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HISTÓRIA EM RETRATOS: Crônica sobre a Estação de Santo André nos anos de 1980 com fotos antigas preciosas 185g5m

Estacionamento que as empresas NIMA e SANTA RITA usavam para aguardar os horários de partida 15703w

O pesquisador especializado em mobilidade, Mario dos Santos Custódio, presenteia os leitores do Diário do Transporte com imagens e, acima de tudo, conhecimento histórico

ADAMO BAZANI

Crônica: Mario Custódio

Edição de Imagem: Guilherme Strabelli

A população estimada de Santo André, no ABC Paulista, para 2024 é de aproximadamente 780 mil pessoas, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Já nos anos 1980, a população de Santo André era de 553.072 habitantes.

Mas por que a comparação?

Porque nesta reportagem histórica especial, com a ajuda do pesquisador Mario dos Santos Custódio, o Diário do Transporte traz um panorama das atuais carências e da evolução da mobilidade no município.

Onde estão os terminais Santo André Oeste e Santo André Leste, na região central, eram baias sem cobertura e sem nenhum conforto para os ageiros.

Não havia linhas interestaduais de ônibus e os embarques e desembarques nos ônibus rodoviários que iam para o litoral Sul eram embaixo de um viaduto.

Terminais municipais, como o de Vila Luzita, nem eram sonhados na época, apesar do já “fervilhão” de pessoas.

Antes expoente da indústria, hoje se destacando em comércio e serviços, Santo André é uma das cidades mais relevantes do Estado de São Paulo e, para atender ao deslocamento de tantas pessoas, necessita de uma rede de transportes que, apesar de ter oferta para vários destinos, ainda recebe críticas e não atende plenamente aos anseios de toda esta população.

Mesmo porque, Santo André também é agem de pessoas que vêm de outros municípios em direção à capital paulista e, assim como os “vizinhos de região”, grande parte dos andreenses só encontra na cidade de São Paulo as oportunidades de emprego e renda que necessitam para sobreviver.

Santo André flutua entre ser uma cidade para se viver para determinada camada da população, que consegue suprir todas suas necessidades localmente, e, para muitos, é uma cidade dormitório.

Para ambas as realidades, é necessário ter uma rede de transportes não somente com linhas de ônibus, mas infraestrutura.

Se destacam hoje em Santo André, as estações da TM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) Prefeito Celso Daniel (no centro); prefeito Saladino e Utinga. Há estimativa da inauguração da Estação Pirelli (que já foi uma parada em épocas anteriores).

Em relação aos transportes sobre pneus, há os terminas metropolitano Santo André Oeste e Santo André Leste (no centro – um de cada lado da linha de trem com o à Estação Prefeito Celso Daniel). Ambos recebem linhas metropolitanas comuns e do Corredor ABD (de ônibus e trólebus) gerenciadas pela EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) e operadas pela NEXT Mobilidade, além de abrigarem linhas municipais de Santo André, gerenciadas pela SATrans (Santo André Transportes).

Também há o terminal tronco-alimentado de Vila Luzita, o bairro mais populoso de Santo André, que recebe linhas municipais AL (Alimentadoras), que vêm dos bairros mais distantes e TR (Troncais), que ligam a Vila Luzita ao Centro de Santo André. Os serviços são operados pela Suzantur.

Quanto aos transportes rodoviários intermunicipais e interestaduais de média e longa distância, o atendimento é feito no TERSA (Terminal Rodoviário de Santo André), que fica ao lado da Estação Prefeito Saladino, da TM, e recebe empresas como Viação Cometa, Viação Santa Cruz, Nova Itapemirim-Suzantur, Santa Maria, Roderotas, Pìracicabana, União, Penha, Útil/Guanabara, Águia Branca, Andorinha, Garcia, Catarinense e tantas outras.

Mas se hoje, apesar de toda esta estrutura, os anseios de deslocamento não são plenamente atendidos, nos anos 1980 os equipamentos para os ageiros de transportes eram mais simples ainda.

Quem explica é o pesquisador Mario dos Santos Custódio, por meio de uma informativa crônica.

