VÍDEO INÉDITO E ENTREVISTA: Especialista dá dicas de como deve ser a condução segura e quais os procedimentos em caso de acidentes e incêndio em ônibus elétricos 6x402k
Publicado em: 14 de janeiro de 2025 6v2l3o

Tema ainda desperta muitas dúvidas. Profissional garante que veículos deste tipo são seguros, mas são necessários alguns cuidados diferentes em relação aos modelos a óleo diesel
ADAMO BAZANI
Colaborou Vinícius de Oliveira
Recentemente ocorrências envolvendo ônibus elétricos em São Paulo chamaram a atenção pelo ineditismo deste tipo de veículo e revelaram que há várias dúvidas quanto aos procedimentos a serem adotados em caso de batida, tombamento e incêndio.
Além disso, existem questionamentos sobre se a forma de condução pode ser a mesma em comparação com um ônibus a diesel e até sobre se os ônibus elétricos são seguros mesmo ou não.
O *Diário do Transporte* procurou, para estas respostas, um profissional que atua na linha de frente, que não tem ligação com fabricantes, mas está a par do dia a dia das operações das garagens do sistema de transportes da cidade de São Paulo, o que reúne a maior frota de ônibus elétricos a bateria do País, com cerca 300 veículos, muito embora, por falta de infraestrutura de recarga bem abaixo da meta de 2,6 mil unidades em circulação, como havia prometido o prefeito Ricardo Nunes até o fim de dezembro de 2024.
Ramon Rodrigo é motorista especializado em transporte coletivo de ageiros, de produtos perigosos, instrutor de trânsito e formando em tecnologia em segurança de trânsito.
O especialista, que atua na Express Transportes Urbanos, uma das concessionárias das linhas municipais da capital paulista e que possui modelos deste tipo, na entrevista ao *Diário do Transporte*, garantiu que ônibus elétricos são sim seguros, tanto na dirigibilidade e em caso de sinistros.
Mas adverte que este tipo de veículo requer cuidados diferenciados em relação aos modelos a diesel.
Ramon Rodrigo enviou ao *Diário do Transporte* um vídeo do Corpo de Bombeiros usado para treinamentos sobre o tombamento de um ônibus elétrico que pegou fogo, no dia 12 de dezembro de 2024, nas imediações da Praça João Mendes, no centro da capital paulista.
Pelas imagens, é nítida a preocupação dos Bombeiros de São Paulo quanto às chamas nas baterias e a necessidade de isolar a área.
Um dos homens do Corpo de Bombeiros alerta sobre o fato de as chamas voltarem cada vez que estão aparentemente controladas.
Em outro momento, um agente dos Bombeiros fala que não adiantava jogar água apenas, pelo contrário, seria pior.
Na ocasião, o *Diário do Transporte* obteve um vídeo exclusivo que mostra o exato momento do tombamento do ônibus, que ocorreu enquanto fazia uma curva. Aparentemente, o veículo estava em alta velocidade na curva, mas a análise integral dos dados do tacógrafo (espécie de caixa preta do ônibus) ainda será concluída.
Na ocasião, a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), que reúne fabricantes, garantiu que o modelo tem sistemas de segurança que foram eficientes ao confinar as chamas em um único ponto do ônibus, impedindo o alastramento para toda a carroceria e para o ambiente ao redor. O atrito contra um poste que ficou “encravado” entre baterias no teto do veículo é investigado também com um dos fatores que contribuíram para o início das chamas.
No acidente, o motorista, o cobrador e uma ageira grávida ficaram feridos, mas sem gravidade.
Relembre:
Ramon Rodrigo diz que a ocorrência se tornou emblemática por trazer alguns ensinamentos como:
*- Ônibus elétricos, em geral, são mais altos e pesados por causa das baterias no teto. Assim, velocidades em curvas e manobras devem ser mais reduzidas;*
*- Ônibus elétricos são muito fortes. Proporcionalmente possuem mais força e potência que os modelos a diesel. Assim, na hora do arranque, ao sair dos pontos, terminais, semáforos e garagem, a aceleração pelo motorista deve ser mais suave, pisando mais levemente no pedal;*
*- Ônibus elétricos são tão seguros e, em alguns aspectos, os ônibus elétricos podem até ser mais seguros que os ônibus a diesel, por causa de sistemas de contenção de chamas, mas a questão da frenagem regenerativa (para aproveitar e gerar energia) pode contribuir para o travamento das rodas, dependendo da forma de acionamento dos pedais e do nível de carga das baterias, um fator que poderia ser melhorado pelos fabricantes;*
*- Em caso de incêndio, até a chegada dos ônibus elétricos, é preferível usar extintores dos veículos com os materiais químicos indicados, evitando jogar água direto no foco, mas é pode ser indicado jogar ao redor para evitar que as chamas se alastrem e para contribuir com o resfriamento;*
*- Em caso de tombamento, todas as saídas de emergência devem ser acionadas, mas o para-brisa também pode ser área de escape, já que por causa das baterias no teto, pode não haver alçapões ou haver um número menor de alçapões no teto;*.
