TARIFA ZERO: Especialistas defendem que gratuidade seja em trilhos e ônibus para não haver migração entre meios de transporte coletivo 3s621d

Mais corredores e terminais também serão necessários para atender adequadamente demanda de ageiros que deve aumentar

ADAMO BAZANI

Um grupo de especialistas, que defende a viabilidade da gratuidade para todos os ageiros em São Paulo, é categórico em afirmar que o programa “tarifa zero” deve ser concomitante para ônibus e sistema de trilhos para não haver a migração entre diferentes meios de transporte coletivo.

Esta foi uma das 10 dúvidas levantadas em artigo publicado pelo Diário do Transporte no dia 03 de maio de 2023 sobre as dificuldades para implantar a gratuidade total.

Relembre:

/2023/04/21/onibus-em-sao-paulo-no-discurso-tarifa-zero-na-pratica-meta-de-ampliacao-de-via-atendidas-cancelada-e-frota-menor/

Os especialistas não só defendem a gratuidade total nos trilhos e nos ônibus municipais da capital paulista (SPTrans), mas também em regiões metropolitanas; o que envolveria no caso de São Paulo,  39 prefeituras e o Governo de São Paulo, não somente com metrô, monotrilho e trem, mas ônibus e trólebus (Corredor ABD), gerenciados pela EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos).

Isso dependeria de diálogos entre prefeitos, governador e diferentes donos de empresas de ônibus e concessionários de trilhos.

As respostas são assinadas por Lucio Gregori, que foi secretário de transportes na gestão da prefeita da capital paulista Luiza Erundina, além de Mauro Zilbovicius, José Jairo Varoli e Marcia Sandoval Gregori.

Quanto ao custo do “tarifa zero” e o aumento dos recursos necessários para bancar os serviços, os especialistas não falam em números. Afirmam que “o aumento do custo só poderá ser calculado precisamente quando o custo efetivo for feito, ou seja, depende de se saber ao certo qual é o custo hoje, quer dizer, de se abrirem as planilhas das empresas”.

Sem aumento de demanda, frota e quantidade de motoristas, somente as operações dos ônibus municipais da capital paulista deve custar R$ 12 bilhões.

Os técnicos também são unânimes em afirmar que o aumento da demanda dos transportes públicos vai requerer ampliação da infraestrutura com mais terminais e corredores de ônibus.

Todos procuraram o Diário do Transporte e fizeram o texto em conjunto

Veja as respostas na íntegra:

1 Tarifa zero vai aumentar em quanto a demanda de ageiros dos ônibus?

Não dá para saber, mas nas cidades que já adotaram a Tarifa Zero a demanda duplicou ou triplicou. Seria estranho se não aumentasse, porque a tarifa é a grande reguladora da demanda.

2 Vai ter de aumentar a frota em quanto?

Vai depender de cada cidade, mas o sistema deverá ser dimensionado para atender à demanda respeitando índices de qualidade, como tempo de espera nos pontos e terminais, número máximo de ageiros por metro quadrado em horário de pico, entre outros.

3 Este aumento de frota vai significar um custo total do sistema maior que os R$ 12 bilhões de hoje em quanto?

O aumento do custo só poderá ser calculado precisamente quando o custo efetivo for feito, ou seja, depende de se saber ao certo qual é o custo hoje, quer dizer, de se abrirem as planilhas das empresas.

4 Mas não é só a frota: a cidade está preparada para receber (de forma eficiente – destaca-se) mais ônibus? – Terá de reformular linhas? Os terminais e corredores de ônibus atuais são suficientes para uma frota maior?

Tudo isso não é premissa, é consequência da Tarifa Zero. É preciso, inicialmente, dimensionar o sistema. Será necessário construir mais corredores e fazer uma opção RADICAL pelos transportes coletivos. Independentemente da Tarifa Zero, essas obras deverão ser feitas. Espaço existe, mas está ocupado por automóveis. Lembremos que em janeiro de 1991 a prefeitura de Luiza Erundina colocou 1000 ônibus a mais em uma frota de 8000 em 1989 e tudo deu certo. Em setembro de 1992 a frota chegou a 10 mil ônibus e o sistema foi o mais bem avaliado de toda a história dos transportes coletivos paulistanos.

5 Vai ter migração de ageiros do metrô, trem e ônibus metropolitanos se estes não tiverem tarifa zero? Por exemplo, hoje, como Bilhete Único, o ageiro pode pegar o sistema de trilhos e ônibus de forma integrada. Se os ônibus forem de graça e o metrô/trem não, será que as pessoas não vão preferir usar mais linhas de ônibus, mesmo que demore mais, para não pagar o deslocamento.

Se a implantação se der apenas nos ônibus, provavelmente haverá migração. Mas o projeto da Tarifa Zero prevê que ela seja adotada no sistema como um todo, inclusive nas regiões metropolitanas.

6 Antes de pensar em tarifa-zero, não seria melhor tornar o sistema de ônibus mais racional (não confundir com meros cortes de linhas) para não se subsidiar a ineficiência?

A Tarifa Zero é que fará essa racionalização, uma vez que não mais haverá linhas “rentáveis” e “não-rentáveis”, uma distorção causada pela remuneração por ageiro, o que não existirá na nova forma de contratação.

7 O debate de tarifa zero não está sendo um “colocar a carroça antes dos bois”, deixando para trás questões mais urgentes, como reorganizar as linhas e os serviços, ampliar a tecnologia de gerenciamento e monitoramento e também aumentar a qualidade e dar mais infraestrutura para os ônibus que não fluem porque ficam presos no trânsito e possuem pouca prioridade no espaço urbano pela quantidade de frota e de pessoas atendidas (que vai aumentar com uma eventual tarifa zero)?

Como dissemos acima, na verdade todo o sistema deve ser revisto e a Tarifa Zero irá pressionar neste sentido, porque ela é a opção radical pelos transportes coletivos na disputa pelo espaço viário.

8 São Paulo está trocando ônibus a diesel por ônibus elétricos que custam até três vezes mais e necessitam de uma infraestrutura de recarga e distribuição de energia que não existe na cidade. Até a consolidação de uma frota elétrica, isso vai representar um custo muito alto para o sistema vai demandar financiamento só para este fim. Quanto seria este custo e será um dinheiro só para financiar a aquisição, implantação de infraestrutura e operação dos ônibus elétricos?

A Tarifa Zero e a renovação da frota são dois problemas diferentes. A substituição dos veículos por outros q sejam limpos, híbridos a etanol, a hidrogênio, elétricos com bateria ou mesmo trólebus é uma questão fundamental e urgente mesmo para a situação atual. Na Tarifa Zero, o aumento de frota necessário será com ônibus limpos. Isto será exigido e remunerado para os operadores. E com o aumento da demanda os preços altos de hoje tendem a baixar.

9 O custo dos terminais a mais necessários para uma demanda e frota maiores terão financiamento próprio ou entram na conta do tarifa-zero?

Terão financiamento próprio. Mas serão mais baratos porque seu funcionamento será muito mais simples (sem separação entre quem pagou e quem não pagou). Além disso, as receitas de aluguel dos terminais aumentarão muito com o aumento de ageiros.

10 Como será o controle de demanda? Haverá uma bilhetagem específica com cotas mensais (como é dos idosos entre 60 anos e 64 anos) para coibir fraudes e uso irresponsável do sistema de ônibus?

A Tarifa Zero não pressupõe controle de ageiros porque é universal. De resto, nas cidades em que foi implantada, não foi preciso fazer nada a esse respeito. Além disso, pensar em “uso irresponsável do sistema” é preconceito pois supõe que os cidadãos vão utilizá-lo sem necessidade. Afinal, quem decide o que é e o que não é necessário? A primeira experiência de grande escala da Tarifa Zero se deu nas eleições de 2022 em São Paulo e em muitas outras cidades brasileiras, quando não se registrou um caso sequer de uso “irresponsável” dos ônibus, seja lá o que se entende por irresponsabilidade nesse contexto.

 

Nota do Diário do Transporte: Vale ressaltar que as respostas e posicionamentos dos especialistas não retrata necessariamente a posição do site, que ouve dá voz às diversas vertentes e opiniões sobre os mais variados temas relacionados à mobilidade.

 

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários 72495v

  1. João Luis Garcia disse:

    Antes da implantação da tarifa zero “ que não será zero, pois alguém ou alguns pagarão “ creio que o mais importante e urgente para o sistema de transporte das grandes e médias cidades, seria um estudo de todo o sistema.
    Hoje existem muitas sobreposições de linhas que acabam por encarecer em muito o valor do subsídio pago pelas prefeituras.
    Não é possível vermos veículos de uma determinada operadora X rodando totalmente fora da área operacional e pior, com pouquíssimos ageiros e mais grave ainda quando esses veículos são Articulados, Super Articulados.
    Ora essa linha já não deveria mais existir.
    O empresário deve pensar muito mais na racionalização da operação do que no número de veículos que possuí.
    Hoje mais do que nunca o custo de operação é o maior desafio a ser trabalhado.

  2. Marcos Fonseca disse:

    Algumas dúvidas…
    Como será remuneração das empresas se for implantado a tarifa zero?
    Controle para remuneração das empresas como será feito? (KM, frota a disposição da operação, indicadores de qualidade…)

  3. laurindo junqueira disse:

    A “Tarifa Zero” parece uma boa intenção. Mas, como dizem vários pensadores renomados, além da Bíblia, de boas intenções é feito o caminho das trevas. A TZ parte de um pressuposto equivocado: não é a sociedade como um todo que deve arcar com o custo da circulação urbana. É o sistema produtivo (indústria, comércio, serviços), a quem se deve o principal motivo de viagem dos cidadãos (além de gerar picos de demanda). O sistema de transporte francês adotou esse princípio (“Versement Transport ” – Taxa de Transporte) desde os anos 1960 (com De Gaulle) e construiu aquele que foi por décadas o melhor sistema de transporte urbano. Abçs.

  4. alex disse:

    esses especialistas de obra pronta…

  5. Regis Campos disse:

    Nada é de graça…

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