HISTÓRIA: Caio Amélia é restaurado com a pintura da Paratodos pelo mesmo colecionador que já tinha dado “vida” a Caio Gabriela da Tupi pela Scuderia Maxxcar – VÍDEOS 42612u

Com isso, o comerciante Willians Eustáquio Gonçalves resgata mais uma página de um dos momentos decisivos do maior sistema de transportes da América Latina: o “saia e blusa” da cidade de São Paulo

ADAMO BAZANI

Colaborou Vinícius de Oliveira

VÍDEOS E FOTOS NO MEIO DA REPORTAGEM, MAS É IMPORTANTE LER ANTES 203t52

Mais um capítulo fundamental da história do maior sistema de transportes da América Latina teve um resgate concluído neste domingo, 23 de fevereiro de 2025: Foi entregue a restauração completa de um Caio Amélia II, Mercedes-Benz OF 1113, com a pintura da antiga Viação Paratodos, que remete à época do chamado sistema “saia e blusa”.

A restauração é fruto do investimento e paixão do comerciante Willians Eustáquio Gonçalves e da Scuderia Maxxcar, sua empresa especializada em veículos antigos. A Scuderia Maxxcar atua desde a captação de peças e procura de modelos de diversos veículos antigos, incluindo motos, carros, caminhões e ônibus, até apoio em assistência na hora de busca por peças, manutenção e revenda. A empresa atende para todo o País é o endereço é na Avenida Dr Lino de Moraes Leme, 333 – Vila Paulista – Fone: (11) 5031-0050 – Instagram: https://www.instagram.com/scuderia.maxxcar/

O sistema “saia e blusa”, que já foi tema de reportagem histórica no Diário do Transporte, trata-se de um dos elementos que integraram uma reorganização tão importante dos transportes da cidade de São Paulo, que influencia até hoje o sistema de ônibus da capital paulista. Em 1978, a equipe do então prefeito Olavo Setúbal (agosto de 1975 a julho de 1979), incluindo o secretário de transportes Adriano Murgel Branco, tenta reorganizar os transportes. Surge a primeira padronização das cores pela qual a parte de baixo dos ônibus (chamada de saia) indicava a região a ser servida. Foi a primeira padronização de pinturas de acordo com região atendida que São Paulo teve. Ficou uma marca nos transportes da cidade e até hoje, os ônibus são mais identificados pela cor da região que atendem que pelo nome da empresa

(MAIS AO FIM DA REPORTAGEM TODOS OS DETALHES DO SAIA E BLUSA) 5c316b

COMO FOI A RESTAURAÇÃO? 652st

Willians Eustáquio Gonçalves conta que a restauração durou cerca de um ano e foi feita na garagem da Gatti Turismo com a pesquisa e apoio técnico de sua equipe da Scuderia da Maxxcar.

O ônibus até janeiro de 2024 fazia transporte de trabalhadores rurais na região de São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo, quando foi adquirido pelo colecionador. Em março de 2024 mesmo, começou a ser desmontado na Gatti. O trabalho foi intenso. Enquanto a equipe da Scuderia Maxxcar fazia a pesquisa histórica, buscava peças no mercado ou moldes para a confecção de exemplares do zero, o pessoal da Gatti desmontava o ônibus, refazia todas as partes de mecânica, de elétrica e funilaria. Foi tudo muito trabalhoso porque, apesar de o ônibus ainda estar funcional, já tinha alguns pontos bastante deteriorados.

“A escolha da Paratodos foi que eu sempre andei nos ônibus da empresa aqui na região do Jabaquara, na zona Sul de São Paulo, e me apaixonei pelos transportes coletivos de São Paulo. Além do restauro do veículo em si, fiz questão de ter o cuidado de, no letreiro de lona, resgatar a inscrição das principais linhas que eram feitas na época. Tinha a linha Conceição, Glicério, Vila Santa Catarina e a Butantã, por exemplo, que era a 577 T Butantã, eu andava muito com ele quando ia para a Avenida Paulista. Esse ônibus, pelo amor de Deus, dava uma volta enorme pela Vila Mariana. Era muito gostoso. Esse restauro foi um sonho que se realizou” – contou Willians Eustáquio ao Diário do Transporte.

O empresário já havia restaurado um Caio Gabriela II, ano 1980, também com a pintura “saia e blusa” em alusão outra empresa tradicional de São Paulo: a TUPI (Transporte Urbano Piratininga Ltda), veículo que foi destaque em reportagem do Diário do Transporte e levado ao público pela primeira vez na BBF (BusBrasil Fest), exposição de ônibus antigos e novos, que foi realizada em 27 de novembro de 2022, em Barueri, na Grande São Paulo.

