Diário do Transporte traz achado e uma recordação de um dos nomes mais queridos da preservação da memória dos transportes no Brasil 48265p
ADAMO BAZANI
Colaborou Vinícius de Oliveira com edição de imagem
VÍDEO:
Quando os profissionais, entusiastas, gestores e empreendedores dos transportes falam que o setor é paixão e emoção, é muito mais nas pequenas coisas que se pode achar o real significado desta frase.
Foi o que vivenciou este repórter numa tarde de sábado, temperatura amena e um belo pôr do Sol de outono no dia 30 de março de 2024, ao revirar memórias e recordações em sua casa, na cidade de Santo André (SP).
Sobre uma velha TV de tubo, de 14 polegada em um estante, estava um crachá de visitante da antiga garagem da Viação Itapemirim, em Guarulhos, ainda quando a empresa, que foi à falência e teve as linhas assumidas pela Suzantur, do ABC Paulista, era istrada pela família Cola, fundadora.
O crachá se referia a uma cobertura de um evento sobre os 60 anos de fundação da companhia, que foi uma das maiores do setor rodoviário da América Latina.
O encontro foi realizado em 18 de maio de 2013, ocasião em que foram apresentados ônibus de dois andares estilizados com as pinturas mais tradicionais da Itapemirim.
Relembre a matéria:
/2013/05/18/viacao-itapemirim-ha-60-anos-sinonimo-de-brasil/
O material em si já seria uma recordação importante, tanto da memória da empresa como das coberturas jornalísticas do setor do Diário do Transporte.
Mas a parte de trás do crachá que despertou a atenção.
Era uma mensagem, escrita de próprio punho, por um dos nomes mais queridos e carismáticos da preservação da memória dos transportes que, infelizmente, morreu em decorrência da covid-19, aos 68 anos de idade, no dia 26 de abril de 2021.
A mensagem é de Antônio Kaio Castro, fundador do Primeiro Clube do Ônibus Antigo Brasileiro e criador do evento VVR (Viver, Ver e Rever), uma das mais tradicionais exposições de veículos pesados antigos do País e que se tornou mais conhecida quando ou ser realizada no Memorial da América Latina, na Barra Funda, zona oeste da capital paulista.
O texto dizia:
Guarulhos, SP – 18.05.13.
Viação Itapemirim – 60 anos
Ao lado do amigo Ádamo, neste momento histórico. Graças dou por este instante.
Kaio Castro
Inicialmente, de fonte jornalística, por causa da VVR, Kaio Castro se tornou amigo.
Foram várias viagens juntos, como a com o ônibus CMA – Scania, prefixo 7455, restaurado pela Viação Cometa, em uma das rotas comemorativas dos 65 anos da empresa, realizada em setembro de 2013, entre São Paulo (SP) e Juiz de Fora (MG).
Relembre:
/2013/09/02/viacao-cometa-65-anos-uma-maquina-do-tempo-uma-nave-dos-sonhos/
As conversas ao telefone, bem longas por sinal, começaram com ônibus, mas logo enveredavam para os mais variados assuntos.
A VVR teve um significado especial na vida deste repórter.
Em 2008, ao se recuperar de uma severa cirurgia por causa de um acidente de trânsito, com a colocação de 27 peças ao longo da coluna, com o risco de ficar para sempre em uma cadeira de rodas, este repórter, que à época trabalhava na Rádio CBN de São Paulo, ainda com bengala, mesmo que com 29 anos de idade, tomou coragem e, apesar das limitações motoras e pela intensa dor, decidiu ir de Santo André à VVR, na Barra Funda.
Com o apoio e companhia do pai, Wilson Bazani, e da mãe, Ada Alonso Justo Bazani, pegou um táxi, dirigido pelo Ronaldo, e foi ao evento. Choveu muito e um ônibus de dois andares urbano que operou pela CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos) de São Paulo, um dos veículos expostos, serviu de abrigo.
Foram momentos que permitiram esquecer um pouco da dor. E, de acordo com o Dr. Fernando Carvalho, o cirurgião, e com a fisioterapeuta, Vanessa Ramalho Cabanas, profissionais responsáveis pelo fantasma da cadeira de rodas ser afastado, a ida à VVR foi fundamental na recuperação.
A VVR deu frutos e a amizade com Kaio mostrou que transporte sim, é emoção e paixão.
Abaixo das fotos, um pouco mais da história de Kaio e da VVR.
Kaio iniciou a carreira na área de transportes na Expresso Redenção, em Taubaté, também no interior paulista, no final dos anos de 1980, quando a empresa se expandiu para a capital .
A ideia da VVR surgiu em 2003 pela paixão por veículos antigos que Kaio sempre cultivou. Na época, o profissional gerenciava a filial na cidade de São Paulo da empresa de fretamento Expresso Redenção, que tem sede em Taubaté, no interior paulista.
Kaio havia percebido que existiam eventos de carros antigos, mas não de ônibus. Como tinha contato com outras empresas, foi “garimpando” verdadeiros tesouros nas garagens. Muitos empresários guardavam e restauravam modelos antigos que, ao contarem as memórias dos seus negócios, retratavam também a história das regiões onde prestavam serviços.
Em maio 2004, ocorreu a primeira exposição na garagem da Expresso Redenção. O evento foi crescendo até que em 2007 começou a ser realizado no Memorial da América Latina, na zona Oeste de São Paulo. A VVR faz parte do Calendário Turístico Oficial desde 04 de maio de 2011, quando o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, aprovou projeto de lei 1295, de 2009, à época do deputado Bruno Covas, hoje prefeito de São Paulo.
Kaio conta que a VVR começou a dar frutos e hoje são realizados diversos eventos semelhantes em todo o País, como no interior de Minas Gerais e, em Nova Hamburgo, no Rio Grande do Sul.
Relembre algumas imagens de Kaio. com uma entrevista em vídeo de 2013 e a VVR em anos diferentes por fotos
Da esquerda para a direita: o entusiasta André, o motorista Ricieli Antunes, o presidente do Primeiro Clube do Ônibus Antigo Brasileiro, Antônio Kaio Castro, o repórter Adamo Bazani e o gerente da filial da Cometa de Juiz de Fora, Bruno Silva. Foto: Sacramento
Na foto, repórter Adamo Bazani, a funcionária da Cometa Adriana, e o presidente do Primeiro Clube do ônibus Antigo Brasileiro. Foto: Amigos Colecionadores e Entusiastas
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes