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Linha 18 do ABC: Trocar modal não vai exigir estudos do zero e custos de operação devem interferir na decisão, diz executivo de Consórcio ABC 523g71

Secretário-executivo do Consórcio Intermunicipal Grande ABC conversa com repórter do Diário do Transporte e comentarista de mobilidade da Rádio ABC, Adamo Bazani. Foto: Janete Ogawa – Radio ABC / Clique para Ampliar 41175z

De acordo com Edgard Brandão, do Consórcio Intermunicipal do ABC, traçado da linha 18 Bronze não foi pensado apenas como monotrilho

ADAMO BAZANI

O prazo de 90 dias anunciado pelo governador João Doria em março para a definição de eventual troca de modal da linha 18-Bronze, proposta como monotrilho, está se encerrando e a população do ABC ainda tem muitas dúvidas sobre qual meio de transporte pode ser o mais adequado para a ligação de 15,7 km entre São Bernardo do Campo, Santo André, São Caetano do Sul e a estação Tamanduateí, da linha 10-Turquesa da TM e da linha 2-Verde do Metrô.

Na manhã desta terça-feira, 21 de maio de 2019, o secretário-executivo do Consórcio Intermunicipal ABC, entidade que reúne prefeitos da região, Edgard Brandão, conversou com o Diário do Transporte e com a Rádio ABC e garantiu que, se eventualmente, o Governo do Estado optar por uma troca de modal, não será necessário começar os estudos do zero.

Isso porque, segundo Brandão, a possível viabilidade de outros modais já foi estudada e não é de hoje que os técnicos cogitam outros meios de transporte além do monotrilho.

“O consórcio participa desde o início dos estudos, o que não é uma coisa recente, já tem mais de seis anos, inclusive, este movimento. Foram feitos até comparativos de BRT (corredores de ônibus de maior capacidade e velocidade), VLT – Veículo Leve sobre Trilhos, Metrô Tradicional ou mesmo o monotrilho que é uma das propostas que tem.”

Formando em engenharia e tendo atuado em prefeituras e órgãos públicos, Brandão disse na entrevista que já há, inclusive, estimativas de custos prontas sobre cada opção de transporte.

“Os estudos estão lá, a decisão técnica é o que menos deve estar preocupando agora. Não é que vamos mudar o modal e ter de estudar tudo de novo. Isso não é verdade. Você já tem este indicativo, inclusive financeiro. Evidentemente que é uma estimativa em dólar, sempre que você faz, mas já há, em nível mundial, tem valores médios de investimentos.”

O executivo do consórcio de prefeitos do ABC disse ainda que não basta levar em conta os investimentos de implantação para qualquer modal, mas principalmente os custos de operação e o retorno destes investimentos. Quanto maior forem estes custos e a complexidade, segundo Brandão, o Estado vi ter de subsidiar este modal, seja por injeção direta de recursos ou reequilibrando o contrato em prol do parceiro privado de uma PPP.

Não é um investimento que retorna de imediato. Outra coisa, no sistema de transporte não pode dividir a agem que depois for cobrada pelo custo do investimento. Os governos têm de assumir muito isso. Existe um estudo, muito antigo inclusive, mundialmente conhecido, que diz que a agem do Metrô tradicional quando chega a US$ 1 só mantém a operação e não amortiza nenhum centavo do investimento, que acabam sendo dos governos mesmo. Então, quem é que vai assumir isso? De onde virão estes recursos?

Entre as duas opções que têm ganhado mais força estão a manutenção do modelo de monotrilho ou a criação de um sistema de ônibus rápidos de maior capacidade que os corredores comuns, chamado de BRT – Bus Rapid Transit.

Brandão diz que entre um BRT e o projeto de monotrilho para a linha 18, não há muita diferença da demanda que será atendida. O importante, para  o executivo, é que seja qual for o modal para a linha, haja uma integração com as linhas municipais de ônibus, o que não existe hoje na região com o Corredor ABD, de ônibus e trólebus, operado pela empresa Metra.

“A demanda não muda, ou muda muito pouco. Mas é importante dizer que 74% das linhas urbanas [ônibus municipais] na região interferem com o modal da linha 18. A ideia é fazer as transferências mesmo, que é o que você não tem hoje no sistema do trólebus. O que falta hoje no trólebus é ter a transferência das linhas urbanas normais para o sistema da Metra.”

