Eletromobilidade

VÍDEO ESPECIAL: Diário do Transporte conferiu com exclusividade como funcionam os ônibus elétricos, o eletroterminal e a usina de geração por energia solar em Cascavel (PR) 2v5e3z

Prefeitura quer dobrar quantidade de veículos a eletricidade até o fim de 2025 e diz que modelos atuais da Higer estão com resultados melhor que o esperado inicialmente

ADAMO BAZANI

Colaborou Vinícius de Oliveira

AO FIM DA REPORTAGEM. VOCÊ VÊ VÁRIAS FOTOS:

A prefeitura de Cascavel, município com cerca de 360 mil habitantes na região Oeste do estado do Paraná, quer que em dez anos todos os mais de 150 ônibus da cidade sejam elétricos.

Até o fim de 2025, a meta é dobrar a frota dos atuais 15 para 30 ônibus elétricos.

A informação é do prefeito Leonaldo Paranhos da Silva (PODEMOS), que conversou na última quarta-feira, 30 de outubro de 2024, com o Diário do Transporte. A meta em curto prazo ficará sob responsabilidade do sucessor Renato Silva (PL), que é atualmente vice-prefeito de Cascavel e assume o mandato em 1º de janeiro de 2025. Renato Silva foi eleito no primeiro turno das eleições municipais, em 07 de outubro de 2024, com 95.168 votos, 56,41% dos votos válidos.

Com 30 ônibus elétricos, 100% das linhas troncais contariam com uma frota sem emissões.

Cascavel tem cinco terminais de integração conectados pelas linhas troncais.

Há também as linhas que fazem o transporte entre os bairros e estes terminais.

No próximo dia 09 de dezembro de 2024 deve ocorrer a licitação do sistema de transportes. O edital está disponível.

O desenho da malha continua com dois lotes operacionais como hoje, linhas locais e troncais, mas prevê uma novidade: linhas distritais.

Dobrar a quantidade de ônibus elétricos nas linhas troncais da cidade, que é considerada de médio porte, não deve ser uma tarefa muito difícil.

Financiamento garantido para expansão da frota:

A secretária de finanças de Cascavel, Simoni Soares, disse ao Diário do Transporte que a cidade já tem disponíveis R$ 52,7 milhões em linhas de financiamento por meio do BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul), com recursos federais que seriam suficientes para a compra de 15 ônibus elétricos e dos módulos que dobrariam a capacidade dos atuais carregadores.

Infraestrutura:

Segundo Simoni Soares, para este aumento de frota previsto até o fim de 2025, o principal foi superado na implantação do projeto: as questões relativas à infraestrutura, geração e distribuição da energia.

Cascavel tem um eletroterminal ao lado do terminal Oeste, onde os ônibus carregam as baterias. O local foi escolhido para evitar a chamada quilometragem morta, ou seja, a distância percorrida entre as garagens e os terminais de ageiros.

Mas o que destaca o sistema de ônibus elétricos de Cascavel é que ele é autossustentável, não dependendo da energia que é usada pelas casas, hospitais e comércios. Isso porque, uma usina de energia solar gera eletricidade suficiente para a recarga diária de 30 ônibus e o abastecimento de prédios públicos. Ou seja, os 15 ônibus atuais e os próximos 15 que serão incluídos têm energia garantida.

O engenheiro da prefeitura, Elmo Rowe Júnior, responsável pela “fazenda solar”, instalada sobre um aterro sanitário na cidade, explicou ao Diário do Transporte que a usina possui cinco mil placas em painéis solares que geram energia, jogam na rede de distribuição e o município é compensado financeiramente por esta energia.

Elmo Rowe explicou que a usina gera 437,5 mil kw/h por mês. Isso, de acordo com o engenheiro, proporciona pelo atual preço da energia, cerca de R$ 330 mil de economia por mês.

Por ano, esta economia pode chegar a R$ 3,7 milhões. Como a usina custou em torno de R$ 12 milhões para ser construída e começar a funcionar, a estimativa é com, com a economia de energia, num período entre três e quatro anos, ela se paga.

Custo de total eletrificação e todas as etapas integradas, apesar de licitações diferentes:

A secretária de finanças de Cascavel, Simoni Soares, disse ao Diário do Transporte que todo o projeto de eletrificação dos transportes da cidade paranaense custou pouco menos de R$ 70 milhões, entre veículos, infraestrutura, carregadores, eletroterminal e usina de energia. Foram quatro licitações diferentes por causa da expertise de cada fornecedor, mas todas integradas com as diversas partes se conversando.

