Pátio da Viação Campo Belo é amplo, o que facilita manobra, o estacionamento de uma quantidade maior de veículos e treinamento de motoristas com veículos de grande porte, como os gigantes ônibus biarticulados. Foto: Adamo Bazani 1f5z64
Consórcio 7 de São Paulo possui um dos mais organizados centros operacionais da Capital Paulista
Instalado numa das garagens da Viação Campo Belo, COC compartilha informações e ajuda nas operações de quatro empresas
ADAMO BAZANI – CBN
Abril de 2011: Neste mês, em seu mais recente balanço, a SPTrans (São Paulo Transportes), empresa responsável pelo gerenciamento e fiscalização dos serviços de transportes municipais de São Paulo, contabilizava uma frota de 14.981 veículos entre ônibus, micro-onibus e vans. Deste total, 8.974 ônibus do sistema estrutural, as linhas de maior demanda e importância operadas pelas 32 garagens da Capital Paulista. No sistema local, que inclui o serviço de cooperativas, linhas de bairro e de menor demanda, são 6.007 veículos.
Quem vê estes milhares de ônibus todos os dias nas ruas não tem a noção dos esforços e do número de profissionais necessários para que os veículos possam prestar serviços da melhor forma possível, apesar dos problemas no sistema de transportes.
São mecânicos, borracheiros, pessoal da limpeza, es, motoristas, cobradores, fiscais, gerentes, em resumo, um verdadeiro batalhão de profissionais. É uma dinâmica que faz com que qualquer um que e algumas horas dentro de uma garagem se sinta num universo à parte. Como se estivesse dentro de um sistema de engrenagem, no qual, se qualquer peça falhar, pode comprometer todo o funcionamento.
Com a cidade cada vez mais complexa, trânsito mais complicado e congestionamentos maiores, poucos corredores de ônibus e muita gente circulando, não basta colocar ônibus nas ruas.
É necessária agora inteligência de operação e gestão para que nada saia do controle e para que as respostas aos problemas sejam dadas de maneira rápida, na velocidade do cotidiano da cidade.
A tecnologia ajuda nesta gestão, desde que bem usada.
A reportagem esteve nesta terça-feira, dia 31de maio de 2011, na Garagem 02 da Viação Campo Belo, na Avenida Carlos Lacerda, no Jardim Rosana, zona Sul de São Paulo.
É neste local que funciona C.O.C. – Centro Operacional das Concessionárias, do Consórcio 7, que atende a Zona Sudoeste de São Paulo, com os ônibus pintados de vinho, na parte da frente.
O Consórcio reúne mais de 1600 ônibus em quatro empresas:
• Viação Campo Belo: 589 veículos
• VIP Transportes Urbanos: 570 ônibus
• Transkuba Transportes Gerais Ltda: 305 coletivos
• Viação Gatusa Transportes Urbanos Ltda: 260 ônibus.
O Consórcio, formado em 2002 para a reestruturação e licitação dos transportes na época, transporta 30 milhões de ageiros por mês em aproximadamente 150 linhas.
A sala é uma espécie de QG Central e um centro nervoso. Toda esta frota de ônibus é monitorada por GPS e a informações em tempo real sobre as principais ocorrências comuns nas ruas.
E os problemas não são poucos: carros, caminhões e ônibus quebrados que atrapalham o trânsito, semáforos com problemas, queda de motoqueiros, enchentes, manifestações, todo o cenário das cidades grandes e médias.
Cada uma destas quatro empresas de ônibus mantém funcionários neste Centro Operacional.
Sala do C.O.C – Centro Operacional das Concessionárias do Consórcio 7, formado pela Viação Campo Belo, Transkuba, Gatusa e VIP. É o centro nervoso do controle do complexo sistema de transportes. No Centro há representantes de todas as empresas formadoras. Computadores, transmissores, GPS e outros equipamentos de controle e gestão, além de profissionalismo, permitem respostas rápidas aos problemas cotidianos da cidade, como trânsito, acidentes, quebras e semáforos queimados. Foto: Adamo Bazani.
