Eletromobilidade

Capital da Estônia decide retomar investimento em trólebus a bateria ao invés de comprar ônibus elétricos puros 195i3o

Foto: Divulgação

Cidade decidiu suspender processo de desmantelamento da rede atual diante dos altos investimentos que teria de fazer em infraestrutura para ar uma frota maior de elétricos

ALEXANDRE PELEGI

A prefeitura de Talín, capital da Estônia, cidade com cerca de 400 mil habitantes, acaba de anunciar a compra de 40 trólebus com baterias.

A medida representa uma guinada no processo de desmonte da rede, iniciado há 24 anos. A cidade, que já teve nove linhas de trólebus, hoje mantém apenas quatro.

O prefeito de Talín justificou o reinvestimento em trólebus como forma de evitar o alto custo na implantação de estações de recarga para uma frota puramente elétrica. Com os trólebus, a prefeitura segue com a meta de alcançar um transporte livre de emissões até 2035, mas com um custo menor.

Para a mídia local o prefeito explicou a compra dos trólebus a bateria, ressaltando que para manter uma frota de ônibus elétricos é necessário ter capacidade de carregamento nos terminais. “Fizemos uma análise de quanta capacidade temos agora e quanto poderíamos adicionar sem ter que fazer um investimento multimilionário na rede. Esses cálculos mostram que com a nossa capacidade atual podemos manter cerca de 60 ônibus elétricos”, disse o prefeito.

Como já temos infraestrutura de trólebus e experiência com manutenção desse tipo de veículos, seria um desperdício descartar tudo. Temos essa infraestrutura e esperamos que ela nos sirva por décadas. Se mantido adequadamente, pode durar até 50 anos”, explicou o prefeito,

Com o desmantelamento da rede de trólebus iniciado em 2000, as linhas aéreas no centro da cidade já foram removidas. Assim, as rotas operadas por trólebus utilizarão baterias para ampliar seu alcance.

A nova frota será composta por 22 trólebus longos (18 metros) e 18 regulares (12 metros). A estimativa de custo total é de aproximadamente 30 milhões de euros (cerca de R$ 160 milhões).

Atualmente a cidade possui uma frota de 30 ônibus elétricos.

SÃO PAULO E OS TRÓLEBUS

A cidade de São Paulo tem hoje 201 trólebus em operação. Mas o atual prefeito já manifestou a intenção de desativar este sistema, que opera desde 1949.

No ano ado o prefeito Ricardo Nunes alegou custos de manutenção da rede e impactos visuais como principais motivos.

Um dos responsáveis pelo Movimento Respira São Paulo, fundado em 2004 com o objetivo de incentivar o uso da tração elétrica no transporte coletivo urbano, Jorge Françozo de Moraes, diz que há motivos técnicos, financeiros e políticos para que o sistema de trólebus seja mantido.

Como mostrou o Diário do Transporte, no dia 18 de setembro de 2023, durante a entrega dos 50 primeiros ônibus elétricos com bateria da nova geração, Nunes disse que que os trólebus atrapalham os projetos de aterramento da fiação e que a manutenção da rede aérea custa R$ 30 milhões por ano.

Nunes ainda citou grupos de defensores de trólebus, mas disse que como prefeito, não pode ter predileção por nenhum tipo de veículo em específico.

Relembre:

OUÇA: Subsídios vão aumentar com ônibus elétricos e Nunes confirma que quer fim gradativo de trólebus

Segundo Françozo, em artigo enviado ao Diário do Transporte, o valor de R$ 30 milhões por ano para manutenção da infraestrutura elétrica representa R$ 150 mil por trólebus no período.

“Este valor é irrisório, comparado aos bilhões de Reais em subsídios para sistema de ônibus”

O especialista ainda diz que a rede de trólebus não atrapalha o projeto de aterramento da fiação na cidade.

