Crônica de jornal de 1945 mostra que as condições do transporte coletivo lotado proporcionavam o avanço de uma epidemia
ADAMO BAZANI
“Evitar filas, cinemas … tudo quanto seja reunião”.
“No transporte coletivo, o que se verifica em terminais de linha é assustador ….E o acúmulo de ageiros (…) em certas linhas? Os ageiros têm pressa e se sujeitam a viajar como sardinhas, esbarrados, comprimidos, sofrendo toda a sorte de incômodos …. não há meios de obedecer às prescrições da Saúde Pública. Como é que pode a gente fugir à aglomeração, se não há saída diferente?”
As frases parecem ser do atual contexto da pandemia do coronavírus, que teve origem na China, e assola o mundo.
Recomendações para evitar as aglomerações e a queixa de quem depende de transporte, a lotação em época de epidemia, também são retratadas.
Mas as frases pertencem a uma crônica de 04 de agosto de 1945, assinada por Antonio Constantino, no jornal A Gazeta.
O relato era a respeito de uma epidemia de gripe, que, segundo o texto, teve origem na Itália , com consequências bem mais brandas que o atual coronavírus, responsável pela Covid-19 e que surgiu na China.
Mas as semelhanças do texto de 1945 com o momento atual revelam problemas antigos da vida urbana que contribuem para a queda na qualidade de vida e disseminação de doenças. Um destes problemas é a condição dos transportes públicos.
O excesso de lotação é um dos principais propagadores de doenças e desconforto, apontam autoridades de saúde de todo o mundo.
Não se fala em lotação, pessoas sentadas e em pé, mas com o mínimo de dignidade. Demanda de ageiros dá a sustentabilidade financeira dos sistemas.
O problema que se vive nos principais sistemas de transportes é a superlotação e falta de higienização adequada dos ônibus, trens e metrôs.
Na época atual, de coronavírus, o que se vê na maioria das vezes são ônibus e trens vazios, muito embora haja lotação em horários de pico com a redução da frota pela queda de demanda, contrariando as recomendações da OMS – Organização Mundial da Saúde.
Os ônibus e trens estão sendo higienizados mais vezes, não somente em pátios e garagens, mas durante a operação.
Mas e quando a pandemia do coronavírus ar (esperamos que os governantes tenham cérebro para que isso seja o mais breve possível)?
Os ônibus e trens continuarão abarrotados e sujos?
Não aprendemos com as epidemias anteriores. Aprenderemos com esta?
O Diário do Transporte agradece ao colaborador e pesquisador Mário dos Santos Custódio que nos enviou o material originalmente publicado no site São Paulo Antiga. O acervo é da Fundação Energia e Saneamento.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes