Depois de 28 anos de preços congelados, Metrô de Tóquio se prepara para aumentos anuais de tarifas 1q6eo
Publicado em: 26 de fevereiro de 2025 12133m

Empresa colocou à disposição do mercado 49% de suas ações ano ado, o que significa mais aumentos tarifários à vista
FÁTIMA MESQUITA, ESPECIAL PARA O DIÁRIO DO TRANSPORTE
Depois de 28 anos de preços congelados, o metrô principal de Tóquio sofreu um aumento de tarifas em março de 2023 e agora, dois anos depois, a empresa não só anuncia uma nova subida de preços, mas avisa que é melhor os usuários se acostumarem com revisões anuais nos valores pagos pelo uso desse sistema de transporte.
Ao Financial Times, o presidente da empresa, Akiyoshi Yamamura, disse que o novo aumento tem a ver com um combo de fatores que vão desde a significativa queda do número de ageiros que ocorreu durante a pandemia, as garras de uma persistente inflação no país, a conta salgada dos investimentos feitos antes das Olimpíadas de 2020, e ainda os aumentos dos salários e do custo da eletricidade.
Estrutura singular
Uma característica peculiar do transporte público de Tóquio é a existência de duas redes de metrô completamente independentes uma da outra: o Tokyo Metro e o Toei. O Tokyo Metro foi o pioneiro do país, começando a circular no final de 1927 com a cobertura de pouco mais de dois quilômetros de extensão. É também o maior dos dois sistemas registrando quase sete milhões de ageiros por dia.
Mas, sobretudo, o Tokyo Metro é um negócio difícil de definir para o mundo ocidental. A empresa operadora foi criada em 2004 como uma parceria entre o governo federal e o governo metropolitano de Tóquio – o primeiro ficou com quase 54% da sociedade e outro com pouco mais de 46% de participação.
Só que, no ano ado, a Tokyo Metro Co., Ltd. partiu para uma reviravolta, colocando à disposição do mercado a metade do seu bolo. A medida privatizadora foi muito bem recebida pelos investidores, levantando US$ 2,3 bilhões. O montante, segundo o governo federal, seria usado para ajudar na reconstrução de Fukushima após o desastre nuclear causado por um tsunami em 2011.
O fato é que agora a empresa ganhou uma nova configuração de propriedade e que ficou mais ou menos assim: 27% e pouco para o governo federal, 23% e pouco para o governo metropolitano e outros quase 50% nas mãos de acionistas variados. E vem daí a necessidade, maior do que nunca, de ter números em azul nas suas planilhas, o que significa mais aumentos tarifários à vista.
Exemplo de qualidade
O sistema de metrô de Tóquio é considerado um exemplo de qualidade. Apesar de suas estações serem pequenas e quase nunca terem elevador nem escada rolante, o serviço é famoso pela sua eficiência, pontualidade, limpeza e segurança. Até o silêncio chama a atenção – o uso de celular nos carros é proibido e os japoneses levam muito a sério o silêncio e o ambiente respeitoso durante as viagens. O que preocupa um pouco agora é se uma onda de constantes aumento vai roubar do sistema de metrô de Tóquio o título de um dos mais íveis do mundo.
A empresa também está avançando com planos de expansão internacional, tendo garantido um contrato histórico para operar a Elizabeth Line em Londres.
A Tokyo Metro, que ainda é metade propriedade de entidades governamentais e operadores ferroviários, está se preparando para aumentos de custos com eficiências, como padronizar equipamentos de sinalização com outros operadores e usar dispositivos digitais para reduzir os custos de inspeção.
A listagem foi fortemente subscrita e o dinheiro levantado foi usado para ajudar a reembolsar títulos para reconstruir a província de Fukushima após o desastre nuclear de 2011. As ações aumentaram mais de 8% desde a estreia.
A Tokyo Metro tem planos de diversificar seus negócios em áreas mais lucrativas. Em seu mercado doméstico, planeja crescer em propriedades e publicidade, enquanto internacionalmente, garantiu seu primeiro grande contrato em novembro, unindo-se a um consórcio para operar a Elizabeth Line.
Yamamura disse que a empresa planejou “entregar as forças do Japão, como segurança, serviço de qualidade, pontualidade e limpeza” a Londres e só embarcará em novos projetos internacionais uma vez que tenha se provado no maior projeto de infraestrutura da capital da Grã-Bretanha na última década.
Fátima Mesquita, jornalista e escritora, especial para o Diário do Transporte
A privatização é danosa em qualquer país. Até os japoneses não estão escapando de governos que não ligam para o bolso do contribuinte.