da irresponsabilidade na gestão da prefeitura na Enel.

  2. Daniel dos Santos Silva disse:

    Tudo bem. Não têm como colocar os ônibus elétricos para rodar, mas será que isso não impede de ter uma operação sadia, coisa que na Transunião não tem, nas linhas como a 3768, 3026, 3064 e outras têm sofrido com poucos ônibus, se tem são totalmente antigos com até 14 anos de uso e em condições desagradáveis, além da demora, implicando em filas quilométricas nos pontos, por isso, colocar na conta da ENEL e da SPTrans, uma gestão totalmente desqualificada, não faz nenhum sentido…

  3. Santiago disse:

    Não é por causa da Enel!!!

    É porque nunca houve um projeto técnico por parte da Prefeitura.

    O verdadeiro réu é o amadorismo eleitoreiro do nosso prefeitozinho lunático.

  4. cristiangtanigava disse:

    Todas garagem falam colocar a mesma desculpa e outra coisa sindicato falaram do 90 outra coisa falaram tanto do sindicato que tinha esse daí é uma bosta não faz nada sindicato que tá pior do que 90 não faz nada para ninguém

  5. Rodrigo Zika disse:

    Esses comentários de especialistas isentando a Enel é hilário, se nem energia nas residências dela oferece com qualidade, e sobre a Transuniao faz sentido mesmo, a linha 2704 que a aqui do lado está cheio de carro antigo como Apache vip 2, essa empresa se energia é uma piada.

  6. Fabio Souza Ramos disse:

    A Enel tem culpa nisso daí? Com toda a certeza! Sempre vem mostrando a sua ineficiência na energia da cidade.
    Mas se não tivesse acontecido uma canetada proibindo veículos a diesel e realizado um melhor planejamento, com certeza a situação poderia ser diferente.
    Sempre há desconversa quando o assunto são os trólebus, veículos que não poluem e que poderiam colaborar para atingir as metas de descarbonização que a própria prefeitura estipula.
    Colocou-se uma meta de 2600 veículos a bateria até o fim de 2024, mas sem planejamento, obviamente, seria complicado chegar nisso – e nem chegou…
    No momento da proibição de veículos a diesel ainda faltava a aprovação de modelos de ônibus, por parte da SPTrans, que suprissem a todas as demandas que a cidade utiliza, e ainda há veículos aguardando aprovação.
    Curiosamente, agora no começo de 2025, como mostrado pelo próprio Diário do Transporte, estão pensando e testando veículos com outras matrizes menos poluidoras. Por que não fizeram isso lá atrás?
    Como se proíbe sendo que não tem modelos suficientes? Como se proíbe sendo que falta infraestrutura?
    E no final, o prejudicado é o ageiro que utilizará ônibus cada vez mais velhos (com autorização da Prefeitura/SPTrans), já que, por conta da Enel, os ônibus novos não podem ser carregados, por conta também da falta de planejamento da Prefeitura de São Paulo em querer fazer uma mudança do dia para a noite.

  7. SILVIO ERREIRA disse:

    Isto parece piada mas é falta de autoridade do Estado de Direitos. Uma vergonha!

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