Relembre a reportagem:

/2022/12/04/entrevista-e-60-fotos-conheca-o-antes-e-o-depois-do-gabriela-tupi-que-foi-destaque-na-bbf-e-o-ex-penha-sao-miguel-que-doou-as-pecas/

ABAIXO VÍDEOS E FOTOS DO ÔNIBUS E MAIS ABAIXO, A HISTÓRIA DO “SAIA E BLUSA” E PLANO SISTRAN 18q1c

Quando foi comprado: 1n4t2h

Na restauração: 3w2f6w

Pronto: 4r53w

VEJA NO INSTAGRAM https://www.instagram.com/scuderia.maxxcar/ h114t

O SISTEMA SAIA E BLUSA 2d6010

No sistema Saia e Blusa, a cor da saia do ônibus, que é a parte abaixo do friso ao longo da carroceria, na altura das rodas dos veículos, determinava a região atendida. A cor da blusa (parte acima deste friso) poderia ser escolhida pela empresa operadora

Cor da Saia – Região
Marrom – Zona Norte (Vila Maria, Vila Guilherme, Santana e Tucuruvi)
Amarelo – Zona Leste (Penha, Cangaíba, Erm. Matarazzo, São Miguel Pta. e Itaim Paulista)
Rosa – Zona Sudeste/Zona Leste (Moóca, Tatuapé, Vila Prudente, Vila Matilde, Itaquera e Guianazes)
Vermelho – Zona Sul (Indianópolis, Santo Amaro e Capela do Socorro)
Azul Escuro – Zona Sul/Zona Sudeste (Aclimação, Ipiranga e Saúde)
Azul Claro – Zona Sul (Vila Mariana e Jabaquara)
Laranja – Zona Sudoeste (Butantã e Morumbi)
Verde Escuro – Zona Oeste (Lapa, Perdizes, Perus e Pirituba)
Verde Claro – Zona Noroeste (Casa Verde, Limão, Freguesia do Ó, Vila Brasilândia e Jaraguá)

Empresas que operaram no esquema Saia e Blusa

Lote Empresa
101 Auto Viação Brasil Luxo Ltda.
102 Auto Viação Nações Unidas Ltda. e Empresa Auto Ônibus Parada Inglesa Ltda.
103 Empresa Auto Ônibus Alto do Pari Ltda.
104 Empresa Auto Ônibus Penha São Miguel Ltda.
105 Consórcio Leste-Oeste (Empresa de Ônibus Viação São José Ltda. e Viação Leste-Oeste Ltda.)
106 Auto Viação Tabú Ltda. e Auto Viação Pompéia Ltda.
107 Consórcio Aricanduva (Empresa de Ônibus Santo Estevam Ltda. e Empresa Auto Ônibus Vila Carrão Ltda.)
108 Auxiliar e Alto da Mooca, ou Consórcio Sudeste (Companhia Auxiliar de Transportes Coletivos e Viação Urbana Transleste Ltda.) Depois a Alto da Mooca virou Transleste e a Vila Ipojuca virou Gato Branco
109 COOPERNOVE (Empresa Paulista de Ônibus Ltda. e Empresa de Ônibus Vila Ema Ltda.)
110 Empresa Auto Viação Taboão S.A. e Auto Viação São João Clímaco Ltda.
111 Viação Bristol Ltda.
112 Consórcio Jabaquara (Viação Paratodos Ltda. e TUPI – Transportes Urbanos Piratininga Ltda.)
113 Viação Canaã Ltda. e Viação e Garagem Mar Paulista Ltda.
114 Viação Bola Branca Ltda. e Viação N. Sra. do Socorro Ltda.
115 Auto Viação Jurema Ltda.
116 Empresa São Luís de Viação Ltda.
117 Consórcio Tânia-GATUSA (Viação Tânia de Transportes Ltda. e GATUSA – Garagem Americanópolis de Transportes Urbanos S.A.)
118 Viação Bandeirante Ltda. e Viação Auto Ônibus Santa Cecília Ltda.
119 Viação Castro Ltda. e Viação Santa Madalena Ltda.
120 Viação Gato Preto Ltda./Viação Gato Branco Ltda./Empresa de Ônibus Vila Ipojuca Ltda. ou somente Gato Preto e Vila Ipojuca
121 Viação Santa Brígida Ltda. e Empresa Auto Ônibus Vila Pirituba Ltda.
122 TUSA – Transportes Urbanos Ltda.
123 Viação Brasília S.A.ou Brasilia e Santa Amélia

O sistema Saia e Blusa foi o mais duradouro até o momento na cidade de São Paulo. Ele foi de 1978 até 1991, quando a então prefeita Luiza Erundina decide “municipalizar” o sistema de ônibus. A Prefeitura istrava os recursos obtidos nas catracas e remunerava as empresas prelos serviços prestados, o chamado quilômetro rodado.

Mas até mesma a classificação das regiões tomou como base o sistema de 1978, que muito mais que mudar as cores dos ônibus, reorganizou toda a prestação de serviços e São Paulo e consolidou grandes grupos empresariais, atuantes até hoje.

