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SOBREPOSIÇÃO DE LINHAS DE ÔNIBUS GERA DISPUTAS NAS RUAS 2c1bs

Os ônibus aguardam as chegadas dos trens da TM para pegarem maior número de ageiros. Empresas andam praticamente juntas. Depois é necessário ficar esperando no ponto. Para pegarem ageiros antes da outra empresa, é comum haver uma disputa nas ruas, com direções perigosas e ultraagens proibidas. 213f1w

O Parque América é um dos locais onde a maior parte das ruas tem sobreposição de linhas., com serviços municipais e intermunicipais fazendo o mesmo trajeto. É comum um ônibus seguir o outro. Talismã diz que as linhas intermunicipais não podem se sobrepor a maior parte dos trajetos das municipais e que a prática tem prejudico a viabilidade econômica da empresa, que precisa manter outras linhas de difícil trajeto e de pouca demanda, já RIGRAS afirma que opera de acordo com as determinações da EMTU, empresa gerenciadora, há vários anos.

Empresa de Rio Grande da Serra reclama de sobreposição de linhas por companhia de Ribeirão Pires
Viação Talismã afirma que tem perdido viabilidade econômica porque RIGRAS, com linha intermunicipal, faz o trajeto de dois serviços municipais. RIGRAS afirma que só cumpre o estabelecido pela EMTU

ADAMO BAZANI – CBN

A Viação Talismã, empresa que presta serviços municipais em Rio Grande da Serra, na Grande São Paulo, afirma que está sendo “sufocada” com o que considera concorrência desleal por parte de outra empresa de ônibus: a RIGRAS Transportes Coletivos e Turismo, com sede em Ribeirão Pires e que presta serviços intermunicipais em Rio Grande da Serra.
De acordo com a Talismã, que ganhou licitação em 2010 por 15 anos renováveis por mais 15 anos para operar os serviços municipais, a RIGRAS faz 100% do trajeto de duas linhas de ônibus municipais da Talismã, que são sobrepostas pela empresa intermunicipal.
As linhas afetadas são as que servem o Parque América e a Vila Niwa, as de maior rentabilidade para a Talismã.
Nos 9 quilômetros da linha Vila Niwa e nos 4,5 quilômetros da Parque América, ônibus municipais da Talismã e intermunicipais da RIGRAS percorrem praticamente todo o itinerário pelas mesmas ruas.
As da Talismã continuam na cidade e a as linhas da RIGRAS seguem para Ribeirão Pires: a 041 (Rio Grande da Serra – Vila Niwa / Ribeirão Pires) e 402 (Rio Grande da Serra – Parque América / Ribeirão Pires).
Além disso, segundo a Talismã, a linha da RIGRAS 117 (Ribeirão Pires / Santo André – Elclor, via Jardim Encantado) também interfere nos serviços municipais.
“Só queremos o que é de nosso direito, que é poder operar sem problemas, sem concorrência desleal e com tranqüilidade para programarmos nossos carros e horários. Essa concorrência é desigual, somos uma empresa menor, e as próprias normas da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) não permitem que linhas intermunicipais se sobreponham por longo trecho ao itinerário das linhas municipais. Serviços intermunicipais são para ligar as cidades e os bairros devem ser atendidos pelas empresas municipais. Ocorre que a RIGRAS há mais de 10 anos entra nos bairros” – disse Leandro Ricardo Pereira, diretor da Talismã.
A RIGRAS diz que apenas cumpre os trajetos determinados pela EMTU e que no caso da linha 117 atendeu a uma solicitação da Prefeitura de Rio Grande da Serra.
“Não fazemos nada irregular. Esses trajetos são aprovados e determinados pela EMTU. Alguns são antigos inclusive. Sobre a linha 117, mais recentemente entramos no Jardim Encantado por uma solicitação da própria Prefeitura de Rio Grande da Serra, mas tudo autorizado pela EMTU” – explicou a gerente istrativa da RIGRAS, Deize Cristina Borba Barbosa.
Leandro Ricardo Pereira, da Talismã, afirma que a prática tem tirado ageiros e viabilidade econômica da empresa municipal.
“Deixamos de conseguir o equilíbrio no sistema e essa sobreposição de linhas tem prejudicado os investimentos da empresa. Essas nossas duas linhas que a RIGRAS se sobrepõe são as mais rentáveis, mas não conseguimos ter o retorno que esperávamos pelos investimentos que fizemos. Por conta da licitação, estamos com três ônibus comprados 0 km no ano ado e ainda estamos pagando os veículos, está tudo muito apertado. Isso não prejudica somente as duas linhas, mas o sistema municipal como um todo, já que somos a única empresa a operar municipais em Rio Grande da Serra. Há outras linhas que prestamos serviços cujo viário é complicadíssimo, com estradas de terra, atoleiro e buracos e pouca demanda. Essas outras linhas, para continuarem, precisam que a Vila Niwa e a Parque América sejam viáveis, afinal, ninguém quer operar estas linhas difíceis e de pouco retorno” – disse Leandro.
A Talismã operou 10 anos sem contrato na cidade de Rio Grande da Serra. O Ministério Público exigiu que a Prefeitura tivesse um sistema cuja empresa operadora fosse concessionária, cumprindo todas as obrigações e legislações sobre operação de transporte coletivo.
Em 2010, foi feita a licitação e a Viação Talismã foi considerada vencedora. A outra concorrente foi a Volare.

VELOCIDADE DE ÔNIBUS EM RUAS COM MÁS CONDIÇÕES E BUSCA POR AGEIROS TRAZEM RISCOS:

As ruas de paralelepípedo, esburacas, trechos de terra e nem a quase diária garoa que atinge Rio Grande da Serra deixando as pistas escorregadias são impedimentos para que os ônibus na Vila Niwa e no Parque América corram, não respeitem lombadas, parem em fila dupla, façam ultraagens perigosas e fechem os outros veículos em busca de ageiros que esperam as conduções nas mesmas ruas servidas pela RIGRAS e pela Talismã.
Foi o que constatou a reportagem que ficou das 14 horas às 18 horas desta sexta-feira, 13 de maio, percorrendo os itinerários das duas linhas, que são operadas pelas duas viações.
A RIGRAS faz 54 viagens por dia na Vila Niwa e a Talismã 56 viagens.
Em alguns momentos, não é necessário mais que dois minutos de espera entre um ônibus e outro.
O que parecia ser bom para o ageiro traz problemas.
Depois de os ônibus arem juntos, a reportagem flagrou veículos de uma empresa ultraando os da outra e parando em fila dupla, a espera é longa.
Não há uma distribuição entre os ônibus das duas empresas. Eles andam quase juntos, com muito pouca diferença, e sempre baseados nos horários dos trens da TM – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, que partem ou chegam da estação Rio Grande da Serra.
Flagrar os ônibus das duas empresas praticamente um atrás do outro não é tarefa muito difícil.
Mas depois para ver outro ônibus, é necessário esperar.
Alguns motoristas de ônibus afirmam estar estressados com a disputa, mas precisam cumprir os horários e pegarem ageiros.
De acordo com especialistas em transportes, a oferta maior de ônibus é sempre benéfica para o ageiro, mas as sobreposições de linhas não, ainda mais quando não há distribuição das partidas, afetando as finanças das empresas e a viabilidade operacional das linhas, que devem oferecer ônibus em intervalos intercalados e não de uma vez só, ainda mais com disputas nas ruas, que podem trazer riscos no trânsito.
Adamo Bazani, repórter da Rádio CBN e jornalista especializada em transportes

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