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HISTÓRIA: A paixão do motorista que desenha ônibus 2uv4z

Alguns dos desenhos de Hugo Romano j3ep

Hugo Romano cultivou desde criança o sonho em trabalhar no transporte de pessoas. A determinação foi tamanha que, depois de muita persistência e humildade para aprender, conseguiu entrar numa companhia de ônibus. Agora, todo este gosto, ele concretiza em forma de desenhos

ADAMO BAZANI

“Eu era um encarregado de caixa central em uma grande rede de varejo, optei a começar do zero na empresa de ônibus do grupo onde estou hoje, iniciando na limpeza e hoje estou como motorista, uma profissão linda e desejada, porém com muitas responsabilidades, pois transportamos vidas”

É com essa frase que o motorista de ônibus Hugo Romano, de 40 anos, resume como é conciliar paixão e responsabilidade no exercício da profissão.

Esse gosto pelos transportes, entretanto, vai além da dedicação para que o trabalho seja prestado com cautela e qualidade e se materializa em forma de desenhos.

Hugo Romano é o motorista que desenha ônibus e expressa os sonhos de infância que hoje se tornaram realidade.

O Diário do Transporte bateu um papo com o condutor, que hoje trabalha na empresa BR7 Mobilidade, do sistema municipal de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, região onde começou a gostar de ônibus.

Os desenhos expressam os detalhes dos veículos e possibilitam uma viagem no tempo.
São empresas e pinturas do ABC de diversas épocas. A variedade dos modelos também é grande, com destaque para urbanos e fretamento.

Tudo fruto de uma paixão marcada pela persistência. Ao completar 18 anos, Hugo Romano tentou entrar em na Viação Santa Paula em São Caetano do Sul como cobrador. Não conseguiu e precisou partir para outro ramo para ajudar a sustentar a família. aram quase 15 anos e o sonho não envelheceu. Em 2012, conseguiu entrar como lavador de ônibus na Diastur, de São Bernardo do Campo, onde foi crescendo na carreira até conseguir ser motorista.

Veja alguns dos desenhos logo após a entrevista.

As imagens foram enviadas pelo próprio Hugo Romano.

Hugo Romano ao volante do ônibus na empresa que atua hoje em dia: BR7 Mobilidade, de São Bernardo do Campo

 

Como começou seu gosto por ônibus?

Desde a minha infância, eu morava no Jardim Petroni, em São Bernardo. Na época havia poucos sobrados construídos e do quintal da casa onde eu morava, tinha uma visão panorâmica da Rua dos Vianas. De longe e eu ficava observando os ônibus a circularem na via e também tinha a vista do ponto final do Jd. Farina, nessa época era a extinta Viação Cacique e também tinha a visão da garagem da extinta Turismo Uematsu onde se encontra hoje um Atacado de Alimentos. Estudei na escola do lado dessa garagem (E.E.P.G. Profª Maria Therezinha Besana), e da janela eu e meus colegas de sala ficávamos olhando os ônibus arem. Lembro-me que aos seis anos de idade eu ganhei do meu pai um Expresso Brasileiro de Brinquedo da Brinquedos Bandeirante. Eu ia para o Centro tanto de São Bernardo como outras cidades da Grande São Paulo e observava as cores das empresas na época, cada uma tinha a sua que era uma maravilha e os modelos de carrocerias eram variados.

Como ingressou no setor de transportes?

Eu ingressei no transporte um pouco tardiamente, aos 18 anos tentei entrar na Viação Santa Paula, em São Caetano do Sul, como cobrador.  Lembro que todas às terças-feiras e quintas-feiras, ia levar a minha carteira de trabalho, no primeiro dia fiz a ficha, me mandaram aguardar, mas dois meses depois comecei a persistir. O pessoal da empresa gostou da minha persistência, mas me falaram que eu não tinha a idade suficiente. Precisando trabalhar, entrei no comércio varejista, setor que fiquei por doze anos; de onde saí de líder de caixa central. Após esse período, entrei na Diastur Turismo, em fevereiro de 2012, de lavador. É estranho, mas como eu tinha um sonho de ser motorista, resolvi começar de baixo, o meu objetivo era conseguir entrar lá e depois ir crescendo na empresa e foi o que aconteceu. Entrei com categoria B na CNH, ei a trocar os discos dos tacógrafos da frota por um ano, depois fiquei mais um ano na vistoria de avarias; foi quando eu ei para a Categoria D na CNH e fui promovido a motorista. Fiquei por seis anos na Diastur até 2018, ano que mudei para a SBCTrans (hoje BR7 Mobilidade), empresa do mesmo grupo, e estou até hoje.