O PLANO SISTRAN E OLAVO SETÚBAL: sh2b

Uma das marcas da istração Olavo Setúbal (agosto/75 a julho/79), na capital paulista, foi a atuação no transporte de ageiros. Em época na qual o prefeito era nomeado pelo Governador do Estado, ele foi considerado um homem à frente de seu tempo. Muito mais que ações pirotécnicas, que só servem para ganhar eleição ou chamar a atenção da mídia, Setúbal e sua equipe tomaram medidas que alteraram a forma de se transportar ageiros na cidade. Algumas ações não foram consideradas ideais, masresolveram em parte as necessidades urgentes de deslocamento numa cidade que só crescia.

Primeiramente, se destaca o Plano Sistran – Sistema Integrado de Trólebus – que teve como um dos principais maestros o engenheiro Adrianno Branco. O Sistema previu não apenas o aumento do serviço de ônibus elétrico como criou uma nova geração desses veículos. O projeto inicial contemplava a criação de mais de 280 km de linhas de trólebus que se somariam aos 115 km já existentes e elevaria o número de veículos urbanos de tração elétrica para 1.280 ônibus. As exigências do Sistran fizeram a indústria nacional, em parceria com a CMTC – Companhia Municipal de Transportes Coletivos -, desenvolver um novo trólebus, baseado nos conceitos mais modernos adotados, principalmente, na Europa.

Foi até mesmo importado um trólebus alemão, Mercedes Benz O 305, para ser dissecado e estudado a fundo. Nascia assim, para todo o Brasil, um ônibus elétrico com sistema Copper, de controle eletrônico de velocidade por recortadores, piso mais baixo, direção hidráulica, melhor iluminação interna  e disposição dos bancos para o conforto dos ageiros, suspensão pneumática e portas mais largas.

Veja o que pode ser feito quando há vontade e sensibilidade política em relação aos transportes públicos. A iniciativa de uma cidade, no caso a de maior destaque econômico do País, fez com que fossem alteradas as formas de transportar em todo o território nacional.

O problema dos trólebus estava parcialmente resolvido, pelo menos encaminhado. Restava o sistema de transportes municipais. Linhas sobrepostas em detrimento a regiões de pouca demanda e de difícil o, sem oferta de transportes adequada. Lotações, ônibus velhos, excesso de empresas e falta de serviços. A cidade cresceu de forma desorganizada e os transportes também.

Em 1978, a equipe de Setúbal tenta reorganizar os transportes. Surge a primeira padronização das cores pela qual a parte de baixo dos ônibus (chamada de saia) indicava a região a ser servida. A cidade foi divida em 23 lotes operacionais. Bom para grandes empresários, que encampavam as viações menores. José Ruas Vaz, o maior transportador de São Paulo e dono da encarroçadora Caio, desde 2001, foi um dos grandes beneficiados na época. Mas, como nada se dá do dia para a noite, o início do sistema Saia e Blusa gerou muitas confusões entre usuários e até mesmo funcionários de empresas de ônibus.

Não seria possível padronizar todos ônibus de uma só vez. Então, foi um festival de veículos de uma mesma viação com cores diferentes. Por exemplo, o Grupo Gatti, de Luis Gatti, que fundou a Viação Gato Preto nos primórdios dos transportes por ônibus em São Paulo, tinha várias empresas: como a Trancolapa S.A, a Empresa Auto Ônibus Anastácio, a Empresa de ônibus Vila Hamburgueza, entre outras. Cada uma tinha uma cor diferente. Todas tiveram de se unir na Viação Gato Preto. Por mais que os serviços de funilaria e pintura não parassem, era impossível pintar toda a frota.

 

FOTO 2 SAIA E BLUSA

O mesmo ocorreu entre viações diferentes. Para não rearem totalmente seus serviços a empresas maiores, como havia proposto o poder público, os então proprietários da Viação Tupinambá e da Viação São Benedito fizeram uma espécie de acordo com a Transportes Urbanos Piratininga (TUPI).

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

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  1. Jânio disse:

    Faltou colocar no letreiro a antiga 574J Pedreira/Glicério. Hoje opera como Metrô conceição / Terminal vila Carrão

  2. Daniel Rodrigo Freiria disse:

    Aqui em Franca SP tinha nos anos 88 eles tinham um borrachao nas laterais achava muito legal, pintura creme em cima e vermelho em baixo com os escritos empresa são josé

  3. Santiago disse:

    Na minha juventude quando eu ei a ter uma rotina diária de casa-trabalho-escola-casa, a minha condução de todos os dias foram os Gabriela e Amélia, além dos clássicos Mercedes monobloco.
    Muito legal rever esses ônibus rodando décadas depois, agora na forma de relíquias históricas dos nossos transportes.

  4. Vanderlei Silva Lopes disse:

    Tomara que a Sptrans não implique com esse também!
    Lindo trabalho

  5. MARIO CESAR SILVA disse:

    Trabalho quase perfeito!
    Só não compreendi a troca das lanternas de Amélia 1 pelas de Amélia 2.
    A altura dos vidros das portas indica ser um Amélia 1, sem falar das fotos do “antes”.
    E a altura escolhida para as novas lanternas ficou fora do padrão real, em relação à configuração da carroceria.

    O”

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