Ícone do site Diário do Transporte

Ônibus elétricos: Apuração jornalística do Diário do Transporte repercute na imprensa em geral e Nunes diz que são 80 veículos parados por causa da ENEL 1n4o2z

Enquanto compra de modelos zero km a diesel está proibida desde 17 de outubro de 2022 e não há energia para dar conta de novos elétricos, população enfrenta mais ônibus velhos nas ruas que tendem a quebrar mais e deixar o usuário na mão 513t3d

ADAMO BAZANI

A apuração jornalística do Diário do Transporte sobre o fato de diversos ônibus elétricos da cidade de São Paulo não poderem circular porque falta que a energia chegue às garagens repercutiu na imprensa em geral e na gestão pública. O prefeito Ricardo Nunes disse que são ao menos 80 veículos parados por causa da ENEL, que é responsável por adequar a rede de distribuição, mas, segundo a prefeitura e as empresas de ônibus, ela não fez sua parte.

O problema foi denunciado pela primeira vez pelo Diário do Transporte e a cada apuração, a reportagem descobre que a situação é mais grave: sem poder receber modelos de ônibus a diesel 0 km desde 17 de outubro de 2022, o sistema de transportes da cidade de São Paulo vê sua frota envelhecer e cair de qualidade porque a quantidade de modelos elétricos não pode ser ampliada pelo fato de a ENEL não adaptar  as redes de fornecimento de energia dos bairros onde estão instaladas as garagens para carregar as baterias dos veículos.

O Diário do Transporte apurou junto às viações que entre 80 e 100 ônibus estão prontos, parados. Uma frota sem poder operar porque não há energia para todos.

O prefeito Ricardo Nunes confirmou o número na tarde desta segunda-feira (10) também e disse que fez representações sobre o assunto na ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), no TCU (Tribunal de Contas da União), já que a concessão é federal.

“O que temos feito são muitas reclamações na Agência Nacional de Energia Elétrica e no Tribunal de Contas da União, porque como o contrato, a concessão e a fiscalização são do Governo Federal, nós temos enviado documentos, representações a esses órgãos que fiscalizam a Enel, para que eles possam tomar atitude. Inclusive, pedimos para o Procon também fazer a autuação tendo em vista que é importante que a Enel faça essas ligações.” – disse o prefeito.

Esses 80 coletivos são veículos com ar-condicionado, tomadas wi-fi para recarga de celulares, que não lançam fumaça no ar e emitem muito menos ruído. São bem melhores que os atuais que operam com idades entre 10 e 13 anos, que rodam na cidade de São Paulo, que não têm ar-condicionado, são barulhentos e, por serem velhos, estão mais sujeitos a quebras, mesmo com manutenções e vistorias mais constantes pela gerenciadora SPTrans (São Paulo).

O Diário do Transporte mostrou que São Paulo tem 2.711 ônibus com idades entre 10 anos e 13 anos operando. A ampliação da idade máxima da frota da cidade, de 10 anos para até 13 anos, foi uma medida emergencial da SPTrans para suprir a falta de infraestrutura que impede mais elétricos e, ao mesmo tempo, manter a proibição dos novos veículos a diesel.

/2025/01/23/cidade-de-sao-paulo-possui-2-711-onibus-com-dez-anos-ou-mais-em-circulacao/

O Diário do Transporte tem mostrado que muitas garagens estão prontas dos muros para dentro e que algumas delas possuem dezenas de ônibus elétricos parados porque solicitaram ligações e adaptações das redes de distribuição, mas a ENEL não fez ainda. É o caso da empresa Mobibrasil, da zona sul, que tem 33 ônibus parados em uma das garagens, apesar de ter pedido a ligação em julho de 2024. A A2 Transportes, outra empresa da zona Sul, pediu a ligação para a ENEL em fevereiro de 2024, e não foi atendida ainda. A viação diz que não consegue concluir as compras e já têm mais de 130 ônibus a diesel com mais de 10 anos rodando, sendo que deveriam ter sido trocados.

Relembre:

/2025/03/10/video-mobibrasil-na-zona-sul-de-sao-paulo-esta-repleta-de-onibus-eletricos-que-nao-rodam-porque-enel-nao-faz-a-ligacao-solicitada-ha-quase-um-ano/

 

Há viações que já estão com equipamentos carregadores e transformadores internos já instalados nas garagens, mas não podem renovar frota porque o financiamento depende de aval que só ocorre se a rede de energia estiver adequada.

Mais uma vez, o Diário do Transporte entrou em contato com a ENEL.

VEJA DECLARAÇÃO COMPLETA DO PREFEITO:

“É como se tivesse plantado 6.400 árvores com relação a não emissão de CO2 na atmosfera. Então é super importante para a questão do meio ambiente da cidade, e a ENEL ainda não faz a ligação da energia para carregar os ônibus. Nós estamos com 80 ônibus prontos para ir para a rua e não conseguem ter o carregamento. Agora a ENEL fala que está no prazo, para se ter uma ideia o piscinão Taboão do rio no Aricanduva, eu inaugurei aquele piscinão em 2022 e até hoje, se for lá, está sem energia da ENEL, temos que ter um gerador. São muitos casos que temos de problemas com a ENEL, que ela não faz a ligação, ela não atende as demandas e vai prejudicando a população. Você imagine, 80 vezes 6.400, estamos deixando de ter de árvores, simbolicamente, 6.400 árvores, que representam os ônibus, que gente poderia estar deixando de emissão de CO2 na atmosfera. O que temos feito são muitas reclamações na Agência Nacional de Energia Elétrica e no Tribunal de Contas da União, porque como o contrato, a concessão e a fiscalização são do Governo Federal, nós temos enviado documentos, representações a esses órgãos que fiscalizam a Enel, para que eles possam tomar atitude. Inclusive, pedimos para o Procon também fazer a autuação tendo em vista que é importante que a Enel faça essas ligações.”