Há pelo menos dois computadores para cada companhia. Por eles, é possível acompanhar todas as linhas, uma linha só ou apenas um ônibus se for necessário.
Cruzamentos e semáforos, por exemplo, são identificados e numerados. Assim como pontos de parada e de referência.
Na sala há também um telão, com informações em tempo real, sobre os veículos e as linhas.
Além das informações nas telas dos computadores operados por cada empresa formadora do Consórcio, um telão mostra informações gerais, em tempo real, e específicas, de cada ônibus. As empresas atuam na verdadeira natureza de consórcio, compartilhando a aérea servida e cooperando entre elas quando necessário.
O motorista do ônibus por um equipamento no pode se comunicar com este centro de controle e os técnicos na hora são habilitados a dar soluções. Há possibilidade de se comunicar por voz com os motoristas.
Como é natureza de um consórcio, as empresas compartilham a região onde operam e se ajudam quando necessário.
Por exemplo, se o ônibus de uma viação quebrou, mas é o guincho de outra que está mais próximo e disponível, para ter agilidade no socorro, é este veículo que vai fazer a remoção do ônibus quebrado.
O sistema, que é municipal, está integrado com os centros da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e da SPTrans (São Paulo Transportes).
As soluções são compartilhadas.
No entanto, há muito em que avançar.
As empresas sentem falta, por exemplo, de plano de rotas alternativas em caso de acidentes e de emergência.
Se há algum acidente, por exemplo, que interdita por muito tempo a via, em vez de já haver uma rota paralela, as empresas têm de esperar uma autorização da SPTrans e da CET, o que em algumas vezes, pode demorar e deixar muitos ônibus “represados” a toa no congestionamento, sendo que poderiam continuar operando nas áreas não atingidas pelo problema pontual.
O COC do Consórcio 7 é integrado ao CCO – Centro de Controle Operacional – (Departamento de Tráfego) e outros setores, além da fiscalização de rua.
Os horários de pico são os que mais exigem concentração e esforço dos técnicos: das 05h30 às 08h30 e das 16h30 às 19h30.
EMPRESA PREZA PELA ORGANIZAÇÃO:
Frota deve ser a mais variada possível para os diferentes locais atendidos. Há corredores e vias que podem receber veículos grandes, como articulados e biarticulados e outras que exigem ônibus menores e mais robustos, como de motor dianteiro. Os dois recebem o mesmo cuidado na manutenção, respeitando-se, claro, as diferenças técnicas entre os modelos. Foto: Adamo Bazani
Este Centro Operacional das Concessionárias, do Consórcio 7, é instalado numa garagem que a a sensação de organização e limpeza, o que é perceptível logo na entrada, com o aspecto da recepção e a apresentação dos funcionários.
Em 2005, a Viação Campo Belo recebeu a certificação ISO 9001, de qualidade de serviços. Em 2010, foi certificada novamente.
Também no ano de 2010, a empresa recebeu a certificação ISO 14001 sobre responsabilidade ambiental e sustentabilidade.
Além de manter a frota com as regulagens de emissão de fumaça em dia, a empresa faz reuso da água, tratamento de efluentes e tem um poço próprio que economiza também a água, um líquido vital que corre risco no planeta justamente por conta do mau uso e da poluição.
O descarte de materiais como pneus inservíveis, óleos lubrificantes e de combustível e de outros referentes a manutenção e operação também é feito de maneira responsável.
As dimensões da garagem impressionam.
O pátio é grande, com pavimento especial para ar o peso dos ônibus, e também para abrigar os gigantes ônibus biarticulados, Volvo B 9 Salf (B 340 Salf)– Caio Top Bus, de 27 metros de comprimento, que há pouco tempo começaram a rodar pelas linhas da Garagem 2 da Viação Campo Belo, o que demonstra aumento de demanda nesta região.