Veja abaixo:

Olá amigos, leitores deste seleto Diário do Transporte. Venho hoje aqui para comentar a história dos transportes em Santo André, uma das cidades mais relevantes do estado de São Paulo.  Começo com uma foto antiga do início dos anos 1980, de autoria de Manoel Telles, de excelente qualidade, do acervo do Museu de Santo André Octaviano Gaiarsa, do qual tenho o prazer de fazer parte como Membro da Associação dos Amigos do Museu de Santo André – AMUSA.

Na foto em questão aparece a Estação de Santo André, muito antes da construção do terminal metropolitano de ônibus como conhecemos hoje.

Vou comentar também sobre outras três fotos, todas de minha autoria, Mario Custódio, referentes ao local de parada dos ônibus do “outro lado da Estação”, como diziam os andreenses, ao estacionamento que as empresas NIMA e SANTA RITA usavam para aguardar os horários de partida de inúmeras linhas, bem como à antiga estação rodoviária de Santo André.

Voltemos à foto de Manoel Telles:

Percebe-se claramente vários ônibus, o primeiro deles é da EAOSA (vindo de Mauá para São Caetano e São Paulo), à frente dele um ônibus da ALPINA (vindo do Jardim do Estádio, Vila Junqueira e Vila Linda, indo para Valparaíso, Vila Alice e Vila Guiomar), em seguida, entrando na baia um ônibus da PRÍNCIPE DE GALES (vindo do Casa Branca ou Hospital Brasil, indo para a Vila Palmares – De lá saíam também os ônibus da mesma empresa para Rudge Ramos e Valparaíso). Lá na frente um ônibus da RIBEIRÃO PIRES (vindo de Ribeirão Pires e Mauá e indo para São Caetano e São Paulo). Nas baias vemos dois ônibus da SÃO JOSÉ (que iam para a Região da Vila Luzita em várias linhas) e à logo adiante um da HUMAITÁ (que servia a Região da Vila Humaitá).

À direita da foto, onde estão vários automóveis FUSCA, fica a Estação Ferroviária de Santo André, em características diferentes dos dias atuais, talvez mais provinciana, mais saudosa. Percebemos também o movimento dos vendedores ambulantes, todos buscando vender suas mercadorias para fazer a féria do dia para o sustento de suas famílias.

Para quem não conhece bem Santo André, a via onde os ônibus estão ando é a Rua Itambé, que a embaixo do Viaduto Pedro Dell’Antonia, existente muito antes do viaduto novo que construíram e que fica atrás de onde está ando o ônibus da EAOSA (o primeiro da fila).

No final do Viaduto Pedro Dell’Antonia fica a Avenida Industrial, que liga Santo André a Prefeito Saladino, Utinga e São Caetano.

Lá no final da rua, onde está o ônibus da RIBEIRÃO PIRES (o último da foto), pouco à frente ficava a garagem da extinta VILA ALPINA, sucedida pela ALPINA, o ônibus azul e branco que aparece na foto. Nem todas as empresas entravam nas baias. As intermunicipais EAOSA e RIBEIRÃO PIRES e as municipais ALPINA e CAMPESTRE avam direto com seus carros.

Nessa época a ABC, que ligava Santo André a São Bernardo de forma direta pela Avenida Pereira Barreto e numa linha chamada “via Gilda – Baeta”, ou seja, via Vila Gilda e Vila Baeta Neves (subia a Avenida Portugal, encontrava a Avenida Pereira Barreto e entrava pela Vila Baeta Neves), saía com seus ônibus numa baia que ficava um pouco atrás do ônibus da EAOSA, o primeiro da foto.

O movimento no Centro de Santo André era assustador. Era gente para todo lado. E quando chegavam os chamados trens subúrbios da RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.), a ferrovia que substituiu a SANTOS – JUNDIAÍ e que foi substituída pela TM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), fervia de gente a estação. Nessa época as porteiras ainda estavam abertas, não mais para veículos, mas para as pessoas, e como avam os subúrbios e os trens de carga praticamente a todo momento, era um desafio constante aguardar o momento de atravessar para o outro lado, através das cancelas e dos trilhos, até porque era o único meio de chegar às bilheterias e plataformas que levavam à Pirelli (Parada que existia), bem como às Estações de Capuava, Mauá, Ribeirão Pires, Elclor (Parada), Campo Grande e Paranapiacaba. Também havia uma arela de ferro, mas nem todos a utilizavam.

E o outro lado da Estação de Santo André?

 

Do outro lado tínhamos o JUMBO ELETRO, um mercado enorme que tinha sido aberto pelo PÃO DE AÇÚCAR, cuja novidade causou espanto nos moradores da cidade e cidades vizinhas. Tínhamos também a RHODIA e a OTIS, todas próximas à Estação.

E havia várias companhias de ônibus que chegavam desde muito tempo em pontos iniciais que levavam ageiros aos bairros de Santo André que ficavam do outro lado da linha, como nós dizíamos, assim como para inúmeros bairros de São Paulo que ficavam até mais perto de Santo André do que da Praça da Sé. Havia linhas para MAUÁ e SÃO CAETANO também. As empresas CURUÇÁ (linhas para a Região da Vila Curuçá, Parque Erasmo Assunção e Parque João Ramalho), NIMA (linhas para a Região do Parque Novo Oratório, Capuava e Mauá), PARQUE DAS NAÇÕES (linhas para a Região do Parque das Nações, Jardim das Maravilhas, Jardim Utinga e bairros de São Paulo, entre os quais Jardim Tietê e Mascarenhas de Moraes, SÃO CAMILO (linha para São Caetano via Vila Prosperidade), SANTA RITA (linhas para a Região de São Mateus, Jardim Sílvia Maria, Parque São Rafael, Jardim Santo André, Jardim Vila Carrão, Guaianazes, Cidade Satélite Santa Bárbara, Jardim Colorado. Jardim Tietê) e UTINGA (linhas para Utinga, Iguassu, Jardim Grimaldi, Conjunto José Bonifácio e Itaquera). Na foto que disponibilizo vemos ônibus dessas empresas. A CURUÇÁ, nessa época, tinha as cores verde e branca, havendo dois ônibus na foto, à direita.

Podemos perceber também, na foto, os carros antigos, particularmente um AT e um 1600, que atravessaram gerações.

O movimento do outro lado da Estação também fervilhava quando chegavam os subúrbios vindos de São Paulo, da Estação da Luz em diante, pois os trens faziam ponto inicial naquela importante estação ferroviária.

E os ônibus rodoviários?

Havia estação rodoviária como conhecemos hoje em dia? Não, não havia. As três empresas que operavam ônibus rodoviários em Santo André naquela época eram a RIBEIRÃO PIRES, a SANTA MARIA e a SANTA ROSA. Todas tinham agências de venda de agens próprias, que ficavam no centro da cidade de Santo André.

A RIBEIRÃO PIRES ligava Santo André a São Paulo, antes até a Rodoviária Júlio Prestes, na Região da Luz, e quando foi inaugurado o Terminal Tietê os ônibus aram a sair da Avenida Cruzeiro do Sul, em frente ao terminal. A RIBEIRÃO PIRES também ligava Santo André a Mauá e Ribeirão Pires.

A SANTA MARIA vinha de Mogi das Cruzes e ligava Santo André com Santos e São Vicente.

E a SANTA ROSA vinha de São Caetano indo para Santos e São Vicente. Anteriormente a SANTA ROSA vinha da Penha via Mooca, Vila Prudente e São Caetano.

Posteriormente criaram uma estação rodoviária embaixo do Viaduto Ramiro Colleoni, hoje Viaduto ACISA (vejam a foto). De lá partiam os ônibus do BRASILEIRO (que sucedeu a SANTA ROSA e que foi sucedido pela COMETA), para Santos e São Vicente, além dos ônibus da SAMAVISA (a mesma SANTA MARIA, que foi sucedida pela COMETA), para Aparecida, São José dos Campos, Mogi das Cruzes, Santos e São Vicente.

Tempos depois inauguraram o TERSA (Terminal Rodoviário de Santo André) ao lado da estação Prefeito Saladino, da TM, que funciona até hoje. Mas isso é outra história.

Texto de Abertura: Adamo Bazani

Texto da Crônica: Mario Custódio

Edição de Imagem: Guilherme Strabelli

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