“A afirmação de que a rede de trólebus está atrapalhando o processo de enterramento de fios na cidade é completamente infundada As redes de estão presentes em meros 200 quilômetros espalhados pela cidade e se trata de um serviço público essencial, que é o transporte de ageiros, por veículos não poluentes. A presença de dois ou quatro fios, sobre as vias, ou dos cabos alimentadores nos postes, ao longo das ruas, fora da área central, não são tão intrusivos quanto ao grotesco emaranhado de fios de comunicação e TVs a cabos, ao longo das calçadas, que surgiram somente nas últimas décadas.” – explica.

O especialista ainda diz que existem já modelos de ônibus que podem operar uma parte na rede área e outra parte com baterias, chamados E-Trol.

VALE A PENA INVESTIR EM TRÓLEBUS?

O Podcast do Transporte mostrou que o historiador e professor do Departamento de Engenharia e Sociedade da Universidade da Virgínia, dos Estados Unidos, Peter Norton, é um defensor da manutenção dos trólebus na cidade de São Paulo.

Norton diz que o foco deve ser substituir os ônibus poluentes pelos veículos com bateria e não tirar os trólebus, que não poluem.

“Seria muito melhor gastar seu dinheiro atualizando, melhorando, dando manutenção e substituindo qualquer coisa que você precise fazer para o trólebus continuar operando do que o substituir por veículos elétricos a bateria . O importante é analisar tudo e fazer escolhas baseadas no que de fato a tecnologia pode oferecer. A decisão não pode ser porque isso ou aquilo é mais chamativo, porque às vezes a novidade é o melhor que temos, mas nem sempre é assim”.

Relembre e ouça a entrevista completa:

/2023/10/19/fim-do-trolebus-em-sao-paulo-pesquisador-internacional-defende-manutencao-de-trolebus-em-sao-paulo/

COMO FICA A ENERGIA?

A SPTrans (São Paulo Transporte), que gerencia o sistema de ônibus municipais da capital paulista, informou ao Diário do Transporte em novembro de 2023, que a rede de energia na cidade terá de ar por modificações para dar conta do crescimento da frota de ônibus elétricos.

A promessa da prefeitura é de que até o fim de 2024, estejam em circulação entre 2,4 mil e 2,6 mil ônibus elétricos com bateria.

Atualmente, são 69 veículos deste tipo, sendo 50 da nova geração e o restante um pouco mais antigo.

Segundo a gerenciadora, em nota ao Diário do Transporte, “atualmente a demanda de energia para a recarga da frota está dentro do limite previsto pela Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] para os circuitos de média tensão que estão instalados na cidade”, porém, com o crescimento da frota de ônibus elétricos “será necessária a utilização de circuitos de alta tensão, como ocorre atualmente nas linhas do sistema metroferroviário”.

Em outras palavras, para a atual frota, a rede elétrica dá conta, mas com mais ônibus elétricos, a capacidade de fornecimento do sistema de energia vai ter de aumentar.

E, para isso, serão necessários investimentos.

Os custos dessa adequação não foram informados, mas técnicos da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) estimam investimentos entre R$ 45 milhões e R$ 50 milhões [por localização das garagens]. Como há 32 garagens na cidade, os custos podem ser entre R$ 1,44 bilhão e R$ 1,6 bilhão somente para adequações.

Quem vai pagar esta conta ainda não foi definido.

Um estudo feito pelo órgão mostra potenciais fragilidades do sistema de energia. Por exemplo: para que um ônibus carregue em aproximadamente três horas é necessário um carregador DC de 150 kW. Se multiplicar 150 kW por 50 ônibus (carregamento simultâneo), haverá uma demanda de 7,5 MW e somando a demanda atual das garagens, haverá um consumo final em torno de 7,8 MW.

Ainda de acordo com a SPTrans, a ENEL, responsável pelo fornecimento de energia em São Paulo “possui conhecimento do plano de eletrificação da frota de ônibus da cidade” e que reuniões estão sendo feitas sobre o tema.

A SPTrans reforçou, ainda na nota, que a maior parte dos ônibus elétricos vai recarregar na madrugada, quando o consumo de energia pelas residências e estabelecimentos comerciais é menor.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes

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