O eletroterminal teve duas licitações, uma para a base e preparo do terreno e outra para os equipamentos e carregadores. O sistema tem nove carregadores, sendo dois carregadores de oportunidade para recarga rápida em terminais e sete no eletroterminal, dos quais, um de 360 kw e seis de 180 Kw. Todos foram fornecidos pela empresa Nansen, vencedora da licitação.

Foi realizada também uma licitação para a venda dos 15 ônibus, vencida pela TEVX Higer (veja abaixo os detalhes dos veículos) e outra licitação para a usina de energia solar.

Os ônibus:

Atualmente, a frota de 15 ônibus elétricos é composta de 13 unidades do tipo padron de 13 metros de comprimento e dois articulados de 18 metros.

Todos os ônibus foram fabricados na China, pela empresa Higer Bus, que tem representação no Brasil pela TEVX e, como mostrou o Diário do Transporte, pretende a partir do primeiro semestre de 2025 instalar uma planta de produção brasileira.

Relembre:

/2024/10/31/entrevista-exclusiva-higer-vai-instalar-fabrica-no-brasil-no-primeiro-semestre-de-2025-e-traz-sete-veiculos-para-o-mercado/

O Diário do Transporte esteve em Cascavel nos dias 30 e 31 de outubro de 2024 a convite da Higer.

A fabricante foi selecionada para fornecer os ônibus por meio de uma licitação concluída em abril de 2023. Os três primeiros veículos começaram a operar em 06 de agosto de 2024 e os demais foram entrando em funcionamento de forma gradativa até que 06 de setembro de 2024 todos os 15 coletivos atuais aram a atuar nas linhas.

Cada ônibus de 13 metros tem capacidade para 73 pessoas, sendo 25 sentadas e 48 em pé. Já cada articulado foi configurado para ter uma capacidade para 131 ageiros, dos quais, 37 sentados e 94 em pé.

Entre as características dos veículos, que não emitem poluição nas operações e geram baixo ruído, estão ar-condicionado, telões internos para entretenimento dos ageiros, carregadores USB de celulares nos bancos e nos balaústres também para quem viaja em pé e piso baixo em toda a extensão da carroceria, sem degraus em nenhuma das portas.

Simoni Soares esteve à frente de todo o projeto de eletrificação dos transportes da cidade, que começou em 2021, e foi presidente da Transitar, que é o órgão gestor de mobilidade de Cascavel. A secretária disse que os ônibus estão surpreendendo positivamente, inclusive entregando mais que as exigências do edital.

Os veículos foram comprados pela prefeitura e são operados pelas duas empresas de ônibus da cidade: Viação Capital do Oeste Ltda e Pioneira Transporte Coletivo.

A licitação determinava baterias com autonomia de 250 km, mas, em média, esta autonomia na cidade de Cascavel tem sido de 330 km, segundo Simoni Soares.

Com isso, o tempo de recarga completa tem sido menor e há uma expectativa de a bateria durar mais até a primeira troca, prevista inicialmente para ocorrer em oito anos.

A atual secretária de finanças também conta que a economia de energia de tração tem sido superior à expectativa inicial. Segundo Simoni Soares, operar estes ônibus elétricos está sendo 78% mais barato em comparação ao preço do óleo diesel. A estimativa era de uma redução de 50% a 60% nos custos com energia de tração.

Por causa deste resultado econômico, a gestora estima que os ônibus se paguem num período menor aos seis anos previstos anteriormente.

Uma das explicações de os resultados até o momento serem mais positivos que o esperado é que os ônibus são integrais, do tipo monobloco, integrando chassi, carroceria e motores. Segundo a Higer, isso permite uma redução de peso entre 20% e 30% em relação aos ônibus elétricos com chassis + carrocerias. O padron de 13 metros da Higer, por exemplo, pesa em torno de 14,2 toneladas, praticamente o mesmo peso de um “micrão” de 11 metros a diesel.

Simoni Soares explicou que a licitação exigiu que os modelos dos ônibus se adaptassem à infraestrutura viária da cidade, que possui paradas cobertas com limitação de altura, guias para piso baixo e não estações elevadas e corredores de asfalto e não de concreto. O peso menor danifica menos o asfalto que não é tão resistente quanto o concreto.

Modelos mais pesados obrigariam reparos constantes no asfalto ou troca de todo o pavimento por concreto.

Os ônibus elétricos circulam em corredores à esquerda do fluxo e possuem portas dos dois lados. O edital exigia uma configuração de portas específica para a cidade.

