Trânsito complicado não é justificativa para moto e carro de eio invadir o corredor exclusivo de veículos que proporcionalmente levam até 70 vezes mais pessoas num espaço apenas 3 vezes maior. Mas quando não há trânsito, aí é que não dá para entender a atitude de motorista e motociclistas como este flagrado pela reportagem. Foto: Adamo Bazani 354zp
O carro pode ser sofisticado, mas a mentalidade de seu motorista parece ainda ser bem atrasada. A pessoa que estava conduzindo este veículo se esforçou ao máximo, invadiu o corredor de ônibus, depois saiu dele e parou no semáforo. Tudo isso para ficar à frente de outro carro e ganhar impressionantes 5 metros de vantagem no espaço urbano. Foto: Adamo Bazani
Enquanto o carro e a moto flagrados invadindo o corredor transportavam 1 pessoa cada, como visto pela reportagem, um ônibus como este, no pouco espaço que o transporte coletivo possui de forma prioritária pode levar mais de 100 pessoas. Foto: Adamo Bazani.
Bastam dez minutos
Falta de respeito é tão grande por parte de donos de carros de eio e motociclistas que uma paradinha no meio do caminho para respirar é suficiente para flagrar invasões em corredores de ônibus
ADAMO BAZANI – CBN
Dez minutos ou até menos. Foi este tempo o suficiente para a reportagem flagrar pelo menos quatro casos de abusos de invasões de motoristas de carros e motociclistas ao corredor da Vereador José Diniz, na zona Sul de São Paulo.
Nas proximidades da parada Estação de Transferência Joaquim Nabuco, a reportagem ficou parada, inicialmente para registrar fotos de ônibus para o acervo entre às 08h35 e 08h45, desta quinta-feira, dia 28 de abril de 2011..
O horário era de pico, mas o trânsito não apresentava problemas.
Não que isso seja justificativa para invasões de carros e de motos a corredores de ônibus. O transporte coletivo precisa ganhar prioridade há muito tempo. È uma questão de lógica, de mobilidade eficiente e até de democracia permitir que um veículo de 12 metros de comprimento que leva 70 pessoas ou até mais ter preferência no espaço urbano em comparação a outro veículo de 4 ou 5 metros mas que não leva mais de duas pessoas, que é a média de transporte dos carros de eio de São Paulo.
Mas se não é compreensível e aceitável o fato de um corredor que atende mais pessoas proporcionalmente por veículo ser invadido quando há congestionamento de carros de eio nas faixas ao lado, o que dizer então quando a via está livre?
É bem verdade que os corredores de ônibus ideais são os totalmente segregados do trânsito convencional, em espécies de canaletas separadas por canteiros, como ocorre com o BRT – Bus Rapid Transit – de fato de Curitiba ou com o sistema de ônibus e trólebus do Corredor ABD, entre São Mateus (zona Leste de São Paulo) e Jabaquara (zona Sul) ando pelos municípios de Santo André, Mauá (terminal Sônia Maria), São Bernardo do Campo e Diadema.
Mas, a questão não é uma mureta apenas.
É de educação e da arrogância sim que impera nos motoristas de carros particulares, não generalizando, é claro.
Várias pesquisas acadêmicas são claras ao afirmar que em países como no Brasil, cujo carro não significa meio de transporte, mas status, a pessoa que está em seu automóvel se transforma.
Acha que seu veículo é sua fortaleza e que pode tudo.
Só porque pagou por seu veículo, paga seus impostos e tem um objeto de desejo dos demais cidadãos (desejo não tão difícil mais assim de se conseguir) parece se achar um ser superior.
Soma-se a isso o jeito oportunista presente nos hábitos brasileiros. Quem nunca aproveitou um ônibus que ainda estava saindo do ponto, para dar uma cortada à direita?
Mas esses hábitos precisam mudar.
E isso ocorre com educação, conscientização, mas também punição, inclusive financeira.
O uso do cinto de segurança hoje é uma realidade não porque as pessoas sabiam que ele pode salvar vidas, mas porque tomariam multas.
A fiscalização em corredores até existe, não seria correto dizer que o poder público não acompanha a questão.
Mas tem sido insuficiente.
Em vez de se criar pegadinnhas para os motoristas em radares de velocidade, principalmente naquelas vias que mudam o limite de um trecho para outro, que tal punir os motoristas que querem fazer pegadinhas no espaço urbano e não respeitam a maioria que precisa de um transporte de massa com rapidez?
Esse comportamento do cidadão que deixa de se portar dentro dos parâmetros de cidadania quando assume o volante é amplamente discutido.
Um desenho clássico, o do “Pateta Motorista”, que fala do homem comum com inteligência razoável, gentil, amável, pontual e honesto, mas que vira uma fera ao assumir o controle do automóvel. Tudo pela sensação de poder.
É muito bom
Os corredores de ônibus, da forma como foram elaborados na Capital Paulista, já não apresentam a melhor velocidade média.
Sem segregação de fato do trânsito convencional, sem pontos de ultraagem para os ônibus, o que forma imensas filas nas paradas, atrasando os ônibus e dificultando os planejamentos operacionais dos veículos, os corredores apresentam velocidades médias que variam entre 12 e 19 km/h de acordo com dados da própria SPTrans, gerenciadora dos transportes municipais de São Paulo.
Um maratonista profissional corre a 20 km / h. Uma carroça puxada por dois cavalos atinge 26 km/h.
Especialistas dizem que a velocidade média que um ônibus deveria empreender num corredor ideal seria em torno de 25 km/h.
Se os problemas estruturais dos corredores, como a falta de pontos de ultraagem, são de responsabilidade do poder público, a invasão de carros e motos nos corredores é culpa sim do cidadão, ou melhor, do motorista do carro e do motociclista que não têm cidadania. E essas invasões agravam os problemas estruturais na medida que diminuem ainda mais a velocidade dos ônibus.
O corredor da Vereador José Diniz teve sua primeira fase inaugurada em 2004. Com 9,3 km de extensão, liga parte da zona Sul de São Paulo ao Metrô Santa Cruz e dá o ao Centro da cidade.
Ele contempla a Avenida Vereador José Diniz, Avenida Ibirapuera, Rua Borges Lago e Rua Pedro de Toledo.
Em 2008 recebeu melhorias.
Sua velocidade média é, no entanto, uma das mais baixas, com 12 km/h em vários trechos.
No entanto, os quase 700 mil ageiros atendidos por dia pelo corredor, mesmo assim agradecem sua existência, mas esperam melhorias.
Enquanto as melhorias ainda não vem e nenhum metro dos 66 quilômetros de corredores prometidos pelo Prefeito Gilberto Kassab não foi colocado em operação, não é demais pedir para o dono do carro respeitar o espaço da maioria e as leis de trânsito e não invadir uma área que não é a ele destinada.
Afinal, São Paulo tem mais de 17 mil quilômetros de vias para trânsito em geral contra 126 quilômetros de corredor só para ônibus.
O carro já tem bastante espaço, não seria nenhum sacrifício respeitar o veículo que transporta metade da população da cidade com menos de 1% de área destinada só para ele.
Adamo Bazani, repórter da Rádio CBN, jornalista especializado em transportes.