*- Há vários sistemas nos ônibus elétricos que minimizam ou até zeram os riscos de explosões, vazamentos de gases e superaquecimento, mas todas as possibilidades devem ser consideradas e é necessário estar preparado para tudo;*
_Veja na íntegra a entrevista_:
*1) Vimos recentemente alguns acidentes com ônibus elétricos, em especial em São Paulo. Em relação a dirigibilidade, quais são as principais diferenças e cuidados que estes ônibus exigem em comparação com os modelos a diesel?*
Para condução de um ônibus elétrico, precisamos saber que ele é um veículo mais alto e mais pesado devido a suas baterias e que sua condução acaba sendo diferenciada, por exemplo, em uma conversão que estamos acostumados a efetuar com uma certa
velocidade. Com um veículo elétrico precisamos nos atentar que geralmente as baterias do estão em cima, ou seja, a força da gravidade sobre o conjunto é maior do que um ônibus a diesel. Nos modelos a diesel, seu peso maior está na parte de trás (motor traseiro) ou na parte
da frente (motor dianteiro) onde o centro de gravide está se aplicando.
Outro ponto muito importante é o sistema de freios, que os veículos a bateria utilizam para fazer a sua regeneração de carga elétrica. Em alguns modelos, se o veículo não estiver abaixo de 97% de sua capacidade de carga, o freio regenerativo não funciona e, automaticamente, só o freio pneumático é acionado. Sob tempo chuvoso e pista molhada, esses tipos de veículos tendem a escorregar no asfalto ou sair de traseira devido ao seu sistema de freio, caso a condução não seja mais cautelosa.
*2) Quais os procedimentos básicos de “check” que o motorista deve ter antes de iniciar sua jornada todo dia num ônibus elétrico?*
Os principais procedimentos básicos do checklists de um ônibus elétrico é verificar os bancos de bateria no computador de bordo. A calibragem dos pneus é muito importante para segurança de todos. Outro fato que acaba ando desapercebido
são os bolsões de ar da suspensão, sempre com o reservatório de ar cheio, é necessário verificar se existem vazamentos de ar nos bolsões. Pneu descalibrado e bolsão irregular compromete muito a segurança desses veículos. No diesel também, mas pelos fatores peso e altura que comentamos, estes itens exigem mais atenção ainda nos elétricos.
*3) Na garagem, quais os principais cuidados e diferenças que esses ônibus elétricos exigem na manobra, lavação, estacionamento e durante o carregamento?*
Na garagem precisamos nos atentar a diversas situações. Uma delas é se lembrar da altura do veículo e preferir nunca estacionar perto deásarvores ou objetos que possa acabar perfurando as baterias.
Furar uma bateria de lítio pode causar um curto-circuito interno, que pode levar a uma explosão ou a um incêndio:
_Curto-circuito_
A perfuração pode criar um curto-circuito interno, que gera reações químicas exotérmicas. _Aumento de temperatura_
O aquecimento interno faz com que a bateria fique cada vez mais quente, podendo causar incêndios.
_Liberação de gases tóxicos_
As explosões liberam gases nocivos, que podem causar riscos respiratórios e envenenamento.
_Lesões físicas_
A força das explosões pode causar queimaduras, cortes e danos diretos a indivíduos.
Claro que os ônibus elétricos possuem sistemas de segurança inteligentes que minimizam muito as possibilidades de liberação de gases tóxicos, curto-circuito e superaquecimento, mas é necessário estar preparado para tudo.
É preciso também sempre manobrar com muita cautela, pois as respostas de aceleração desses veículos são instantâneas.
Sobre o carregamento, nunca efetuar manobras com o veliculo conectado ao carregador.
*4) Recentemente, vimos acidentes graves com ônibus elétricos, como este do vídeo com um veículo tombado e fogo na região das baterias. Caso ocorra algum sinistro ou defeito principalmente que gere incêndio, quais são os procedimentos indicados até a chegada dos Bombeiros?*
O procedimento padrão é a evacuação do veículo, tirando o mais rapidamente todas as pessoas. Em caso de tombamento, como vimos no vídeo, deve-se utilizar as saídas de emergência indicados e, no caso dos elétricos, estourar, quando possível, o para-brisa pois devido as baterias ficam no teto e estes veículos não possuem alçapão.
Se possível, afaste populares (pessoas no ambiente do acidente) para que não haja mais feridos em caso de explosão e, se possível combater o foco de incêndio com os extintores adequados no veículo. Em hipótese alguma jogue agua no foco para não gerar gás tóxico ou reação exotérmica
*5) Como estão sendo os treinamentos nas garagens?*
Os treinamentos estão sendo efetuados com todos os operadores nas garagens de São Paulo. Os que não aram ainda por esta capacitação, não podem conduzir os veículos. Os treinamentos mostram a funcionalidades nos painéis, os cuidados na condução e explicam sobre os bancos de bateria
*6) Ônibus elétricos são seguros?*
Sim, são seguros, no vídeo podemos ver que, quando o veículo tombou, houve atrito em um dos bancos de bateria e um foco de incêndio. Automaticamente, os bancos já desarmaram os circuitos para não agravar a situação.
Outra observação importante é que quando as baterias superaquecem, o veículo automaticamente desarma e desliga sozinho para evitar um incêndio. Algumas marcas de ônibus, cujo os bancos de baterias são na traseira do veículo, em caso de colisão podendo atingir os bancos de bateria ou em caso de foco de incêndio, é ativado um extintor químico para evitar maiores danos. Um ponto negativo acaba sendo o sistema de freios citado acima como os travamentos das rodas por causa da frenagem regenerativa. É um ponto que, no dia a dia, sentimos que as fabricantes precisam melhorar. Mas em linhas gerais, ônibus elétricos podem ser até mais seguros que os modelos a diesel.
*Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes*