No próximo domingo, dia 27 de Março estará completando 43 anos que a cidade de São Paulo jogou fora a única linha de Veículo Leve Sobre Trilhos que poderia ter. Ou ,olhando por outro ângulo,foi nessa data, no inesquecível ano de 1968, que o Prefeito Faria Lima cometia a extinção da última viagem da ultima linha de bondes que ainda circulava na cidade, a linha 101-Santo Amaro-Biológico, comemorando esse irresponsável ato com banda de música e foguetório.
Inaugurada em 1913, a linha de Santo Amaro nascera como uma linha especial. Apesar de integrar a rede de bondes elétricos da cidade, implantada em 1900, ela não era uma linha comum por vários motivos. Primeiro, porque ela conectava dois municípios independentes, São Paulo e Santo Amaro, e por isso, ela era considerada uma ferrovia, e estava sob jurisdição estadual. Segundo, porque ela substituía uma limitada ferrovia a vapor que desde 1886 ligava os dois municípios, cujo serviço não mais correspondia aos desejos dos seus moradores.
Assim, a linha chega com um sabor de importante modernização na vida dos dois municípios.
Por ser considerada ferrovia, seus bondes eram obrigados a possuir alguns itens que os bondes urbanos não usavam, como um farol muito mais potente e apitos, que serviam de comunicação durante a operação. Alem disso alguns dos bondes de ageiros ofereciam serviços “misto”, ou seja, num mesmo veículo havia serviço de primeira e segunda classe, ou primeira e bagageiro.Para diferenciá-los dos bondes urbanos, a Light adotou nos veículos dessa linha uma vistosa cor amarela.
Como ferrovia, ela possuía um itinerário todo retilíneo, direto, entre o atual Instituto Biológico, na Vila Mariana, e Largo 13 de Maio, em Santo Amaro.Com a urbanização da região vizinha a essa ferrovia, seu traçado foi transformado nas atuais avenidas Ibirapuera e Vereador José Diniz.Seus trilhos eram assentados sobre dormentes aparentes, os bondes só realizavam o embarque e desembarque de ageiros em paradas específicas e nos cruzamentos ele tinha prioridade de agem.Alguns possuíam até cancelas.
Até o final de sua operação a linha manteve seu traçado exclusivo, o que assegurava velocidades entre as paradas superiores a 80 km/h.Nela operavam 25 bondes que transportavam diariamente 40 mil usuários, que, em pouco mais de uma hora, saiam de Santo Amaro e chegavam ao centro da cidade.
Faixa exclusiva, prioridade para ar nos cruzamentos, embarque e desembarque só em paradas definidas, tração elétrica, traçado reto entre Vila Mariana e Santo Amaro.
Faria Lima chegou a anunciar a inclusão na linha Norte Sul do Metrô do “ramal Moema”, que conectaria a estação Paraíso ao Largo de Moema.mas não teve visão suficiente para conectar a nossa primeira linha de metrô à nossa ultima linha de bondes.Que, na verdade, hoje sabemos que era , sem nunca ter sido, nossa primeira linha de Veiculo Leve Sobre Trilhos, os famosos “bondes modernos” ou “pré-Metrô”, que os países do primeiro mundo gastam milhões de dólares para implantá-los.
Ayrton Camargo – Arquiteto e Urbanista