O setor de manutenção é amplo e bem dividido. Há setores específicos para tipos de óleo, para pneus, reparos em funilaria e a mecânica é dividida entre a manutenção preventiva, que é realizada em etapas diferentes, principalmente em ônibus articulados e biarticulados, que são mais complexos, e a corretiva, em caso de defeitos e batidas. O intuito é não deixar o veículo parado muito tempo na garagem, apesar de haver uma frota reserva. Ônibus parado prejudica ageiros e também a rentabilidade da empresa.
Departamento de Tráfego ou Centro de Controle Operacional da Viação Campo Belo. É considerado o coração da empresa. Os profissionais que atuam no departamento têm autonomia na hora de tomar decisões e o relacionamento com outros departamentos internos, com a fiscalização de rua e os terminais deve ser intenso. Saber lidar com os diferentes tipos de personalidades, ao tratar diretamente com uma grande quantidade de funcionários, é um exercício diário. Foto: Adamo Bazani
O Departamento de Tráfego, ou CCO, é considerado o coração da empresa.
É um dos setores mais agitados.
Em todo o momento chegam motoristas e cobradores para pegarem suas escalas do dia. Estas escalas são planejadas para o mês, mas podem sofrer alterações repentinas, seja por conta de alguma demanda específica de ageiros ou problema na rua, ou pela falta de um motorista ou cobrador. Há uma equipe de reserva para estes casos.
O Tráfego deve manter constante relação e trocar informações com o COC, que é o Centro Operacional das Concessionárias, com a fiscalização de rua e com os terminais.
O departamento possui obrigações e deve seguir a política da empresa, mas é um dos que mais possuem autonomia para resolver problemas.
E às vezes são questões nada fáceis, como readequar a liberação dos ônibus, dos horários, decidir o que fazer em situações como acidentes, quebras e outras ocorrências.
Além disso, saber lidar com os diferentes perfis de pessoas.
Como é neste departamento que são informadas as escalas, é lá o contato maior com os motoristas e cobradores. E cada pessoa tem reações diferentes e disponibilidades variadas em relação a mudança de horários e alterações nas tabelas.
É necessário ter muito jogo de cintura.
Na ficha de cada motorista, que é identificado por um número, chamado chapa, há o horário de saída da garagem, e não dos pontos e do terminal.
Esse horário é calculado linha por linha com base na hora que o ônibus deve prestar serviço e o tempo que ele demora na viagem ociosa entre a garagem e o terminal ou ponto de início da linha.
Por exemplo. Se de um terminal, o ônibus deve sair às 16h00 e ele demora 20 minutos para chegar a este terminal, a ficha do motorista consta o horário de saída como 15h40. Normalmente neste tempo entre o terminal e a garagem é calculada uma tolerância mínima para evitar atrasos e já contanto com eventuais problemas nesta viagem ociosa, principalmente em relação ao trânsito.
Após ser verificado na parte mecânica, o ônibus para em frente ao departamento de tráfego. Lá, motoristas e cobradores fazem as últimas checagens operacionais, como no validador da catraca.
Eles também pegam as placas auxiliares conforme suas linhas, que são aquelas afixadas na lateral do ônibus, por exemplo, perto das portas, que informam o número das linhas e as principais avenidas e pontos de referência servidos pelos ônibus.
INVESTINDO NO SER HUMANO:
Funcionário da Viação Campo Belo ao lado o Quadro de Política e Objetivos para 2011. Valorização ao ser humano e plano de carreira é uma das características da empresa, que não faz grandes contratações de uma só vez e prefere fazer com que os profissionais já inseridos cresçam na companhia. Foto: Adamo Bazani.
Dificilmente a Viação Campo Belo faz grandes contratações de pessoal.
A empresa prefere formar profissionais dentro das garagens, com programas de capacitação.
Muitos completam o ensino oficial em escolas de supletivo, que têm convênio com a Viação Campo Belo, e outros recebem cursos profissionalizantes e treinamentos.
Depende da motivação de cada funcionário.
A política de crescimento profissional e valorização do ser humano é antiga na empresa e muitos cresceram por conta dela.
O gerente Adonias Souza dos Santos está há 17 anos no grupo da Viação Campo Belo.
Ele começou como motorista.