METAS DA CIDADE:

As metas da prefeitura de São Paulo de 2,6 mil ônibus elétricos entre todas as empresas da cidade rodando até o fim de 2024 não foram alcançadas, principalmente pela falta de infraestrutura de recarga e distribuição de energia da ENEL para dar conta da demanda. Em toda a cidade, são atualmente, em fevereiro de 2025, menos de 500 unidades não poluentes a bateria e 201 trólebus, que precisam estar conectados à fiação aérea para rodarem.

Em 23 de janeiro de 2025, durante a entrega de um lote de 100 coletivos com baterias, o prefeito Ricardo Nunes disse que a cidade deve receber cerca de 600 ônibus totalmente elétricos com bateria ainda neste ano. Isso elevaria a frota para cerca de 1.200 unidades, contando com os trólebus, mas ainda assim seria bem inferior aos 2.600 coletivos anunciados para até o final de 2024. Na ocasião, Nunes disse, em resposta ao Diário do Transporte que esteve no evento, que é preferível ampliar a idade dos ônibus atuais em até três anos a itir a volta da compra de veículos a diesel, já que caso fossem comprados, poderiam operar por mais dez anos no sistema.

Relembre:

/2025/01/23/video-nunes-estima-600-onibus-eletricos-para-2025-na-cidade-de-sao-paulo-e-defende-que-compra-de-diesel-nao-volte-nunca-mais/

No fim de 2024, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou um projeto de lei, de autoria do ex-presidente da Casa, Milton Leite, que permitiria a volta da compra de 50% da frota a diesel Euro 6. Por causa da falta de infraestrutura para elétricos, a frota geral de ônibus da cidade tem envelhecido, uma vez que as viações estão proibidas de comprar modelos a diesel desde 17 de outubro de 2022. A SPTrans ampliou a idade máxima permitida dos ônibus de 10 anos para 13 anos.

O prefeito Ricardo Nunes aprovou apenas parcialmente o projeto de lei, vetando a possibilidade da volta de compra de modelos a diesel, mas sancionou outros pontos, como um que abre mais segurança para a busca de outras alternativas menos poluentes, como GNV (Gás Natural Veicular) e biometano (gás obtido pela decomposição de resíduos). As empresas de ônibus devem apresentar em 90 dias as necessidades de infraestrutura para a ENEL, no caso dos elétricos, ou para a COMGÁS, no caso do GNV. Estas distribuidoras têm 90 dias para concluir os projetos, mas não há prazo para execução e entrega das obras.

As metas intermediárias foram ajustadas, mas as finais, como zerar as emissões de CO2 até 2038 foram mantidas. Com isso, as alternativas que não sejam eletricidade ou hidrogênio são encaradas como para o momento de transição.

GÁS NATURAL PARA ÔNIBUS:

Empresas como a Sambaíba, na zona Norte, estudam aderir projetos de GNV para ônibus e, como mostrou o Diário do Transporte, preparou um modelo a diesel para ser convertido.

O prefeito Ricardo Nunes disse em 11 de fevereiro de 2025, que determinou estudos para verificar a viabilidade da implantação de ônibus a gás natural na cidade.

Os trabalhos estão sob responsabilidade do Secretário Executivo de Mudanças Climáticas, José Renato Nalini, e as discussões serão no âmbito do Comfrota (Comitê Gestor do Programa de Acompanhamento da Substituição de Frotas por Alternativas Mais Limpas).

O Comitê é vinculado à Seclima (Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas).

Relembre:

/2025/02/11/ouca-nunes-determina-estudos-para-onibus-a-gas-natural-gnv-em-sao-paulo-e-vai-recorrer-de-decisao-que-atendeu-psol-e-suspendeu-nova-lei-de-troca-de-frota/

LEI BARRADA POR AÇÃO DO PSOL:

A nova lei sobre descarbonização da frota, Lei Municipal nº 18.225, de 15 de janeiro de 2025, oriunda do projeto de Milton Leite de dezembro de 2024 e aprovada parcialmente por Nunes em janeiro de 2025, no entanto, teve seus efeitos temporariamente suspensos por determinação do desembargador Mário Devienne Ferraz do Órgão e Câmara Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo, que atendeu parcialmente Ação Direta de Inconstitucionalidade movida pelo PSOL.

A lei não está anulada. A decisão, publicada em 10 de fevereiro de 2025, suspende a aplicação da lei até o julgamento final da ação.

Relembre:

/2025/02/10/justica-atende-psol-e-suspende-lei-que-altera-normas-para-onibus-menos-poluentes-na-capital-paulista-veja-a-decisao-na-integra/

Entre outras alegações, o partido alega que o Projeto de Lei 825/2024, de autoria do ex-presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, não apresentou estudo de impacto ambiental e que flexibiliza regras, reduzindo a obrigatoriedade da compra de modelos de ônibus menos poluentes.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Sair da versão mobile