Do que você mais gosta do setor de transportes?

O que eu gosto mais do setor é fazer parte da operação do transporte, principalmente na função de condutor de ageiros, onde eu me desloco de um local para o outro, sem ficar fixo em um determinado lugar, assim o tempo a rápido e torna a jornada de trabalho mais agradável.

Como começou a desenhar e pintar ônibus?

Comecei a pintar e desenhar ônibus, na verdade fazendo uns ajustes nas carrocerias prontas em branco. Eu não tenho curso de informática, nem se quer entrei numa escola para aprender a ligar o computador. Ganhei um computador velho de um amigo Windows 97, isso em 2005, morava no prédio do Rods Plaza ao lado da Rádio ABC (avenida Pereira Barreto, em Santo André), que pertencia ao ex patrão do meu pai. Eu tinha uns 25 anos, trabalhava no ramo do varejo como fiscal de caixa, foi quando eu achei um simples desenho de um ônibus no programa aí eu comecei a fazer as pinturas das empresas neste desenho, ficava horrível, mas ia me aperfeiçoando pouco a pouco. Hoje não tenho mais estes desenhos que foram perdidos por um problema no HD . Em 2007, fui ter o o direto á internet só em Lan House. Daí achei a página Guarubus, do William de Queiros, de Guarulhos, onde vi vários desenhos de ônibus antigos da Grande São Paulo, inclusive do ABC, e tinha os desenhos em branco e comecei a fazer as pinturas neles. Não ficava legal ainda, mas já estava melhor que o anterior. Observando os desenhos, tentando montar outros que não tinha. Percebi algo, um ano depois, nesta página que nunca pensei que acharia acabei encontrando: as fotos de ônibus antigas. Foi aí que nasceu a Bus ABC, através de fotos coletadas, a maioria do Mario Custódio e do Douglas de Cezare. Comecei, então, a baixar os desenhos de carrocerias em branco, os chamados croquis, e a elaborar os meus desenhos de ônibus antigos das empresas que operavam e operam ainda hoje no ABC Paulista. Trabalho no programa Paint, onde são feitos ajustes no modelo, como mudança de porta, janela. Demora um pouco, mas fica bem melhor do que no começo. Acho que é um dom, pois não tenho um curso sequer. ado o tempo, eu aprendi a usar métodos como Power Point para dar umas melhoradas nos gráficos e hoje continuo fazendo vários desenhos.

Ao longo do tempo, qual modelo de ônibus mais te marcou e por que?

 O modelo de ônibus que me marcou foi, o Caio Gabriela II Mercedes-Benz OF 1113. Marcou por ser um modelo que acompanhou a minha infância e adolescência, a simplicidade da carroceria o seu formato quadrado, os bancos vermelhos das maiorias que rodavam pelo meu bairro, sempre fica na lembrança, hoje os ônibus são modernos, freios ABS, letreiros digitais, elevadores para cadeirantes e etc, mas nunca chegarão ao glamour do Gabriela.

Uma mensagem para quem gosta de ônibus

A mensagem que eu deixo para aqueles que iram e gostam de ônibus, que nunca deixem esse hobbie maravilhoso. Uns acham estranho, mas cada um tem seu gosto e sua preferência. Eu era um moleque que pegava as caixas de cremes dentais e fazia um ônibus pra brincar até eu ganhar o meu primeiro ônibus de brinquedo. Desenhava ônibus nos papéis de cadernos da escola, sonhava em ser motorista e hoje o sonho se concretizou. Digo mais, a maioria daqueles que gostam de ônibus tem o sonho de ser motorista. Não é fácil alcançar este sonho, mas também não é impossível. Eu era um encarregado de caixa central em uma grande rede de varejo, optei a começar do zero na empresa de ônibus do grupo onde estou hoje começando na limpeza e hoje estou como motorista, uma profissão linda, desejada, ostentada, porém com muitas responsabilidades, pois transportamos vidas, nunca desistam de sues sonhos, lute batalhe e conquiste.

 

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

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