O secretário do consórcio de prefeitos diz ainda que não sabe como será resolvida a questão jurídica em caso de troca de modal.

O consórcio VemABC , que assinou  contrato para o monotrilho em 22 de agosto de 2014, diz que já investiu R$ 5 milhões dos R$ 38 milhões previstos para a fase anterior às obras.

Relembre:

/2019/02/26/consorcio-vemabc-ja-gastou-mais-de-r-5-milhoes-em-linha-18-e-diz-que-pode-entregar-monotrilho-seis-meses-antes-do-projeto-original/

Na semana ada, ao jornal Diário do Grande ABC, o presidente do VemABC, Maciel Paiva, disse que o consórcio não descarta ir à justiça caso haja troca de modal.

A Linha 18-Bronze foi projetada inicialmente para ser um sistema de monotrilho, que deveria estar pronto entre o final de 2015 e o início de 2016. O projeto chegou ao quinto aditivo e ainda não há definição sobre o início das obras.

O maior obstáculo é o financiamento das desapropriações para a implantação dos elevados para os trens com pneus e as estações. Nas contas do Governo do Estado de São Paulo, estas desapropriações devem custar aos cofres públicos em torno de R$ 600 milhões.

Em 2014, o monotrilho da linha 18-Bronze tinha uma previsão de consumir R$ 4,69 bilhões (R$ 4.699.274.000,00) para ficar pronto. O valor, de acordo com a atualização do orçamento pelo Governo do Estado, pulou para R$ 5,74 bilhões (R$ 5.741.542.942,61), elevação de 22,18%.

Os dados são da Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos e foram obtidos pela reportagem do Diário do Transporte por meio de Lei de o à Informação no início do ano.

Isso significa que cada quilômetro do monotrilho do ABC custaria, se saísse hoje do papel, R$ 365,7 milhões (R$ 365.703.372,14) – sem as correções entre janeiro e maio.

A demanda projetada pelo Governo do Estado para o monotrilho com toda a extensão concluída é de em torno de 340 mil ageiros por dia.

Ouça e Leia e entrevista na Íntegra com o secretário-executivo do Consórcio Intermunicipal ABC, Edgard Brandão:

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Diário do Transporte/Rádio ABC: (Introdução) Quais as atualizações dos estudos sobre a possível troca de modal da linha 18- Bronze que o Consórcio Intermunicipal ABC participa?

Edgard Brandão: O consórcio participa desde o início dos estudos, o que não é uma coisa recente, já tem mais de seis anos, inclusive este movimento. Na época, os técnicos do Consórcio, que é o Grupo de Trabalho de Mobilidade, e os técnicos das prefeituras de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e São Paulo também participaram destes estudos. Hoje, na realidade, estes estudos já estão completos e têm indicações de várias situações de modais. Não são estudos que foram indicativos de um único modal. Foram feitos até comparativos de BRT (corredores de ônibus de maior capacidade e velocidade), VLT – Veículo Leve sobre Trilhos, Metrô Tradicional ou mesmo o monotrilho que é uma das propostas que tem. Hoje, a participação do Consórcio mais é com o nosso presidente, Paulo Serra (prefeito de Santo André) junto com o governador João Doria. Já está no nível de decisão do governador, qual é o modal que a Secretaria de Transportes Metropolitanos vai escolher. Quem vai decidir hoje são os técnicos da secretaria. O consórcio pode contribuir com as informações, mas estas informações já têm todas. Já estão definidos custo, carregamento, desapropriação, que eu acho que é um problema importantíssimo e é uma das decisões fundamentais. Recentemente, não é mobilidade em si, mas interfere muito nesta questão, tem o piscinão Jaboticabal (que é previsto para evitar as enchentes dos córregos Jaboticabal, Ribeirão dos Couros e dos Meninos, que percorrem boa parte da linha 18). O valor deste piscinão é altíssimo e o governo vai ter de bancar tudo isso. Hoje estamos num nível de recessão econômica, não é fácil. Eu acredito até que o Ministério do Desenvolvimento Regional, que hoje embarca o antigo Ministério das Cidades, na questão de recursos tá muito em relação a isso. Acho que o Governo do Estado não tem por ele só recursos para bancar isso (a decisão sobre a linha 18). Tem de haver um aporte federal também. [Qualquer que for a decisão] tem de virar uma PPP – Parceira Público Privada. Já tem um contrato em andamento [com o Consórcio VemABC, responsável pelo monotrilho] e não sei como juridicamente resolveria. Mas acho que na istração pública tudo é possível.