O CEO da TEVX Higer do Brasil, Carlos Eduardo Cardoso de Souza, disse que uma das características do processo de produção dos monoblocos é justamente permitir mais facilmente e fielmente as personalizações necessárias para cada empresa de ônibus e cada sistema de transportes.

Todas as exigências são captadas pelos representantes da fábrica no Brasil e o produção personalizada é feita na China.

Além disso, a resistência dos ônibus devido ao processo de fabricação é maior, ampliando a durabilidade e deixando a manutenção mais barata.

Carlos Eduardo Cardoso de Souza, que já atuou na ENEL-X, também explica que a Higer, apesar de ser vencedora da concorrência para fornecer os ônibus, não se limitou apenas aos veículos, mas participou junto com as ganhadoras das outras licitações para a infraestrutura de todo o processo de eletrificação.

O executivo considera o sistema de Cascavel um dos “cases” da marca chinesa no Brasil.

Com a palavra, motoristas e ageiros:

O Diário do Transporte fez a partir de por volta de 12h da quarta-feira, 30 de outubro de 2024, viagens com dois ônibus elétricos em Cascavel e ouviu os motoristas e alguns ageiros.

Os termômetros de rua marcavam 31 graus e o sol estava bastante forte.

Foram utilizadas duas linhas. A Terminal Oeste a Terminal Sudoeste, na qual reportagem andou no ônibus padron, de operação da empresa Capital do Oeste.

Já na linha Leste Oeste, foi utilizado o ônibus elétrico articulado operado pela companhia Pioneira.

A avaliação dos motoristas foi unânime em destacar os pontos positivos dos ônibus elétricos.

O motorista da empresa Viação Capital do Oeste, Maurício da Rosa, que no momento da reportagem dirigia na linha Terminal Oeste a Terminal Sudoeste, destacou que o fato de os veículos não terem trocas manuais de marchas, contarem com ar-condicionado e terem sistemas de segurança que evitam acelerações com portas abertas deixam o trabalho mais suave e tranquilo.

Já o motorista do ônibus articulado, Antônio Siqueira, disse que ao fim da jornada, ele e os demais colegas que trabalham com os modelos elétricos chegam bem menos cansados em casa, o que melhora até mesmo o humor, o relacionamento com a família e os amigos e a qualidade do tempo de folga.

Os ageiros também aprovaram. Inclusive, alguns usuários declararam que deixam ar os ônibus a diesel para esperar os elétricos, quando dá tempo.

A usuária Inês Babisco, que estava no modelo padron de 13 metros, disse que estava usando um ônibus elétrico pela primeira vez no momento da entrevista e que se impressionou com o conforto porque praticamente não havia vibrações.

Mas também houve críticas.

A ageira do ônibus padron Natieli Souza dos Santos relatou que o veículo é bom, mas achou pequeno e pouco espaçoso por dentro. Ela destacou que, em cima das rodas, só há bancos com um lugar e que a parte de trás cabe menos gente. O modelo possui baterias em cima, no teto, e também na parte de trás, o que “toma” espaço interno, na opinião da ageira.

Já o ageiro Marcelo Leopoldo, que é cego, disse que pelo fato de o ônibus ser elétrico e silencioso, quem não enxerga não consegue identificar a aproximação do veículo nos pontos. Marcelo, que conversou com o Diário do Transporte dentro do modelo elétrico articulado operado pela empresa Pioneira, sugeriu que fosse instalado um sistema sonoro que avise a aproximação do veículo.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários 72495v

  1. Santiago disse:

    Meus parabéns à Prefeitura de Cascavel!!!
    Não basta somente adquirir ônibus a bateria, mas principalmente garantir que eles usem eletricidade limpa. E melhor ainda neste caso: Sem interferência na rede elétrica local.

    E que tais medidas também se tornem uma condicionante no País todo, ao se adotar veículos a baterias em projetos de descarbonização.

    Sigamos o exemplo de Cascavel:
    Não basta só plugar na tomada, a eletricidade tem que ser limpa!!!

  2. Romano disse:

    Parabéns pra cidade de Cascavel que se tornou exemplo pro mundo de como planejar e executar com maestria um projeto amplo de mobilidade urbana, focada na sustentabilidade!
    Do mesmo modo, deve-se congratular a empresa TEVx-Higer do Brasil que vem fazendo um trabalho muito relevante com a possibilidade de fornecer além dos ônibus elétricos em si , um projeto completo de infraestrutura.

  3. Cotovias disse:

    Parabéns! Isso que é ônibus, não os lixos fabricados pela Eletra que são gambiarra pura! 100% brasileiro 100% gambiarra

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