“Dirigia ônibus como Caio Gabriela, depois os Monoblocos da Mercedes Benz. Vi a evolução dos transportes e cresci na carreira. Bastante coisa evolui, problemas apareceram, mas soluções também” – recorda Adonias.
Ele destaca o desenvolvimento tecnológico como um dos pontos positivos entre os transportes de 17 anos atrás e os de hoje. Mas diz que em relação ao vandalismo, ainda o comportamento de alguns ageiros precisa mudar.
“Hoje nosso principal problema são os vidros riscados. Isso gera um gasto muito grande e tira o bem estar dos demais ageiros. Há espécies de grupos que querem deixar suas marcas com objetos cortantes nos vidros. O senhor Ruas (José Ruas Vaz – um dos maiores empresários de ônibus do País) recomenda que todos os vidros sejam trocados de madrugada, no mesmo dia do vandalismo. A frota deve estar apresentável” – revelou Adonias.
Ele estima que, por exemplo, de 40 ônibus que voltam das ruas, 23 têm alguma avaria por vandalismo nos vidros.
Nem sempre é possível fazer as trocas diárias, principalmente nos modelos mais novos e complexos, como os ônibus biarticulados, que por serem lançamentos, ainda não possuem tantas peças de reposição disponíveis. Além disso, a manutenção destes ônibus é bem mais cara e a frota de reposição para este tipo de ônibus é menor. Como são ônibus muito caros, eles são comprados na quantidade que a empresa precisa, embora haja reserva técnica dos modelos.
Por isso, Adonias pede a colaboração da população em não promover ou incentivar o vandalismo. É o próprio cidadão que vai sentir a falta do ônibus ou um veículo com sinais de vandalismo, o que diminuiu a sensação de bem estar nos transportes.
FALTA DE CORREDORES:
Uma das partes do setor de manutenção da Viação Campo Belo, garagem 2. O trabalho é intenso. Há as manutenções preventivas, que muitas vezes são realizadas em etapas por causa da complexidade de alguns modelos, como articulados e biarticualdos, e as corretivas, no caso de quebras ou acidentes. A ordem é não deixar ônibus parado por muito tempo para que nem o ageiro e nem a empresa sejam prejudicados, mesmo com a existência de frota reserva. Foto: Adamo Bazani.
As empresas do Consórcio 7 operam numa das regiões mais populosas de São Paulo. Além disso, o trânsito em algumas das vias está cada vez pior.
Entre os pontos de principal desafio é a Estrada o M Boi Mirim, por exemplo, onde ocorreram protestos por parte dos ageiros.
As empresas dizem que possuem todas as condições técnicas, de operação, de capacitação profissional e de frota para prestarem serviços.
Até mesmo os tão criticados ônibus de motor dianteiro estão em boas condições.
Mas o fato de as linhas de ônibus ainda não contarem com corredores e espaços prioritários deixam as operações mais caras, que refletem no bolso do trabalhador, e lentas.
É o que sempre se fala de questão de democratização do espaço urbano.
Ora, democracia é o sistema feito para o povo onde a maioria tem preferência.
Mas no trânsito, não é bem isso que acontece.
Um ônibus que transporta de 80 a 100 pessoas, dependendo da configuração, ocupando um espaço entre 12 e 15 metros, fica preso no trânsito e recebe a mesma atenção (ou menor) que um carro de eio que em seus 5 metros transporta no máximo 2 pessoas, já que quase nenhum carro anda com a lotação de 4 ou 5 ageiros.
Um ônibus pode substituir de 35 a 70 carros em média, o que auxilia no trânsito e na redução na emissão de poluentes.
Em corredor, um mesmo ônibus pode fazer as viagens de três ônibus que ficariam presos no congestionamento.
O sistema ferroviário, ao contrário do que muitos colocam, não é “inimigo” ou “concorrente” do ônibus. Ambos podem se complementar, sem necessariamente se sobrepor.
É uma questão de lógica. Há uma demanda que pode ser melhor atendida pelo trem ou metrô, mas há locais nas cidades que tecnicamente e financeiramente é impossível de os trilhos chegarem.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.