Diário do Transporte/Rádio ABC: Em relação à questão financeira, é hoje o principal entrave ou principal desafio para a definição de um modal e também para a implantação deste modal?

Edgard Brandão: Talvez não seja o principal, mas numa época em que a economia está em baixa, e a recessão econômica é muito grande, acho que qualquer dinheiro faz falta. Até para governo. Não é um investimento que retorna de imediato. Outra coisa, no sistema de transporte não pode dividir a agem que depois for cobrada pelo custo do investimento. Os governos têm de assumir muito isso. Existe um estudo, muito antigo inclusive, mundialmente conhecido, que diz que a agem do Metrô tradicional quando chega a US$ 1 só mantém a operação e não amortiza nenhum centavo do investimento, que acabam sendo dos governos mesmo. Então, quem é que vai assumir isso? De onde virão estes recursos? Esse é um grande problema. O nosso Estado é muito bom economicamente, mas nós temos uma crise econômica que complica muito isso. A questão econômica não é uma decisão, mas interfere muito.

Diário do Transporte/Rádio ABC: Em relação ainda a custo. A gente tem o BRT que chega a ser mais barato que o monotrilho e o monotrilho que tem um custo mais elevado, mas tem em tese uma velocidade maior. Na questão do custo/benefício, o BRT seria vantajoso ou o monotrilho seria o mais indicado?

Edgard Brandão: Acho que na realidade, o que interfere nos modais é a velocidade de utilização dele. Você pode até fazer um comparativo com trem. Você pode ter um trem de altíssima velocidade e um trem rápido. Num modal de ligação de aeroportos, por exemplo, São Paulo – Campinas. Se você fizer em 40 minutos, a linha é boa. “Mas eu quero em 20 minutos” – Só que estes 20 minutos não interferem no final que você precisa para embarcar no aeroporto. No caso da linha 18, quando você tem um modal com uma velocidade menor, o ageiro na realidade se programa para isso. O ageiro vai ficar pouco tempo no modal que for escolhido, acho que essa é uma das questões. Nós temos na região o trólebus [Corredor ABD], operado pela Metra que atende muito bem, com muita qualidade o transporte. É possível. A demanda não muda, ou muda muito pouco. Mas é importante dizer que 74% das linhas urbanas [ônibus municipais] na região interferem com o modal da linha 18. A ideia é fazer as transferências mesmo, que é o que você não tem hoje no sistema do trólebus. O que falta hoje no trólebus é ter a transferência das linhas urbanas normais para o sistema da Metra.

Diário do Transporte/Rádio ABC: É claro que a decisão é do Governo do Estado, que tem de ser técnica, não política ou atendendo a grupos empresariais, pelo menos a gente espera isso, mas o Consórcio já sinaliza alguma preferência de modal?

Edgard Brandão: Não, porque os técnicos não estudaram um modal apenas. Fizeram um estudo técnico com a indicação de várias situações de modais, inclusive com velocidade, carregamento, a distância entre uma ou outra estação que muda um pouco, como vai ser essa interconexão com as vias urbanas com o próprio modal e as desapropriações que iriam interferir, mas isso tudo já está estudado. Hoje está nas mãos da secretaria de transportes e do governador e o presidente [consórcio] Paulo Serra está acompanhando. Os estudos estão lá, a decisão técnica é o que menos deve estar preocupando agora. Não é que vamos mudar o modal e ter de estudar tudo de novo. Isso não é verdade. Você já tem este indicativo, inclusive financeiro. Evidentemente que é uma estimativa em dólar, sempre que você faz, Mas já há, em nível mundial, tem valores médios de investimentos. É um valor muito alto. Não é que o dinheiro vai decidir, mas o recurso hoje é complicadíssimo.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

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